07 Junho 2025
O Papa Leão XIV pode trazer uma visão única para o problema da polarização e na Igreja nos EUA, dizem analistas à OSV News.
A reportagem é de Kate Scanlon, publicada por National Catholic Reporter, 05-06-2025.
"Pelo que ouvi, Roma sempre está de olho na Igreja americana, mas isso não significa que o que está acontecendo nos Estados Unidos vá moldar a maneira como o Papa Leão XIII lidera a Igreja. No entanto, ele estará mais intimamente ciente do que está acontecendo neste país e mais sintonizado com as sutilezas culturais do que os papas anteriores", fala Maureen Day, pesquisadora associada do Centro de Religião e Cultura Cívica da Universidade do Sul da Califórnia e do Instituto de Estudos Católicos Avançados da mesma universidade, à OSV News.
Diversos estudos acadêmicos recentes mostram evidências de crescente partidarismo e polarização nos Estados Unidos. Uma análise do New York Times chegou a constatar que essas tendências são evidentes nos padrões de mudança de americanos para outros bairros, cidades ou estados.
Líderes católicos, incluindo os bispos dos EUA, também observaram essas tendências na Igreja americana.
O padre William Dailey, da Congregação da Santa Cruz, professor de direito na Faculdade de Direito de Notre Dame, disse que o novo pontífice "já me faz pensar menos sobre o que divide e mais sobre o que nos une e deve nos unir". Ele alertou contra olhar para o pontificado de Leão através de uma lente interna e lembrar que ele é o líder de uma Igreja mundial.
"Qualquer pessoa que venha de uma cultura específica tem uma boa chance de compreender suas nuanças e particularidades melhor do que alguém de fora, presumivelmente", disse ele. "Portanto, podemos imaginar que, ao trabalhar com os bispos dos EUA e ao nomeá-los, ele terá uma noção melhor do que o normal dos nossos desafios e de como poderá oferecer orientação. Ele também traz para essa conversa uma noção mais aprofundada da Igreja global do que muitos de nós aqui, o que pode ajudar a complementar seus insights sobre a Igreja dos EUA e o que podemos considerar desafios ou prioridades únicos para nós, mas que ele pode ver como parte de algo maior".
As visões políticas e sociais do ex-cardeal Robert Francis Prevost estavam entre os assuntos sobre os quais alguns católicos ansiavam por pistas quando ele se tornou pontífice. Uma análise de uma conta nas redes sociais anteriormente usada pelo agora papa, que criticava a política de imigração do governo Trump, mas também publicava críticas ao aborto e à pena de morte, pede um esforço maior para combater a violência armada nos EUA, bem como orações por cura e pelo fim do racismo após o assassinato de George Floyd, um homem de Minneapolis, cuja morte sob custódia policial gerou agitação.
Tanto o padre Dailey quanto Day sugeriram que, em cada um desses assuntos, as postagens sugeriam um alinhamento com os ensinamentos da Igreja.
Suas postagens "parecem que ele coloca a fé em primeiro lugar e deixa a política se encaixar", disse Day, enquanto o padre Dailey observou: "Há muito pouco em seus tuítes com sua própria voz, até onde posso perceber".
"Ele retuitou artigos que abordavam pontos básicos sobre a Igreja ser pró-vida no passado, e pontos básicos sobre a Igreja cuidar de imigrantes e dos pobres mais recentemente — isso não deveria polarizar os fiéis católicos", falou Dailey sobre o atual Papa Leão. "Imagino que ele concordasse com o conteúdo dos retuítes, mas não vejo isso como uma intromissão em política partidária naquela época, e duvido que o faça agora".
Day acrescentou: "Acredito que o Papa Leão será muito claro sobre o que a Igreja ensina, sem interromper as conversas com aqueles que veem as coisas de forma diferente. Num espírito de sinodalidade, acredito que ele desejará iniciar muitas conversas e abrir espaço para que as pessoas cresçam e nos surpreendam".
"Ele não está se esforçando para entusiasmar um lado ou outro", disse Dailey, argumentando que as primeiras ações do Papa Leão parecem ser "centradas em Cristo".
"Até agora, o tom que Leão estabeleceu tem sido interessante e tranquilo", disse ele. "Lembrem-se da grande festa em torno da escolha de Francisco por um nome único e por se vestir de forma um pouco diferente de seus antecessores — não é uma crítica a essas escolhas observar que as pessoas fizeram um grande alarde sobre elas (algumas felizes, outras infelizes), enquanto, até agora, com Leão, há uma sensação de que ele se entregou silenciosamente a este cargo único e incompreensivelmente exigente — não sem uma visão, mas sem causar impacto".
Day acrescentou que o falecido Papa Francisco "foi frequentemente descartado por aqueles que discordavam dele por simplesmente não entender o contexto dos EUA" e, para alguns desses críticos, quando o Papa Leão "opina sobre questões que estão ocorrendo na vida pública americana", eles podem vê-lo mais como uma voz que carrega "o peso de alguém de dentro".