15 Março 2023
Bispos e leigos católicos da Alemanha completaram três anos de trabalho, ratificando propostas de reforma da Igreja que agora devem ser discutidas com o Vaticano.
A reportagem é de Delphine Nerbollier, publicada em La Croix International, 13-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Igreja Católica na Alemanha finalmente completou seu altamente divulgado “Caminho Sinodal” (der Synodale Weg), um projeto de reforma eclesial que os bispos lançaram há três anos, junto com lideranças leigas, em resposta à crise dos abusos sexuais clericais no país.
A quinta e última assembleia do Caminho Sinodal foi concluída com uma nota positiva no sábado passado em Frankfurt, e a sensação de alívio foi palpável.
É verdade que os debates às vezes foram acalorados e, mais surpreendentemente, que o bispo Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal Alemã (DBK), teve que alertar alguns de seus coirmãos bispos para não fazerem nenhuma tentativa de última hora de bloquear as propostas. Mas, no fim, quase todos os textos apresentados foram aprovados pela assembleia sinodal e por dois terços dos bispos.
Uma das principais medidas diz respeito às bênçãos para “casais comprometidos”, sejam eles divorciados e recasados ou entre pessoas do mesmo sexo. As sanções disciplinares contra agentes de pastoral que organizam tais celebrações podem agora ser levantadas. Embora a prática já esteja ocorrendo em algumas dioceses da Alemanha e permaneça a critério dos bispos, em breve ela poderá se tornar uma realidade em todo o país, já que 81% dos bispos aprovaram essa medida.
Outra medida central, longamente aplaudida pelos participantes, é que a Igreja Católica na Alemanha diz querer dar mais atenção às pessoas intersexuais e transexuais. Seguindo o exemplo da Diocese de Friburgo, pioneira nesse campo, agora será possível omitir o campo correspondente na certidão de batismo ou usar a palavra “misto” para crianças cuja identidade de gênero não é clara. Os católicos trans também poderão alterar seu estado civil e seus nomes na certidão de batismo.
A assembleia sinodal também aprovou textos que requerem a aprovação do Papa Francisco. Entre outras coisas, o Caminho Sinodal pede-lhe que permita que as mulheres preguem nas celebrações eucarísticas e que reexamine a ligação entre as funções ministeriais e a obrigação do celibato.
No fim de um emocionante debate final no sábado, os participantes também aprovaram um texto em favor das diáconas e pediram aos bispos alemães que pressionem a questão em Roma. O tema da ordenação presbiteral de mulheres, no entanto, foi adiado a pedido de alguns bispos.
“O diaconato para as mulheres está há muito atrasado”, disse o bispo Gebhard Fürst, de Rottenburg-Stuttgart. Ele citou o Sínodo de Würzburg, que já havia pedido isso em 1974.
O papa e alguns cardeais têm criticado cada vez mais o processo de reforma da Alemanha nas últimas semanas. A certa ponto, Francisco chegou a chamá-lo de “elitista”. Mas, embora tais críticas pairassem sobre as discussões em Frankfurt, elas não interromperam o impulso.
Assim, a proposta aprovada em setembro passado para a constituição de um conselho sinodal deve vir à tona, apesar das críticas de Roma. A assembleia de Frankfurt elegeu os membros da comissão responsável pela sua criação.
“O Caminho Sinodal funcionou. Não é um tigre de papel”, disse Dom Bätzing, observando que 15 textos de reforma foram adotados ao longo dos últimos três anos. “Ele não leva a uma divisão da Igreja nem à criação de uma Igreja nacional”, insistiu, chamando os “ventos contrários” de uma “reação à força espiritual” do processo.
Outras pessoas estavam menos entusiasmadas.
Irme Stetter Karp, presidente do Comitê Central dos Católicos (ZdK) e copresidente do Caminho Sinodal, saudou uma “nova cultura do diálogo”. Mas lamentou que “um pequeno grupo de bispos impediu uma mudança estrutural na Igreja”.
Os chefes de três dioceses da Baviera (Regensburg, Passau e Augsburg), assim como o bispo de Münster e o cardeal-arcebispo de Colônia se opuseram quase sistematicamente aos textos de reforma.
As decisões que são diretamente aplicáveis nas dioceses, como a bênção de casais do mesmo sexo, ainda não foram implementadas. Aquelas que exigem a aprovação papal devem passar agora por um novo processo, e Dom Bätzing alertou que isso “levará tempo”. O presidente do DBK pediu às autoridades vaticanas “que não respondam de forma burocrática”, mas por meio de um “processo aberto e sinodal”.
“As questões que discutimos aqui não são puramente alemãs, mas são levantadas pela Igreja universal”, insistiu. Bätzing quer agora mais do que nunca trazê-las à tona antes da reunião internacional do Sínodo em Roma.
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Católicos alemães concluem seu Caminho Sinodal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU