Por: Jonas | 15 Abril 2013
Uma grande quantidade de sacerdotes, na Europa e nos Estados Unidos, uniu-se num apelo à “desobediência” à hierarquia, no que não veem uma heresia, mas uma advertência: se o Papa Francisco não adentrar na modernização da Igreja, os católicos, decepcionados, irão abandoná-la em massa.
A reportagem é publicada no sítio Religión Digital, 14-04-2013. A tradução é do Cepat.
“A insatisfação chegou até o núcleo, inclusive até as camadas mais leais que todo domingo vão à Igreja”, adverte numa entrevista à agência Efe, Helmut Schüller (foto), porta-voz do grupo de padres austríacos que, em 2011, rebelou-se contra o Vaticano e iniciou um movimento que já reuniu 3.500 párocos na Europa e nos Estados Unidos.
A chamada “Iniciativa dos Párocos” publicou, em junho de 2011, um manifesto em que “diante da rejeição de Roma a uma reforma, há tempo necessária”, declaravam-se obrigados a seguirem a própria consciência e atuarem independentes dos ditados do Vaticano.
Apoiar a ordenação de mulheres e de casados, dar comunhão a todos os “fiéis de boa vontade”, inclusive aos divorciados, e permitir que também os leigos preguem a palavra de Deus, são algumas das “desobediências” pelas quais o grupo de padres, que hoje já somam 430, 14% do total do país, acordou compromisso.
O apoio de 1.000 sacerdotes na Irlanda e nos Estados Unidos, 700 na Alemanha, mais de 540 na Suíça, contatos com a América Latina, em especial com o Brasil, e com a África, fez destes desobedientes a principal ameaça para a hierarquia vaticana.
O pároco Schüller, cuja rebeldia foi punida com a retirada de seu título de “monsenhor”, mostra-se esperançoso de que a eleição de Francisco signifique o começo da abertura da Igreja, embora advirta de que existem forças, encabeçadas pela Opus Dei, que não tornaram as coisas fáceis.
Embora reconheça que ainda não está claro se o papa quer iniciar essas reformas, quem foi, nos anos 1990, diretor da Cáritas Áustria, considera que Jorge Mario Bergoglio, “pelas expectativas, impôs a si uma grande pressão”.
“Esperamos com interesse, não queremos ser malcriadamente impacientes, mas logo precisa haver sinais”, confia Schüller, pois, caso contrário, pode ser produzido um efeito negativo.
“Se essa esperança fica frustrada, vão acontecer duas coisas: muitos irão se afastar da Igreja e os que continuam querendo mudanças, garanto que irão endurecer”, afirmou.
De qualquer modo, se Francisco decide fazer mudanças, Schüller acredita que terá que buscar ajuda e enfrentar as congregações mais conservadoras, como Opus Dei, Comunhão e Libertação e Legionários de Cristo.
“Está claro que para o Opus Dei (a eleição de Francisco) foi uma derrota. Contudo, o sistema está ainda aí, há muito poder e muito dinheiro, há muitos interesses. É quase preciso temer um pouco pelo papa, não deixa de ser perigoso”, adverte.
“Há décadas, a administração (vaticana) está fortemente controlada por esses movimentos”, explica. “O maior poder do aparato consiste em não fazer nada, como após o Concílio Vaticano II, em que simplesmente não se aplicou o que havia sido acordado”, recorda. Segundo Schüller, qualquer um que trate de reformar coisas no Vaticano, e o que “aí acontece por debaixo dos panos”, irá se encontrar com gente dura, “que não possui melindres”.
Schüller incentiva o papa a buscar o apoio dos bispos e tornar o seu sínodo um órgão de coadministração da Igreja. Nessa luta de poder e interesses, o ex-vigário geral insiste que o pilar essencial da Igreja é as comunidades. “As paróquias ativas são o elemento mais importante da Igreja” e necessitam de apoio e de sacerdotes disponíveis, destaca.
“Se essa é a prioridade, pode alguém permitir que apenas os homens sejam sacerdotes? Pode alguém expulsar homens com talento, simplesmente porque não estão dispostos a deixar de se casar?”, explana, lembrando que justamente esses são os eixos do seu apelo à desobediência.
Schüller compara o distanciamento da Igreja, em relação aos seus fiéis, com a proximidade e acessibilidade que faz com que os cultos evangélicos ganhem terreno na América Latina. Aquele que foi defensor das vítimas de abusos sexuais, na diocese de Viena, rejeita que sua iniciativa seja cismática e garante que justamente essa demonstração, de que se pode ser crítico dentro da Igreja, é que fez com que muitos fiéis não a abandonem.
Em relação ao fato da “desobediência” não ter ainda penetrado na Itália, Espanha ou no Leste da Europa, Schüller adverte que essa onda chegará nesses lugares, e relembra que na Irlanda “a Igreja e o povo eram um” e que, no entanto, agora o país é um dos eixos do movimento de rebeldia. Algo relacionado com a perda de confiança na Igreja em razão dos encobrimentos nos casos de abusos de menores, assegurou. “Não vamos assustar com o que virá da Polônia, da Europa do Leste, do Sul da Europa”, locais, disse, onde ainda não foram descobertos esses escândalos.
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A eleição do Papa Francisco. ''Para Opus Dei foi uma derrota'', afirma Helmut Schüller - Instituto Humanitas Unisinos - IHU