05 Junho 2020
Afora as “merdas”, “bostas”, e outros impropérios que não convém mencionar aqui em respeito a leitor@s - e seria de esperar que termos chulos não fossem proferidos a profusão em atapetadas salas palacianas - a reunião ministerial do dia 22 de abril apresentou, na verdade, um quadro do despreparo dos governantes federais. Não existe, neste governo, um projeto de Brasil para o presente, nem para o futuro.
O comentário é de Edelberto Behs, jornalista, ex-coordenador do Curso de Jornalismo na Unisinos.
Afora as bravatas de Weintraub e Damares, e a boiada do Salles, o encontro dos ministros mostrou um presidente descontrolado, desbocado, debochado, tosco, preocupado com amigos e familiares para que não sejam “f...”, enquanto o país enfrenta uma pandemia que deixa a população confusa por causa de ações e informações conflitantes sobre procedimentos para evitar a profusão do covid-19.
Em 22 de abril, por exemplo, o presidente do Banco do Brasil, Rubem Braga, previu, mesmo admitindo que não era “especialista no negócio”, que o “tal famoso pico” de mortes por coronavírus passara. “De uns quatro, cinco dias pra cá, esses óbitos caíram bastante. Já não chegam mais na casa de duzentos”, disse. Pois bem, o covid-19 está matando agora mais de 1 mil brasileir@s por dia! Ele se mostrou um especialista em lamber botas!
Impressiona que diante desse quadro ministros foram chamados à reunião para receberem a incumbência de apresentar, em breve, o que cada Ministério poderia contribuir para o programa Pró-Brasil, uma espécie de PAC do governo Bolsonaro. A preocupação é válida, sem dúvida, mas essa mesma pegada não caberia para firmar um programa coletivo de enfrentamento da pandemia?
Chama a atenção que o ministro-chefe da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto, recebeu os aplausos de tod@s colegas que se manifestaram no encontro por ter reunido o colegiado sob essa pauta. Fica a impressão de que nunca, ou raramente, o grupo de ministros do governo Bolsonaro se reúne ou se reuniu para traçar metas, estratégias, ações conjuntas.
O próprio Braga Netto, ao apresentar a sua proposta, frisou que estão pensando num horizonte até 2030, ou seja, ele conta com a reeleição de Bolsonaro e, consequentemente, de substitutos que darão continuidade ao seu governo. Até a reunião do dia 22, ao menos, o governo federal demonstrou grande disposição de derrubar, desconstruir, arrasar... mas pouco quanto a construir.
Como afirmou o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, em entrevista para Diego Felipe González Gómez, publicada no jornal El Tiempo, “os governo da direita e da extrema direita são muito bons para destruir, mas muito ruins para construir. Bons para destruir o Estado, a economia e os serviços públicos, e quando é necessário construir uma alternativa para proteger as pessoas, não a têm”. O Brasil que o diga!
O Banco do Brasil, definiu Paulo Guedes, não é tatu nem cobra, porque ele não é privado, nem público, e tem que “vender essa porra” logo. O BB dá prejuízo? A granada já foi colocada “no bolso do inimigo”. É assim que o ministro enxerga colaboradores que ficarão dois anos sem aumento de salário. Seguindo a cartilha neoliberal, é tempo de derribar e deixar a área pública em terra arrasada. Talvez o coronavírus consiga salvar o SUS!
A preocupação com o coronavírus apareceu na reunião, mas entrou pela porta dos fundos, pela fala do (des)ministro do Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles. Ele vê o momento como oportuno para aprovar “as reformas infralegais” de desregulamentação e simplificação daquelas travas que proíbem, por exemplo, a ação de madeireiros, garimpeiros, em terras indígenas na Amazônia, ou a simplificação da lei da mata atlântica.
“Então, pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas... Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada”. Não precisa nem do Congresso, “porque coisa que precisa do Congresso também, nesse fuzuê que está aí, nós não vamos conseguir aprovar. Agora, tem um monte de coisa que é só parecer, caneta”.
A ministra Damares, tão preocupada com calcinhas, vestimenta rosa para meninas e azul para meninos, defendeu valores e destacou que “este é um governo pró-vida, um governo pró-família”, mas pouco se importou com o Paulo Guedes dirigindo-se a ela em especial: “Oh, Damares, deixa cada um se f... do jeito que quiser, principalmente se o cara é maior, vacinado e bilionário”. São esses valores que a pastora defende para a família brasileira?
E o chefete? Cobra eficiência do serviço de informações, porque não é informado. “Eu não vou esperar f... a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus (o Fabrício José Carlos Queiroz entre eles?), porque não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa”. Mas Bolsonaro revelou que ele conta com serviço particular de informação e que esse, sim, funciona. Qual seria esse tal de serviço particular e para descobrir o quê?
Preocupado com a “hemorroida” que, se a interpretação estiver correta trata-se de liberdade, o presidente exigiu dos ministros da Justiça e da Defesa que assinassem logo a portaria que aumenta em três vezes o acesso a munições no país. “Eu quero todo mundo armado! Povo armado jamais será escravizado”, frisou na reunião ministerial do dia 22 de abril.
E aí fica a nu um presidente que se diz preocupado com a fome de brasileiros e brasileiras assalariad@s que estariam impedid@s de trabalhar por causa das exigências de isolamento social impostas por governadores e prefeitos. Qual é a população que ele quer armar? Depois, comprar arma e munição é uma barbada para esses milhões que ficam horas numa fila da Caixa Econômica Federal para sacar 600 reais!
Armar a população para quê? Para evitar uma ditadura, alegou. Os inimigos seriam prefeitos e governadores? Ora, a sinalização de ditadura no horizonte brasileiro vem justamente do presidente Bolsonaro e seu apoio a manifestantes que querem a volta dos militares ao poder (em parte já estão), a instauração do AI-5 (sequer sabem do que se trata), o fechamento do Congresso, e um jipe e um milico para interditar o STF.
“As minhas bandeiras são família, Deus, Brasil, armamento, liberdade de expressão, livre mercado. Quem não aceitar isso, está no governo errado”, foi o recado que Bolsonaro deixou para seus ministro. Também para a nação, embora seja difícil levar um consideração um presidente que coloca Deus acima de tudo e de todos, mas quer armar a população, mantém um “gabinete do ódio” e entende o Brasil como se o país fosse seu patrimônio pessoal.
Presidente, Jesus disse “amai-vos uns aos outros” e não armai-vos uns contra os outros! Quando Jesus foi preso no Getsêmani, um dos que estavam com ele tirou a espada e cortou a orelha direita de um empregado do Grande Sacerdote. Jesus os repreendeu: “Parem com isso!” Aí, tocou na orelha do ferido e o curou. O messias tupiniquim certamente o deixaria sangrando!
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Reunião ministerial expõe as vísceras do governo Bolsonaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU