17 Abril 2017
Wilton Gregory: "A cara feia do clericalismo ainda tem muita influência na Igreja"
A reportagem foi publicada por Religión Digital, 15-04-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
- No que diz respeito à proteção dos menores, "a cara feia do clericalismo ainda tem muita influência na Igreja". Wilton Gregory, Arcebispo de Atlanta, denunciou assim a forma como vê as resistências "culturais" e "ideológicas" às reformas do Papa Francisco no que diz respeito à eliminação dos abusos sexuais cometidos por religiosos.
"Eu diria que há uma resistência em fazer o que é difícil. E o difícil é estabelecer normas e critérios a serem seguidos sempre na proteção de menores". Assim manifestou-se o prelado em uma entrevista publicada neste domingo em uma rádio local em Atlanta.
Na ocasião desta conversa, Gregory aproveitou para apoiar Marie Collins, a irlandesa vítima de abuso que recentemente se demitiu da Comissão de Proteção a Menores do Vaticano, depois de denunciar a recusa do Cardeal Gerhard Müller em implementar as políticas antiabuso do Papa Francisco. "É uma mulher muito corajosa, muito determinada, e acredito que é uma graça para a Igreja", disse Gregory, que foi presidente dos bispos dos Estados Unidos entre 2001 e 2004, período em que vieram à tona muitos dos escândalos sexuais no clero estadunidense.
O Arcebispo de Atlanta também declarou que Collins tinha razão em suas críticas ao prefeito da Doutrina da Fé por sua oposição a colocar em prática o tribunal anunciado pela Santa Sé para julgar bispos negligentes que retardassem a luta contra a pedofilia clerical. Ao escolher tal proposta por sua própria iniciativa Como uma mãe amorosa, disse Gregory, o Papa "acertou, com um protocolo muito útil".
Além disso, na entrevista o arcebispo também se referiu ao debate sobre se a Igreja pode chegar a ordenar homens casados como sacerdotes no futuro e, particularmente, os viri probati, homens fiéis de justiça comprovada. Mais do que doutrina, o celibato na Igreja latina "é uma disciplina, e como todas as disciplinas está aberta a uma modificação", disse Gregory, observando que padres casados já são uma realidade nas Igrejas Orientais Católicas e no Ordinariato Anglicano.
Embora não haja nada na Teologia ou nas Escrituras que impeçam a ordenação de homens casados, o debate ainda "deve levar vários outros fatores em consideração", acrescentou o religioso.
Nesta temática, a Igreja tem de atingir um equilíbrio, segundo Gregory, entre os imperativos pragmáticos e evangélicos apresentados por ela. Isto é, não somente o de cobrir a falta de vocações sacerdotais em determinadas áreas, mas também reconhecer que, como o "casamento enquanto sacramento tem uma certa dignidade", "o homem casado traz uma perspectiva sobre a vida cristã que o homem solteiro não tem". E tudo isso também mantém a integridade do "testemunho do celibato". Uma disciplina que longe de ser "um obstáculo eclesial", é mais "uma imitação da maneira como Jesus viveu em sua época", mas que de forma alguma interferiria com uma possível entrada de um clero casado.
"A discussão tem que ser muito mais complexa do que simplesmente dizer que na segunda-feira não haverá padres casados e na sexta-feira, sim", acrescentou Gregory. "Enquanto isso, todas essas outras questões devem ser levadas em consideração."
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O Arcebispo de Atlanta denuncia a imobilidade da hierarquia sobre os abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU