27 Abril 2016
O presidente do departamento vaticano para a justiça e paz disse ser “plausível” que o Papa Francisco escreva uma carta encíclica focada em reorientar os ensinamentos da Igreja Católica sobre a violência, na sequência de um período de diálogo e debate sobre o assunto.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 26-04-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O Cardeal Peter Turkson, à frente do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, acrescentou que a proposta de escrever uma tal encíclica é “bastante legítima”.
Turkson estava concedendo uma entrevista ao jornal inglês The Sunday Times após um congresso no Vaticano organizado pelo conselho por ele presidido e pelo grupo católico pacifista Pax Christi International.
Cerca de 80 participantes de todo o mundo que participaram no evento de três dias em Roma emitiram um apelo no dia 14 de abril, rejeitando os ensinamentos conhecidos como a doutrina da guerra justa.
Os participantes disseram que, muitas vezes, se usaram estes ensinamentos para justificar conflitos violentos, ao mesmo tempo convidando a Igreja a ter em conta os ensinamentos de Jesus a respeito da não violência e pedindo que Francisco escreva uma encíclica ou outro “documento magisterial importante” sobre o tema.
A doutrina da guerra justa é uma tradição que emprega uma série de critérios para avaliar se se pode considerar moralmente justificável o emprego da violência. Tendo sido citada pela primeira vez pelo bispo do século IV, Santo Agostinho de Hipona, a doutrina foi posteriormente articulada em profundidade pelo teólogo do século XIII São Tomás de Aquino e hoje está resumida em quatro condições descritas no Catecismo da Igreja Católica.
Uma série de teólogos vêm criticando o emprego contínuo da doutrina nos tempos modernos, dizendo que tanto as capacidades poderosas das armas modernas quanto as provas da eficácia das campanhas não violentas fazem dela uma doutrina ultrapassada.
Na entrevista, Turkson – cujo departamento ajudou na elaboração de Laudato Si’, a encíclica do Papa Francisco sobre o meio ambiente publicada em 2015 – diz que o congresso “fez um claro apelo”.
“Espero que o debate sobre estas questões, hoje tão urgentes quanto nunca, continue”, disse o cardeal.
“Muitas vezes a ‘doutrina da guerra justa’ foi usada para endossar em vez de evitar ou limitar uma guerra, e isso pode enfraquecer os esforços no sentido de desenvolvermos alternativas e instrumentos para que os conflitos sejam superados ou transformados”, disse Turkson. “Por repetidas vezes os participantes que vivem em regiões de conflito dizem: ‘Estamos cansados de tanta guerra’”.
“A proposta da Pax Christi é bastante legítima”, continuou o cardeal. “No ambiente católico internacional, ela é uma voz importante entre muitas”.
Segundo o religioso, “o Papa Francisco está trabalhando pela colegialidade, seguindo o ensinamento do Concílio Vaticano II. Será de ulterior importância iniciarmos um debate amplo, aberto, qualificado sobre o assunto. Uma encíclica é plausível somente como fruto de muito diálogo, não como um ponto de partida”.
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Cardeal Turkson: é plausível uma encíclica sobre não violência e doutrina da guerra justa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU