08 Outubro 2016
Um grupo de treze estudiosos de língua francesa investigam a pluralidade de interpretações dos principais versículos da Carta aos Filipenses produzidas na história. Comumente identificados como "hino cristológico", oferecem a deixa para discussões dogmáticas sobre a relação entre humanidade e divindade de Jesus.
A reportagem é de Roberto Mela, publicada por Settimana News, 26-09-2016. A tradução é de Ramiro Mincato.
Depois das leituras patrísticas apresentam a exegese medieval do hino, de acentuado corte ético para a imitação dos fiéis. A interpretação dos dois grandes reformadores, Lutero e Calvino, enfatizam, respectivamente, o Cristo servo e o Cristo glorioso. A interpretação ética acentua a humildade como caminho majestoso que introduz os fiéis na glória divina. Um capítulo é dedicado à análise do uso do hino nas liturgias orientais, enquanto o seguinte dedica-se ao uso na liturgia romana antes e depois do Concílio Vaticano II.
Atualmente, o hino retorna todo sábado à noite no Ofício Divino das Vésperas. O repertório musical inspirado por Fl 2 e pela noção de kénosis no judaísmo, à luz da figura de Lévinas, também é estudado. O último capítulo analisa o tema da kénosis de Cristo, em alguns dos teólogos do século XX: J. Ratzinger, V. Lossky, K. Barth, K. Rahner, J. Moltmann e H.U. von Balthasar.
Na primeira contribuição (pp. 7-30), o exegeta C. Focant apresenta sua interpretação a partir da divisão em duas partes (vv. 6-11 e 9-11), que expressam, primeiro a ação de Cristo e, em seguida, a de Deus em relação a Ele. À luz das inclusões internas Focant demonstra que a primeira parte do hino termina no v.7b (e não 7c, como na tradução CEI 2008).
De acordo com o estudioso, ao invés de cristológico, trata-se de um hino de louvor, com propósito ético. O hino está perfeitamente integrado no texto, embora não se possa excluir sua origem pré-paulina. Cristo, como personagem fundador, é por isso também um personagem exemplar. Ele é oferecido à comunidade cristã de Filipos, colônia de Roma, fortemente marcada pela presença de soldados romanos em licença, com o objetivo de oferecer-lhes uma visão alternativa, motivando-os à vida em comum e à unidade que devem buscar.
Quatro são, para Focant, as leituras possíveis, não excludentes umas das outras, no contexto das tradições bíblicas e judaicas: segundo as representações adâmicas (Gen 2 - 3, Cristo novo e verdadeiro Adão: Di Pede, Dunn, Hooker), segundo a figura do Servo Sofredor (Is 52,13 - 53,12: Aletti, Cerfaux, Martin), segundo a figura do justo com destino paradoxal (cf. Sb 3-5: Feuillet, Murphy-O'Connor), contra os reis que usurpam a dignidade divina (cf. o rei da Babilônia em Is 14,5-21; o rei de Tiro em Ez 28,1-19; Antíoco Epífanes, em 2Mac 9,1-29: Vollenweider), num contexto romano e em ruptura com o cursus honorum, bem conhecido pelos militares em licença em Filipos (o senhorio de Cristo em relação problemática com o poder imperial consolidado na colônia romana: Barclay, Hellerman, Noselle Nebreda).
A novidade do texto é a apresentação um cenário novo. Como o Filho de Deus orientava sua vida humana, uma vez que se tornara semelhante aos homens? O hino anuncia a maravilha que é a nova revelação de Deus, em Jesus: a cruz é glória, a realidade plena de Deus Pai oferecida como graça em Cristo. Ser discípulo de Jesus Cristo é possuir, em si mesmo, este estado de espírito, uma mentalidade de acolhida do dom, longe de qualquer ideal de entesouramento. O livro termina com o índice das citações.
L’inno a Cristo. Filippesi 2,5-11, Coleção «Temi biblici», Bologna: EDB, 2016, pp. 208.
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Hino Cristológico de Filipenses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU