5º domingo de páscoa – Ano C – A comunidade do ressuscitado

Por: MpvM | 13 Mai 2022

 

"Deixemo-nos alcançar, possuir por esse Espírito, para ser uma Igreja de Ressurreição, que não tem medo de percorrer os caminhos de hoje carregados de desilusão, violência, indiferença, fome criando espaços de esperança, paz, solidariedade, partilha e inclusão. Construindo a cultura do encontro como disse o Papa Francisco, colaborando com a construção de outro mundo possível! "

 

A reflexão é de María Cristina Giani, religiosa da Congregação Missionárias de Cristo Ressuscitado, da qual atualmente é a Coordenadora Geral. Ela é graduada em teologia pela Universidade La Salle - Unilasalle (2006) e possui especialização em espiritualidade pela Università Pontifícia Salesiana - UPS (2000). Atua em pastorais sociais com mulheres em situação de vulnerabilidade social e como orientadora de retiros.

 

 

Leituras do Dia

1ª Leitura - At 14,21b-27
Salmo - Sl 144,8-9.10-11.12-13ab (R.cf.1)
2ª Leitura - Ap 21,1-5a
Evangelho - Jo 13,31-33a.34-35

 

Neste quinto domingo do tempo pascal somos convidados/as a continuar mergulhando no mistério da Ressurreição de Jesus e da nossa própria.

 

Temos escutado na oitava da Pascoa os diferentes relatos das aparições de Jesus a sua comunidade, iniciando por Maria Madalena, primeira testemunha da Ressurreição. 

 

Os evangelistas manifestam claramente o desejo do Ressuscitado de fazer partícipe a cada uma, cada um, da vida nova que brota da sua Ressurreição. São Paulo também o expressa na primeira Carta aos Coríntios: “Por primeiro, eu lhes transmiti aquilo que eu mesmo recebi, isto é: Cristo morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras; ele foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez; a maioria deles ainda vive, e alguns já morreram. Depois apareceu a Tiago e, em seguida, a todos os apóstolos. Em último lugar apareceu a mim, que sou um aborto (1Cor 15, 3-8).

 

Desta maneira podemos ver com a primeira comunidade cristã vai se constituindo a partir da experiência de ressurreição que os seguidores e seguidoras de Jesus vão vivenciando e comunicando. A Igreja nasce na Páscoa de Ressurreição e se expande na partilha dessa experiência. Podemos afirmar que seu crescimento inicia-se com o murmúrio das primeiras mulheres que foram surpresas pela presença do Ressuscitado no meio do caminho (Mt 28,9-10).

 

Agora, bem esta comunidade tão querida por Jesus e a quem Ele assegura sua Presença todos os dias até o fim dos tempos (Mt 28,20), recebe de seu Mestre um único mandamento: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!

 

O fermento da comunidade formada por Jesus é o amor, e não qualquer amor, “como eu vos amei”, a medida do amor, o jeito de amar é o do Mestre. Por isso, para compreender este novo mandamento, temos que ler uns versículos antes no mesmo capítulo 13, quando Jesus sentado à mesa com sua comunidade, coloca-se de pé, se despoja do manto e se faz servo, servidor de cada um, cada uma.

 

O amor de Jesus está marcado pela kenosis, pelo esvaziamento, para ser total acolhida e doação ao outro/a. Não importa como estejam seus pés, a poeira e história que carregam, com luzes e sombras, Ele os lava, cura, refresca para que possam caminhar com dignidade e liberdade.

 

Essa é a medida do amor para seus discípulos e discípulas: “por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros" (Jo 13,14). E continua: “Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática” (Jo 13,17).
Viver isto é o caminho da felicidade e o caminho da credibilidade da comunidade cristã: “nisto todos conhecerão que são meus discípulos”.

 

Grande é desafio que hoje nos põe o evangelho: nos reconhecer discípulos e discípulas de um único Mestre, iguais em dignidade, diferentes em originalidade, convidados/as a esvaziar-nos de prejuízos, categorias, para nos acolher mutuamente na fragilidade, diversidade e complementariedade.

 

Só assim seremos uma Igreja que vive a hospitalidade, num mundo marcado pela migração, pela exclusão. Hoje mais do que nunca nossas comunidades precisam ser lares de acolhida, de serviço gratuito, cuidadoras da vida em suas diferentes manifestações. Onde cada um/a possa se sentir em casa, porque é casa de seu Deus Pai-Mãe. O amor do Ressuscitado, vivo em nosso coração, faz isto possível, é necessário colocá-lo em prática!

 

A primeira leitura do livro dos Atos dos Apóstolos (At 14,21b-27) narra este amor em movimento de saída. Nas figuras de Paulo e Barnabé descobrimos uma Igreja em incansável saída, em poucos versículos recorremos mais de cinco cidades, passando por duas regiões, comunidade que anuncia a palavra, que acolhe, anima, encoraja a viver a proposta do Evangelho.

 

Tudo isso foi possível porque “tinham saído entregues a graça de Deus” (At 14, 26b). É a graça de Deus que movimenta à Igreja, à comunidade a viver nesse movimento de amor de serviço, de saída missionária. É o Espírito do Ressuscitado que nos capacita para amar, viver como Jesus.

 

Deixemo-nos alcançar, possuir por esse Espírito, para ser uma Igreja de Ressurreição, que não tem medo de percorrer os caminhos de hoje carregados de desilusão, violência, indiferença, fome criando espaços de esperança, paz, solidariedade, partilha e inclusão. Construindo a cultura do encontro como disse o Papa Francisco, colaborando com a construção de outro mundo possível!

 

Porque acreditamos naquele que está sentado no trono e disse: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21, 5), abramos os olhos, porque já as está fazendo! E escutemos que nos disse:

 

“...Não tenhas medo de apalpar
o rasto de lanças e de pregos.
Teus dedos sentirão
no fundo de cada ferida
uma batida do coração do ressuscitado!”

(Bejamin Gonzalez Buelta, sj)

 

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