14 Junho 2017
O Papa Francisco está convidando cristãos do mundo inteiro para servir aos pobres com ações concretas que atendam suas necessidades básicas. Ele escreveu, no documento de lançamento do novo Dia Mundial dos Pobres, que servi-los é "um imperativo que nenhum cristão pode desconsiderar".
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 13-06-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Na mensagem para o novo dia especial, que este ano será celebrado em 19 de novembro, o Papa explica de maneira breve, mas poética e potente, em um argumento escriturístico, por que os cristãos devem se aproximar e cuidar dos que estão vivenciando a pobreza.
Citando os exemplos dos Atos dos Apóstolos e várias cartas do Novo Testamento, Francisco diz que servir aos pobres foi "um dos primeiros sinais da entrada da comunidade cristã no palco mundial".
O Papa também lembra os católicos que eles acreditam que Cristo está em cada pessoa humana.
"Se queremos encontrar Cristo de verdade, devemos tocar seu corpo nos corpos dos pobres em sofrimento em resposta à comunhão sacramental concedida na Eucaristia", afirma Francisco. "O Corpo de Cristo, quebrado na sagrada liturgia, pode ser visto através da caridade e do compartilhamento, nos rostos e nas pessoas mais vulneráveis de nossos irmãos e irmãs".
Francisco também apresenta três novas maneiras pelas quais os cristãos podem ser considerados abençoados, na bem-aventurança de Jesus.
"Bem-aventuradas... são as mãos abertas que abraçam os pobres e os ajudam: são mãos que trazem esperança", diz ele. "Bem-aventuradas as mãos que ultrapassam todas as barreiras de cultura, religião e nacionalidade, e derramam o bálsamo do consolo sobre as feridas da humanidade."
"Bem-aventuradas as mãos abertas que não pedem nada em troca, sem condições, contrariedades ou incertezas: são mãos que invocam a benção de Deus para seus irmãos e irmãs", ele continua.
O Dia Mundial dos Pobres é uma nova celebração no calendário católico, criada por Francisco no final do Jubileu da Misericórdia, entre 2015 e 2016. No documento que encerrou o ano, Misericordia et Misera, o Papa pediu que os católicos comemorassem o dia especial anualmente no 33º domingo do Tempo Comum, que geralmente cai em novembro.
A mensagem de Francisco para o primeiro Dia Mundial dos Pobres recebeu o título "Vamos amar, não com palavras, mas com ações" e foi lançada pelo Vaticano na terça-feira. O título da mensagem advém da primeira carta de João, na qual o apóstolo diz à comunidade cristã da sua época: "Não amemos de palavras nem de boca, mas sim de atitudes e em verdade".
"Essas palavras do apóstolo João expressam um imperativo que não pode ser desconsiderado por nenhum cristão", afirma o Papa, na abertura de sua mensagem. "A seriedade com que o 'estimado discípulo' entrega o comando de Jesus até os nossos dias fica ainda mais clara pelo contraste entre as palavras vazias tão frequentemente em nossos lábios e as ações concretas pelas quais somos chamados a nos avaliar".
"O amor não tem álibi", continua o papa. "Sempre que nos propomos a amar como Jesus amou, devemos ter o Senhor como nosso exemplo; principalmente em relação ao amor aos pobres."
Francisco também cita a comunidade cristã primitiva descrita nos Atos dos Apóstolos, onde aqueles que seguiram a Cristo "vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um".
"O evangelista Lucas, que fala sobre misericórdia mais do que qualquer um, não exagera ao descrever a prática do compartilhamento na comunidade primitiva", afirma o Papa. "Pelo contrário, suas palavras dirigem-se aos fiéis de todas as gerações e, portanto, também a nós, para sustentar nosso próprio testemunho e incentivar nossos cuidados com os que mais precisam".
Na mensagem, Francisco pede que as comunidades cristãs comecem a comemorar o Dia Mundial dos Pobres na semana anterior ao dia especial e sugere que se aproximem de pessoas pobres ou sem-teto na sua região, convidando-as para a missa ou para uma refeição no dia 19 de novembro.
"Se onde vivemos há pessoas pobres procurando proteção e assistência, vamos nos aproximar delas: será um ótimo momento para encontrar o Deus que buscamos", diz ele. "Seguindo o ensinamento das escrituras, vamos recebê-las na nossa mesa como convidadas de honra; elas podem nos ensinar a vivenciar a fé de forma mais consistente."
Em uma conferência de imprensa no Vaticano, em 13 de junho, no lançamento da mensagem, o arcebispo Rino Fisichella disse que Francisco ofereceria almoço a cerca de 500 pessoas pobres no dia 19 de novembro depois de celebrar a missa na Basílica de São Pedro.
No próprio Dia Mundial dos Pobres, em sua mensagem, o Papa pede que os católicos e todos os que têm boa vontade "olhem... para todos aqueles que estendem suas mãos pedindo a nossa ajuda e a nossa solidariedade".
"São nossos irmãos e irmãs, criados e amados pelo único Pai Celestial", diz ele. "Este dia significa, acima de tudo, encorajar os fiéis a reagir contra uma cultura do descarte e do desperdício e abraçar a cultura do encontro."
Francisco terminou sua mensagem com um pedido de que a oração esteja no centro da celebração do novo dia especial e com uma reflexão sobre o significado da oração do Pai Nosso.
"Não esqueçamos que o Pai Nosso ora pelos pobres", diz ele. "Pedir pão expressa nossa confiança em Deus sobre nossas necessidades básicas na vida. Tudo o que Jesus nos ensinou nesta oração expressa e reúne o grito de todos os que sofrem com as incertezas da vida e da falta do que precisam."
"Quando os discípulos pediram a Jesus para ensiná-los a orar, ele respondeu nas palavras dos pobres com nosso Pai, em quem todos se reconhecem como irmãos e irmãs", diz o Papa. "O Pai Nosso é uma oração no plural: o pão que pedimos é "nosso" e isso implica compartilhamento, participação e responsabilidade conjunta."
"Nesta oração, todos nós reconhecemos a nossa necessidade de superar todas as formas de egoísmo, para integrar a alegria da aceitação mútua", continua.
O Papa diz que espera que o novo Dia Mundial dos Pobres possa "tornar-se um poderoso apelo às nossas consciências como fiéis, permitindo-nos crescer na convicção de que compartilhar com os pobres nos permite compreender a verdade mais profunda do Evangelho".
"Os pobres não são um problema", afirma Francisco. "Eles são como um recurso ao nos esforçarmos para aceitar e praticar a essência do Evangelho em nossas vidas."
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Em lançamento do Dia Mundial dos Pobres, Francisco diz que 'nenhum cristão pode deixar de servi-los’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU