02 Mai 2025
O pacto dá a Washington direitos de explorar recursos naturais no país devastado pela guerra, incluindo alumínio, grafite, petróleo e gás natural.
A reportagem é de Antonia Crespí Ferrer, publicada por El Diario, 01-05-2025.
Os Estados Unidos e a Ucrânia finalmente assinaram um acordo para a exploração de minerais ucranianos. O pacto, que o Departamento do Tesouro dos EUA descreve como uma "parceria econômica", concede a Washington direitos de explorar recursos naturais no país devastado pela guerra. Isso inclui as reservas de alumínio, grafite, petróleo e gás natural da Ucrânia. A assinatura do documento ocorreu nesta quarta-feira, dois meses após o primeiro desentendimento público entre Volodymyr Zelensky e Donald Trump, que gritou com o presidente ucraniano durante o encontro no Salão Oval no final de fevereiro.
No final desta tarde, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, anunciou a assinatura do acordo. “Graças aos esforços incansáveis do Presidente Donald Trump para garantir uma paz duradoura, tenho o prazer de anunciar a assinatura do histórico Acordo de Parceria Econômica EUA-Ucrânia. Este acordo estabelece o Fundo de Investimento para a Reconstrução EUA-Ucrânia, com o objetivo de acelerar a recuperação econômica da Ucrânia. Segurança econômica é segurança nacional”, afirmou Bessent em um comunicado.
O acordo entre os dois países, de acordo com a declaração do Tesouro, visa "trabalhar de forma colaborativa e investir em conjunto para garantir que nossos ativos, talentos e capacidades compartilhados possam acelerar a recuperação econômica da Ucrânia".
A ministra da Economia da Ucrânia, Yulia Svyrydenko, que voou para Washington na quarta-feira para finalizar os detalhes do acordo, também confirmou a assinatura do documento. “Em nome do Governo da Ucrânia, assinei o Acordo para o Estabelecimento de um Fundo de Investimento para a Reconstrução EUA-Ucrânia. Juntamente com os Estados Unidos, estamos criando um fundo que atrairá investimentos globais para o nosso país”, escreveu Svyrydenko em uma publicação no X.
Na mesma publicação, o ministro explicou os principais pontos do acordo, destacando que a Ucrânia "não contrai nenhuma dívida obrigatória com os Estados Unidos". Trump exigiu que Kiev assinasse um acordo de exploração em troca do apoio militar fornecido durante os três anos de guerra. Na primeira tentativa de formalizar o acordo, Washington tentou que a Ucrânia reconhecesse os carregamentos de armas e outra assistência como uma dívida, embora Zelensky já tivesse deixado claro que não aceitaria um acordo nesses termos.
Além disso, o acordo "está em conformidade com a Constituição e mantém o caminho da Ucrânia para a integração europeia", dissipando assim dúvidas sobre seu futuro na UE, depois que o presidente dos EUA declarou que a Ucrânia deveria abandonar suas aspirações de adesão à OTAN para chegar a um acordo com a Rússia.
Segundo o ministro, todos os recursos terrestres e marítimos continuarão sendo propriedade da Ucrânia, e será "o Estado ucraniano que determinará o que e como extraí-los". Além disso, o acordo não "altera os processos de privatização nem afeta as empresas estatais, que permanecerão de propriedade ucraniana".
O fundo de investimento conjunto entre os Estados Unidos e a Ucrânia, conforme previsto no rascunho inicial, é estruturado com uma participação de 50/50, e "nenhuma das partes terá voto dominante". O ministro ucraniano explicou que o fundo será financiado "exclusivamente por meio de novas licenças".
Especificamente, 50% da receita de novas licenças nas áreas de materiais críticos, petróleo e gás — gerada após a criação do fundo — será alocada ao fundo. Os Estados Unidos contribuirão financeiramente para o fundo de investimento e, além do financiamento, serão obrigados a fornecer nova assistência, como sistemas de defesa aérea para a Ucrânia. Embora este último ponto não constitua um compromisso formal com garantias de segurança, oferece a Zelensky a esperança de apoio militar contínuo.
A assinatura do acordo ocorre após os primeiros 100 dias do governo de Donald Trump e poucos dias após a Rússia lançar um dos ataques mais sérios contra Kiev nos últimos meses. Foi então que o presidente postou uma mensagem no Truth Social na qual exclamou: “Vladimir, PARE”. Trump se distanciou, assim, de Putin e pediu, mais uma vez, o fim da guerra, embora a pressão continue a recair sobre a Ucrânia: tanto o secretário de Estado Marco Rubio quanto o vice-presidente JD Vance alertaram que os Estados Unidos abandonarão a mesa de negociações se um acordo de paz não for alcançado em breve.
O Secretário do Tesouro declarou o seguinte após a assinatura do acordo sobre minerais: “Este acordo envia uma mensagem clara à Rússia: o governo Trump está comprometido com um processo de paz centrado em uma Ucrânia livre, soberana e próspera a longo prazo. (...) Nenhum estado ou indivíduo que tenha financiado ou fornecido a máquina de guerra russa poderá se beneficiar da reconstrução da Ucrânia.”
Após a assinatura, o Parlamento ucraniano deve aprová-lo. De acordo com o Financial Times, muitos parlamentares, incluindo alguns do partido no poder, expressaram preocupação e disseram que não votarão em um acordo ruim.
Trump, que gosta de se gabar de sua capacidade de negociação, expressou frustração com o ritmo das negociações para acabar com a guerra. Em sua abordagem a Vladimir Putin, ele viu o acordo sobre os minerais como uma forma de pressionar Zelensky em direção a negociações de paz mais amplas.
Mas por que Trump está tão interessado nos recursos ucranianos? Muitos olham para a China, com quem declararam uma guerra comercial, e lembram que os Estados Unidos dependem muito dela para importar os minerais de que necessita. 70% das terras raras consumidas pelos EUA vêm do gigante asiático, número que sobe para 92% no caso dos elementos pesados, usados em setores estratégicos como defesa e indústria de alta precisão, segundo o jornal norte-americano Washington Post.
No entanto, alguns especialistas indicaram que, dadas as condições logísticas no local, é improvável que os ativos ucranianos reduzam a dependência da China no curto e médio prazo.