15 Março 2023
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 12-03-2023.
Nem cismas nem explosão de sinodalidade. A Igreja alemã realizou neste fim de semana sua quinta e última assembleia plenária. E, apesar dos numerosos profetas da calamidade, o processo sinodal alemão não terminou, está apenas começando. “Demos um grande passo no aprendizado sinodal”, disse o presidente do episcopado, Georg Bätzing, calmo e sereno. E acrescentou: "A Igreja pode e muda".
Bispos, padres, religiosos e leigos da Igreja Católica alemã concluíram neste fim de semana em Frankfurt um sínodo histórico que encerra um processo iniciado em 2019 em resposta a escândalos de pedofilia na instituição.
Entre as 15 decisões e moções aprovadas no Sínodo, os participantes falaram de forma contundente pela possibilidade de abençoar casais do mesmo sexo a partir de 2026 em toda a Alemanha, bem como para que as mulheres tenham acesso ao diaconato.
Katholische Frauen: "Sehr kleine" Schritte in Richtung Reform bei @DerSynodaleWeg. #SynodalerWeg
— katholisch.de (@katholisch_de) March 11, 2023
https://t.co/2p3s0lWgRt
O diácono assiste o sacerdote durante a missa, podendo celebrar batismos e abençoar casamentos.
O que chama a atenção nessas propostas é que a maioria dos bispos alemães também se pronunciou a favor.
As bênçãos das uniões entre pessoas do mesmo sexo se multiplicarão, previsivelmente. Em vez disso, o acesso das mulheres ao diaconato está sujeito à decisão do papa.
Os cerca de 200 delegados reunidos em Frankfurt não votaram a favor do apelo à ordenação de mulheres ao sacerdócio, iniciativa que suscita mais polêmica.
Com essas iniciativas, os católicos alemães desafiam mais uma vez o Vaticano, que não hesitou em criticar o processo de reforma sinodal iniciado na Alemanha e que considera a homossexualidade um pecado.
As relações tradicionalmente difíceis entre Roma, que nega aos fiéis alemães o direito de mudar a doutrina e as práticas, e os católicos da Alemanha, que consideram o Vaticano muito conservador, não prometem melhorar.
Die fünfte und vorerst letzte #Synodalversammlung des @DerSynodaleWeg ist beendet. In einem ersten Fazit spricht Bischof Georg #Bätzing vom Gelingen des Prozesses: https://t.co/x46O9GqZky
— katholisch.de (@katholisch_de) March 11, 2023
Em 2021, a Congregação para a Doutrina da Fé, que desde 2022 se chama Dicastério, publicou uma nota afirmando que considera a homossexualidade "um pecado", e confirmando a impossibilidade de casais do mesmo sexo receberem o sacramento do matrimônio.
No entanto, nos últimos dois anos, alguns padres católicos organizaram cerimônias em toda a Alemanha para abençoar casais do mesmo sexo. A votação desta semana pode ampliar o fenômeno.
Com pouco mais de 21,5 milhões de fiéis em 2021, pouco mais de um quarto da população, a religião católica continua sendo a primeira confissão na Alemanha, seguida pelas igrejas protestantes.
No entanto, na última década perdeu cerca de três milhões de fiéis e está tendo dificuldades para encontrar novos sacerdotes.
Irme Stetter-Karp, presidente do Conselho Central dos Católicos Alemães, a principal organização secular, disse que gostaria de "mais", embora tenha saudado as iniciativas do sínodo, incluindo um apelo ao Papa Francisco para rever o celibato obrigatório para os padres. "Esta Igreja não pode continuar assim", disse ele.
Am Ende einer kontroversen Diskussion gab es lange Applaus: @DerSynodaleWeg fordert mehr Teilhabe von #Frauen in der #Kirche – auch mit der Mehrheit der #Bischöfe. https://t.co/FTYscdvAAx
— katholisch.de (@katholisch_de) March 11, 2023
O anseio por uma reforma liberal no país de Lutero teme entre os detratores dessas mudanças um novo cisma, como nos primórdios do protestantismo. Mas os católicos alemães negam que tal risco exista.
"O caminho sinodal não leva à divisão nem aponta para o início de uma Igreja nacional" na Alemanha rompendo com o Vaticano, disse no sábado dom Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal Alemã.
Segundo este bispo, que recentemente criticou diretamente o Papa Francisco, é preciso fazer reformas para garantir o futuro da Igreja Católica na Alemanha.
Nesse sentido, Stetter-Karp indicou que quem leva a sério o escândalo da pedofilia na Igreja “deve trabalhar claramente em mudanças estruturais”.
Segundo uma pesquisa realizada em 2018, 3.677 crianças foram vítimas de violência sexual na Alemanha, nas mãos de 1.670 membros do clero, entre 1946 e 2014. Entre essas vítimas, a maioria era meninos com menos de 13 anos.
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Georg Bätzing, após o processo sinodal alemão: “A Igreja pode e muda” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU