04 Junho 2025
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 03-06-2025.
A Igreja não avança aos trancos nem por guinadas bruscas, mas por ciclos. Sua história recente é a melhor prova disso: primeiro, a tese do Concílio Vaticano II, com João XXIII e Paulo VI abrindo portas e janelas para o aggiornamento e a primavera eclesial; depois, a antítese da involução, com João Paulo II e Bento XVI esfriando o entusiasmo conciliar e reforçando o muro doutrinal; e, por fim, a primeira síntese com Francisco, que pôs novamente em movimento o trem da primavera, ativou processos e devolveu a esperança àqueles que sonhavam com uma Igreja circular, atenta aos sinais dos tempos e em saída.
Agora, com Leão XIV, entramos no que está sendo chamado de a era da segunda síntese. O que isso significa? Que a Igreja continua avançando, mas com outro ritmo, de outra maneira, com outro tom, com outro estilo. Se Francisco foi o papa da ruptura gentil e da misericórdia, Leão XIV será o papa da continuidade com marca própria, da concretude sem estridência, do diálogo e do sorriso, do fortiter in re, suaviter in forma (firmeza no conteúdo, suavidade na forma). Um estilo amável, próximo, sem rigidez nem gestos de confronto; governar com humanidade, empatia e bom humor — mesmo nas divergências.
Leão XIV não vem enterrar a primavera de Francisco nem devolver a Igreja à sacristia, mas sim consolidar os processos abertos e torná-los irreversíveis. E fará isso com moderação, cautela e delicadeza. Sem ferir suscetibilidades, sem excluir ninguém, sem deixar ninguém de fora do trem das reformas. A diferença estará no modo: mais diálogo, mais sorrisos, mais muzzetas e estolas (que tanto agradam aos conservadores), até mesmo voltando a viver no Palácio Apostólico e a passar os verões em Castel Gandolfo. Porque a mudança não está na indumentária nem na residência, mas no coração e na direção do processo.
Leão XIV sabe que a Igreja é um poliedro, não uma pirâmide. Que o centro se conquista, não se impõe. Que os extremos existem, mas a arte está em uni-los sem se indispor com nenhum deles. E sabe também que, como dizia Francisco, “o tempo é superior ao espaço”: o importante é colocar processos em movimento, não ocupar espaços de poder.
A segunda síntese será a das concretizações. É hora de fazer a sinodalidade aterrissar nas paróquias e dioceses, abrir caminhos reais para as mulheres, garantir tolerância zero com os abusos e continuar lutando por uma Igreja inclusiva, pobre e para os pobres. Mas tudo isso com um estilo mais institucional, mais diplomático, menos rupturista. Leão XIV não vem para fazer barulho, mas para tecer consensos. Para governar com autoridade moral, não com imposições. Se foi capaz de governar seus frades e a diocese de Chiclayo — marcada profundamente por décadas de bispos do Opus Dei —, por que não seria capaz de governar a Igreja universal?
Leão XIV conta com uma vantagem: tem tempo. E o tempo, na Igreja, é ouro. Pode-se permitir avançar sem pressa, consolidar cada passo, escutar a todos e deixar que os processos amadureçam. Porque sabe que as imposições duram pouco, mas os consensos perduram. Seu pontificado, que se prevê longo dada sua idade, será o da consolidação tranquila, da reforma sem rupturas, da Igreja do centro que não renuncia às periferias.
A segunda síntese será, sobretudo, a da inclusão. Leão XIV quer uma Igreja onde todos caibam: os nostálgicos da sacristia e os sonhadores da periferia; os que sentem falta do incenso e os que preferem o barro; os que rezam em latim e os que cantam em guarani. Um Papa para todos, sem inimigos, sem exclusões, sem rupturas. Um Papa que sabe que a Igreja é mais forte quando é mais ampla, mais crível quando é mais humilde, mais fiel ao Evangelho quando é mais humana.
Leão XIV, o papa da segunda síntese, tem diante de si o desafio de conquistar o centro sem perder a alma. E, pelo que vimos até agora, está mais do que preparado para consegui-lo.
O Papa Prevost pode conquistar o centro sem se indispor com os extremos, apostando em uma liderança de equilíbrio, diálogo e gestos inclusivos que buscam somar e não excluir. Seu perfil e as primeiras decisões mostram uma clara intenção de unir a Igreja, respeitando a pluralidade de sensibilidades e estilos, e evitando tanto rupturas quanto imposições abruptas.