17 Mai 2025
Uma esperança de paz existe, afirma Massimo Cacciari, filósofo e ex-prefeito de Veneza. É claro que devemos esperar que Zelensky “não siga o conselho desta Europa infeliz”, que ao longo dos anos “abriu uma escola de mentiras”, mas se Donald Trump e Vladimir Putin realmente chegarem a um acordo em nome da realpolitik, o resto poderá vir como consequência.
A entrevista é de Lorenzo Giarelli, publicada por il Fatto Quotidiano, 14-05-2025. A tradução é de Luisa Raboliuni.
Professor Cacciari, como o senhor vê a reaproximação às negociações de Istambul?
Se for uma mesa em que a Rússia e os Estados Unidos se sentarão com a decisão de encerrar suas hostilidades, podemos esperar algo.
O senhor fala de Rússia e de Estados Unidos, não de Ucrânia.
Deixemos os convidados de lado. A questão central é entre os Estados Unidos e a Rússia, depois vem o resto.
Parece-lhe que essa vontade existe?
Para os Estados Unidos, essa inimizade secular com a Rússia não faz mais sentido: é claro que ela não tem mais nada de imperial e, apesar de ser uma potência nuclear, não representa um perigo, embora seja obviamente não conquistável. E, portanto, poderiam ter interesse em fechar o jogo. Por outro lado, Moscou deve se convencer de que não pode mais ser aquela que invade Budapeste e Praga, para sermos claros. Deve reconhecer o erro colossal cometido com a invasão da Ucrânia e propor soluções concretas e realistas, que incluem o reconhecimento da soberania de Kiev, um acordo sobre o Donbass e, como condição sine qua non, que a Crimeia faça parte da Federação Russa. E também me parece razoável, se o princípio da autodeterminação dos povos ainda valer para alguma coisa.
O senhor fala de soluções "concretas". Essa parece ser a abordagem de Trump, não apenas na Ucrânia, mas também com o Irã e os países árabes. Mesmo ao custo de polêmicas pessoais, como aquelas sobre o Airbus recebido de presente do Catar.
Trump sabe que a competição global é com a China, e é por isso que tem interesse em encerrar a questão russa. Em Israel é mais complicado, também devido ao apoio incondicional a Netanyahu, mas, por exemplo, Trump teve interesse em impedir quaisquer ambições israelenses contra o Irã, sabendo muito bem que a situação poderia ter escapado ao controle dos EUA. E, portanto, a questão é pura realpolitik.
A Europa está certa em assumir uma posição mais intransigente?
A Europa está ausente nesse jogo. Falta a política europeia, falta a história de mediação que manteve até 20-30 anos atrás. Está presa neste juramento de seguir Zelensky sem reservas. Nos últimos anos, a Europa abriu uma escola de mentiras. Mentiras sobre tudo: sobre a origem desse conflito, sobre a construção desse inimigo universal que é a Rússia. Se estamos convencidos de que Moscou é uma ameaça, vamos lutar. Não vamos travar guerras por procuração, vamos enviar soldados franceses, alemães e italianos para a guerra, então quero ver o que acontece.
Zelensky pediu para falar apenas com Putin.
O contato entre Zelensky e Putin seria desejável, veremos como Trump tomará as rédeas da situação. Não é fácil compreender os condicionamentos a que Zelensky está sujeito em seu país, pois no passado ele já foi repudiado pelas forças extremistas que o cercam. No fundo, acredito que ele sabe que uma mediação nos moldes de Minsk seria necessária, mas será preciso ver o que acontece e se algum infeliz líder europeu pressionará pela continuação da guerra.