04 Outubro 2023
Graças a seu processo de reforma interna lançado em 2020, a delegação alemã chega a Roma com uma vasta experiência em sinodalidade, mas consciente dos limites do exercício que se avizinha.
A reportagem é de Delphine Nerbollier, publicada em La Croix International, 03-10-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A assembleia do Sínodo dos Bispos sobre o futuro da Igreja, que inicia nesta quarta-feira no Vaticano, está suscitando reações cautelosas entre os católicos na Alemanha.
Por trás da “alegria” manifestada pelos oito representantes alemães que participarão do encontro de 4 a 29 de outubro, que está sendo descrito como um grande exercício de “escuta mútua”, estão expectativas modestas e um realismo tingido de impaciência.
Várias coisas estão em questão, como o formato que o Papa Francisco escolheu para esta assembleia sinodal, o fato de que não levará a decisões vinculantes e as tensões com autoridades de Roma que cercearam o Caminho Sinodal da Alemanha.
O bispo Stefan Oster, de Passau, um conservador dentro de uma Igreja alemã que tem ambições reformistas, é um dos delegados da conferência episcopal nacional na assembleia. Ele disse na semana passada que “não esperava um resultado”, mas sim “uma abertura para diferentes perspectivas”. Os outros quatro bispos da delegação, todos considerados com mentalidade reformista, esperam mais do que um “processo aberto”.
“Somos convidados a escutar e a falar livremente. Isso é importante, mas o objetivo é também que a Igreja mude”, disse o bispo Georg Bätzing, de Limburg, presidente da Conferência Episcopal Alemã (DBK).
“Vou a Roma com a pressão de todas as questões urgentes levantadas na Alemanha e no mundo inteiro”, acrescentou, dizendo que gostaria que o papa se vinculasse estruturalmente mais fortemente àquilo que escutará e àquilo que ocorrerá no Sínodo.
Esse entusiasmo limitado pode ser explicado pelo intervalo de tempo entre o trabalho que os católicos alemães já realizaram sobre muitas das questões que não serão discutidas na assembleia sinodal no Vaticano – sinodalidade, moral sexual, o lugar das mulheres, o celibato presbiteral etc. Os bispos e os delegados leigos passaram três anos durante seu Caminho Sinodal analisando esses temas, em um processo que nasceu para responder aos escândalos de abuso sexual.
Desde então, eles adotaram cerca de 15 textos, que vão desde a bênção dos “casais amorosos” ao diaconato das mulheres, assim como à inclusão da diversidade de gênero.
Alguns bispos alemães já decidiram unilateralmente aplicar esses textos em suas dioceses (por exemplo, readmitindo os divorciados recasados aos sacramentos, abençoando casais do mesmo sexo e permitindo registos de batismos de gênero neutro).
“A delegação alemã chega a Roma com a experiência de participação desejada por Francisco, com a experiência do debate e do confronto de ideias sobre temas até agora pouco discutidos. Isso às vezes tem sido doloroso”, disse Thomas Schwartz, padre, presidente da organização beneficente Renovabis e participante da assembleia sinodal.
Realisticamente, os alemães reformistas sabem que estão sendo aguardados especialmente por aqueles que veem o Caminho Sinodal como um risco de “cisma”. As relações com o Vaticano estão tensas. Inicialmente bastante favorável a esse processo de reforma local, Francisco assumiu desde então uma visão bastante diferente. “A Alemanha tem uma grande e bela Igreja Evangélica; eu não gostaria que houvesse outra”, disse ele em mais de uma ocasião.
“A independência do Caminho Sinodal não é universalmente compreendida, embora tenhamos nos esforçado para manter um contato estreito com o papa”, disse Thomas Söding, vice-presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK).
“O nosso processo de reforma sofre sobretudo de uma má comunicação com Roma, mas isso está mudando”, disse o teólogo leigo de 67 anos que está em Roma este mês e notou um “amplo apoio do exterior”.
Os católicos alemães de mentalidade reformista navegam assim entre o medo e a esperança. Eles estão preocupados que suas ideias sejam diluídas na assembleia sinodal, salientando que a ausência de um grupo de trabalho de língua alemã (esta parece ser a primeira vez) é uma forma de limitar sua influência.
Mas os alemães também esperam aproveitar este tempo de escuta mútua para comunicar melhor seu trabalho, “sem nos apresentarmos como ‘sabe-tudos’, mas sim como construtores de pontes”, descreveu Söding.
Dom Franz-Josef Overbeck, bispo de Essen, disse que é importante que os “grandes temas” do Caminho Sinodal sejam abordados em Roma, “desde o papel das mulheres até à questão da sexualidade e à questão das pessoas que se amam”.
Em todo o caso, a assembleia sinodal no Vaticano não marca o fim da jornada sinodal da Alemanha. O Caminho Sinodal foi dissolvido em meados do ano, após quatro anos de trabalho, mas o processo continua com o lançamento, em novembro, de um comitê sinodal.
Entre suas tarefas, estará a conclusão do trabalho inacabado sobre determinados temas e o lançamento das bases para um conselho destinado a institucionalizar o princípio da sinodalidade na tomada de decisões diocesanas. Em uma postura crítica, quatro bispos conservadores poderão não participar nesta próxima etapa da jornada sinodal da Alemanha.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
As expectativas da Igreja alemã para o Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU