Acolher o novo mandamento de Jesus. Comentário de Ana Casarotti

Foto: canva

16 Mai 2025

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Evangelho de João 13,31-33a.34-35, que corresponde ao Quinto Domingo de Páscoa, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Eis o comentário.

Depois que Judas saiu do cenáculo, disse Jesus: "Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros".

Estamos no quinto domingo do Tempo Pascal e, depois de celebrarmos o Domingo do Bom Pastor, agradecidos a Deus pelo novo bispo de Roma, o Papa Leão XIV, a liturgia nos propõe meditar sobre este texto do Evangelho de João. Jesus e os discípulos estão no cenáculo. No início do relato do capítulo 13 do Evangelho de João, Jesus lavou os pés de cada um deles como um sinal de amor e um convite para viver como servos e “lavar os pés uns dos outros”.

Judas saiu do cenáculo

A passagem deste domingo começa com a saída de Judas do cenáculo. A vida daquele que era discípulo de Jesus, que recebeu seu convite para segui-lo, que estava com ele, que compartilhava a alegria do povo simples com suas palavras, estava tomando outro rumo internamente. Esse “sair do cenáculo” é uma das atitudes finais de Judas, que aos poucos foi se distanciando, dando espaço para questionamentos, perguntas que só alimentavam seu desejo de se livrar de Jesus por um pouco de dinheiro. Judas “deixa” esse ambiente de amizade, não pertence mais a esse grupo. A história simplesmente o descreve saindo, separando-se fisicamente do grupo e, dessa forma, assumindo plenamente a escolha que estava lentamente construindo: escolher trair Jesus e sua comunidade. Lembre-se de que, na unção em Betânia, Judas protestou contra o desperdício do perfume com que Maria ungiu Jesus. Para se justificar, ele “usou os pobres”, mas eles não eram da sua conta, pois ele era um ladrão, como diz o evangelho. Jesus também havia lavado seus pés porque ele havia compartilhado a mesa com os outros discípulos, mas depois de receber o bocado das mãos de Jesus, ele se retirou da assembleia.

Jesus está agora em um novo momento de intimidade com os discípulos em meio a tensões crescentes. É por isso que Jesus diz a eles: “Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco”. E continua dizendo: "Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”.

Com a ternura do mestre e amigo, Jesus lhes deixa palavras de conforto que trazem uma nova maneira de viver entre eles. Ele já havia expressado isso no gesto de lavar os pés uns dos outros, mas agora lhes deixa um novo mandamento: amar uns aos outros. Jesus gera ao seu redor uma atmosfera de amizade e total confiança, trazendo a novidade de uma comunidade onde a fraternidade e o amor são a fonte da qual se bebe e onde a vida cresce. O amor que Jesus propõe é semelhante ao seu próprio: “assim como eu os amei, vocês devem se amar uns aos outros”. No início, com o gesto do lava-pés, Jesus deixou claro que somente aqueles que são servos dos outros serão senhores. Ele descarta totalmente os antigos “mestres”, assim chamados por causa de seus estudos ou da sabedoria acumulada pela vida e pelas experiências vividas. Somente na medida em que forem servos dos outros, lavando os pés dos que estão ao seu lado, eles serão mestres da vida, verdadeiros profetas que ensinam com a vida e não com palavras.

Este domingo lhes diz como é o coração que deve bater nesse grupo para que ele tenha vida e vida em abundância: um amor mútuo, semelhante ao seu, que sempre gera espaços de confiança, simpatia e companheirismo. Jesus os chama de amigos, meus filhos, e a partir dessa amizade lhes anuncia o novo mandamento para que a comunidade seja sustentada por esse vínculo profundo.

Hoje estamos passando por situações em que prevalece a busca pelo bem-estar de poucos à custa do descarte de milhões de pessoas, realidades em que impera a luta mútua, a frieza, o olhar para o outro como inimigo permanente. Retomamos as palavras que o Papa Leão XIV dirigiu aos jornalistas credenciados para cobrir o conclave, que são, sem dúvida, um reflexo do mandamento do amor que Jesus nos dá neste quinto domingo: “A paz começa dentro de cada um de nós, na maneira como nos olhamos, na maneira como falamos uns dos outros. A maneira como nos comunicamos é de fundamental importância. Devemos dizer não à guerra das palavras, das imagens; devemos rejeitar o paradigma da guerra (Leão XIV aos jornalistas: "Desarmemos a comunicação de todo preconceito, ressentimento, fanatismo e ódio, purifiquemo-la".)

Neste domingo, somos chamados a construir uma nova comunidade impulsionada pelo mandamento do amor, um amor comprometido com cada pessoa, assim como fez Jesus. Ser testemunhas e construtores dessa nova comunidade significa não permitir que o desprezo, o ódio, a inimizade e a desigualdade reinem, mesmo que apareçam disfarçados de justiça, igualdade e defesa dos mais pobres, como fez Judas. Jesus nos dá um mandamento para colocarmos no centro de nossas vidas, de modo que ele se torne a fonte de nossas ações e a fonte de nossas comunidades: "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros".

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