26 Fevereiro 2018
Os bispos católicos alemães decidiram: no futuro, em determinados casos, os parceiros protestantes de casais interconfessionais poderão fazer a comunhão nas celebrações católicas. O diretor do Johann-Adam-Möhler-Institut für Ökumenik, Johannes Oeldemann, fala sobre as consequências dessa decisão para o mundo ecumênico.
A reportagem é de Silvia Ochlast, publicada por Domradio.de, 23-02-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Agora, todos os parceiros protestantes de casais interconfessionais podem se aproximar da comunhão católica?
Não, não se trata de uma autorização generalizada, mas sim de possibilitar decisões nesse sentido em casos individuais. Os cônjuges podem conversar com o pároco sobre sua situação e depois chegar a uma decisão em consciência sobre a possibilidade de participação na Eucaristia católica.
Como os cônjuges protestantes são examinados sobre sua fé em relação à Eucaristia católica, já que esse, afinal, é o pré-requisito?
De acordo com a formulação dos bispos, trata-se, no diálogo com o pároco, de fazer uma obra de discernimento e de ver se o cônjuge evangélico pode aderir àquilo que a Igreja Católica celebra na Eucaristia, isto é, a presença real de Jesus Cristo sob as espécies do pão e do vinho. Além dessa adequada adesão com a fé da Igreja Católica, deve ser levada em consideração a situação dos cônjuges. O discurso é o de uma “necessidade séria”. Faz-se referência a um artigo do Direito Canônico. Quer-se encorajar os párocos a utilizarem adequadamente a margem de liberdade de ação que é dada pelo Direito Canônico vigente a esse respeito.
Em muitas comunidades, essa margem de liberdade já é utilizada, ou seja, os parceiros protestantes já se aproximam da comunhão católica. Essa prática, agora, é quase legalizada?
Eu não falaria de uma legalização, porque isso dá a impressão de que, antes, era uma prática ilegal. O comunicado de imprensa da Conferência Episcopal Alemã tem este objetivo: não muda nada na atual situação jurídica, simplesmente usam-se as margens de liberdade já presentes, para as quais, por exemplo, as Conferências Episcopais podem definir o que significam as “situações concretas” para casais mistos, de modo a realmente gozarem de tal margem de liberdade. E aqueles que já praticaram essa solução se sentirão apoiados na continuação do seu caminho.
O que isso significa para o mundo ecumênico? É um grande passo rumo à hospitalidade eucarística?
Eu não definiria como um grande passo, mas um primeiro passo, que mostra que, no mundo ecumênico, nas últimas décadas, fizemos bons progressos. No modo de entender a Eucaristia e a Ceia do Senhor, houve uma notável aproximação entre luteranos e católicos. Eu vejo essa decisão como uma implementação do compromisso assumido na Conferência Episcopal em Hildesheim no ano passado – onde houve o compromisso a conceder aos matrimônios interconfessionais toda a ajuda de que precisam para o seu caminho de fé comum.
Mas o fato é que católicos e protestantes têm um modo de entender a Eucaristia fundamentalmente diferente. Não mudou nada em relação a isso?
Gostaria apenas de sublinhar que, talvez, não seja mais possível manter os velhos preconceitos em relação à Ceia do Senhor protestante – como ainda estavam presentes nas cabeças dos bispos durante o Concílio Vaticano II. Nos últimos 50 anos, no diálogo ecumênico, mostrou-se que, em determinadas coisas, estamos mais perto do que pensávamos, do que estávamos conscientes. No modo de entender a presença de Jesus Cristo sob as espécies do pão e do vinho, há uma maior proximidade entre luteranos e católicos, mais do que se pensa em geral.
O que o senhor acha da decisão dos bispos católicos: é a estrada certa para um caminho ecumênico comum?
Fiquei muito feliz que os bispos tomaram essa decisão, porque, justamente, é um sinal para as famílias interconfessionais. Um sinal de que o que elas vivem cotidianamente – o caminho ecumênico comum – é apoiado. Por isso, estou contente que os bispos alemães, em sua maioria, apoiam esse caminho e que, em um futuro próximo, será emitida uma diretriz com as indicações para permitir que tais caminhos se concretizem.
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Intercomunhão: ''É um sinal de apoio ao caminho ecumênico comum''. Entrevista com Johannes Oeldemann - Instituto Humanitas Unisinos - IHU