09 Mai 2025
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 09-05-2025.
O conclave que decidiria o futuro da Igreja universal começou como esperado: incerteza, estratégias de bastidores e uma votação preliminar, na qual os cardeais eleitores espalharam seus votos entre uma dúzia de nomes, muitos deles sem chances reais. É o clássico voto de depósito, o primeiro movimento que serve para avaliar a força e não revelar as cartas prematuramente, enquanto cada lado avalia seu apoio e prepara o movimento final para a votação séria do dia seguinte.
A manhã de quinta-feira foi, sem dúvidas, de Parolin. O Secretário de Estado, apoiado pelo partido curial e pela elite diplomática, apresentou-se como o candidato do aparelho, da ordem e do controle. Mas, embora tenha conquistado uma base sólida entre 40 e 50 votos, ele se deparou com o intransponível limite de 89 necessários para se tornar Papa.
A Cúria, fiel ao seu estilo, não improvisou: tinha um plano B preparado, tão descarado quanto público. À tarde, o grupo da Cúria Romana voltou-se para Luis Antonio Tagle, o “Francisco filipino”, sonhando com uma parceria na qual Tagle seria o pároco global e Parolin o secretário de Estado plenipotenciário, no estilo de Sodano na época de João Paulo II.
Mas nem mesmo a Operação Tagle conseguiu quebrar o teto de vidro. O conclave, mais fluido e mais franciscano do que nunca, não se deixou arrastar pelas velhas balanças. Assim, a Cúria passou à Operação C: negociar com Robert Francis Prevost, o cardeal americano-peruano de mãe Espanhola, alma pastoral e excelente gestor financeiro, oferecendo-lhe o apoio necessário. Em troca do cargo de Secretário de Estado de Parolin? Saberemos com o passar dos dias.
Foi aí que entrou em cena o grupo sinodal, liderado por Omella e reforçado por nomes como Rossi, Castillo, Fernández, Chomali, Hollerich e Grech, muitos deles jovens e sem experiência em conclaves, mas com uma visão clara: apostar num perfil que combinasse ímpeto sinodal e solvência financeira.
O Vaticano está com um déficit crônico de cerca de 90 milhões de euros e precisa, mais do que nunca, reequilibrar suas contas e atrair doações, especialmente dos Estados Unidos, onde reside a força financeira da Igreja global. Os Museus do Vaticano e o Óbolo de São Pedro são insuficientes para cobrir as despesas da Cúria, e o Fundo de Pensão enfrenta um futuro incerto.
Prevost, conhecido por suas habilidades gerenciais, apresentou-se como o homem capaz de atrair doações, especialmente dos Estados Unidos, onde se concentra a maior riqueza católica. Os cardeais, conscientes de que sem “dinheiro” não há missão, viram nele uma solução prática para encher os cofres do Vaticano sem renunciar ao cuidado pastoral das reformas e do Sínodo.
O setor rigorista, por sua vez, também acabou se unindo em torno de Prevost, não tanto por entusiasmo, mas por rejeição a Parolin e priorização da fé (mesmo a de Trento) em detrimento dos interesses da máquina curial.
Assim, numa reviravolta esperada, chegou ao céu o Cardeal Prevost: o outsider que soube conjugar o voto sinodal, o rigorista e o pragmático, e que representa a síntese entre a Igreja que sonha com o futuro e aquela que precisa gerir o presente. E a primavera continua... porque ninguém pode pará-la, quando ela chega nas asas do Espírito.
Leão XIV foi um dos sucessores de Francisco, e não foi em vão que o falecido Papa lhe confiou nada menos que a “fábrica” de bispos, essencial para levar adiante a primavera eclesial. Um símbolo da Igreja universal que Francisco sonhou. Outra das batalhas que Bergoglio venceu após sua morte, silenciosamente, como o político consumado que era. De Francisco a Leão e a primavera continua.
Edizione Straordinaria de L’Osservatore Romano - Habemus Papam
— L'Osservatore Romano (@oss_romano) May 8, 2025
Robertum Franciscum Prevost
qui sibi nomen imposuit
LEONEM XIV. pic.twitter.com/4UdnPgUK3T