Um pastor segundo o coração do Pai. Comentário de Ana Casarotti

Foto: vatican.va

09 Mai 2025

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Evangelho de João 10.27-30, que corresponde ao Quarto Domingo de Páscoa, Domingo do Bom Pastor, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Naquele tempo, disse Jesus: "As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um".

No quarto domingo da Páscoa, a liturgia nos convida a celebrar o Domingo do Bom Pastor. Jesus ressuscitado é o pastor desse pequeno rebanho, que passou por diferentes situações após sua morte na cruz e reconheceu o Ressuscitado em diferentes momentos. Junto com Maria Madalena, corremos para o sepulcro assim que o dia amanhece e nos sentimos perplexos por não encontrar o corpo de Jesus e, em seu clamor, também acreditamos que ele foi roubado e precisamos saber onde tinha sido colocado. Quantas vezes procuramos entre os mortos por aquele que “está vivo”! Era necessário para nós também: Fazer experiência do Ressuscitado! Uma experiência que nos preenche internamente de tal forma que queremos parar o tempo para que ele não vá embora, que tentamos como Maria Madelana “agarrá-lo”, mas sabemos que há um caminho a percorrer.

Também nos aproximamos dos discípulos que, após a Páscoa, estavam reunidos com as portas fechadas, com medo, com dúvidas e inquietação por terem traído o Mestre. Sentiam a insegurança de um futuro incerto. Nós também, como povo de Deus, celebramos o domingo de Páscoa e, no dia seguinte, chegou a notícia da páscoa de nosso amado Papa Francisco. A dor de sua partida mergulhou nas profundezas do mistério pascal e fez com que nossas lágrimas limpassem nossos olhos, para reconhecer, em meio à tristeza e à incerteza, a riqueza de sua vida que ressuscitou em cada pessoa e comunidade onde seu amor chegou. Revivemos seus gestos e palavras como um incansável anunciador da misericórdia de Deus.

O regresso do Papa Francisco ao Pai, fez presente para nós uma pessoa da qual cada um de nós possuía “algo”, um encontro, um chamado, um convite, uma lembrança, um momento especial que renasceu para regar nossas vidas entristecidas por sua partida. Sua presença se tornou visível em espaços e ambientes desconhecidos, uma vida doada às pessoas, a cada pessoa em particular, sem descartar ninguém, onde todos nós tínhamos espaço e um lugar especial. Uma vida em abundância que ressoou em países e comunidades nas mais variadas partes do mundo, e que nos levou a experimentar de uma nova maneira a Páscoa, a morte e a ressurreição de Jesus. Juntamente com São Paulo, proclamamos mil vezes que a morte não tem a última palavra! Páscoa é sempre a vida que vence.

Se os discípulos estavam paralisados pelo medo do futuro, Jesus entrou em sua casa, assim como em nossa casa, e nos deu sua paz! Ele nos ofereceu uma paz que acalma a alma e nos disse em diferentes idiomas que Deus continua a cuidar de sua Igreja, seu pequeno rebanho. Maravilhados e ansiosos para reunir os testemunhos onde as mãos estendidos de Francisco floresceram, somos convidados a confiar novamente em seu Espírito. Ele sempre animou a vida da Igreja e nos chama a não ficarmos presos a lembranças do passado que não permitem que sua novidade germine no coração de nossas comunidades e da Igreja.

No domingo passado, acompanhamos os discípulos quando eles voltaram para o lugar onde Jesus os havia chamado quando estavam pescando. Unidos como igreja, em torno de seu Pastor, mesmo que ele não esteja mais em nosso meio, voltamos à nossa rotina, com sentimentos mistos: dor, esperança, incerteza e, acima de tudo, a alegria de saber que Deus é maior. Da outra margem, Jesus continua a nos acompanhar e nos convida a não permanecer na frustração de uma pesca infrutífera e, guiados por sua palavra, lançar nossas redes e, assim, colher uma pesca tão abundante que as redes poderiam se romper!

Vivemos estas três semanas de Páscoa unidos como igreja pela partida do Papa Francisco e com a expectativa do novo pastor que, como Bispo de Roma, acompanhará todo o povo de Deus. Hoje meditamos alguns versículos do texto que ilumina as características fundamentais de todo pastor: "As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão”

Há um vínculo estreito entre o pastor e cada uma de suas ovelhas. Ele desperta em cada uma delas uma sensibilidade especial que a leva a conhecer sua voz e a distingui-la de outras vozes. É uma voz que já a guiou e continua a guiá-la. Essa amizade e proximidade é também o que Jesus, o Pastor, estabelece com cada um de nós, e sabemos que ele nos conduz pelo caminho da vida e da liberdade. A experiência de seguir falsos pastores nos levou a diferenciar com mais sutileza os enganos e as mentiras daqueles que tentam se passar por pastores, mas são lobos.

Ainda impressionado pelas multidões que foram a Roma para o funeral do Papa Francisco, o cardeal Walter Kasper, reconhece que a mensagem fundamental é clara: “o desejo de que o próximo seja um Papa, fundamentalmente, nos moldes de Francisco. É natural que os papas sejam diferentes, mas o importante é que ele continue no essencial”. E continua dizendo que o essencial de Francisco foi: “Sua proximidade com as mulheres e os homens de nosso tempo, com todos. Francisco foi um bom pastor, um pastor de seu rebanho” (“No funeral, um voto do povo pela continuidade com Francisco”. Entrevista com Walter Kasper)

Neste domingo do Bom Pastor agradecemos pelo Papa Leão XIV e pedimos para que o Espirito acompanhe o Bispo de Roma para que seja sempre um pastor com cheiro de ovelha e que saiba. Como menciona Antonio Spadaro, padre jesuíta, escritor e teólogo italiano: “Bergoglio sua tarefa não era apenas apascentar o rebanho, mas também procurar a ovelha perdida” (cfr. Um pastor: “Papa Francisco tocou milhões de pessoas, católicas e não católicas”). 

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