08 Mai 2023
Alfredo Infante recebe o Prêmio Liberdade de Pensamento, outorgado pela Universidade Católica Andrés Bello.
A reportagem é de Ángel Alberto Morillo, publicada por Vida Nueva, 07-05-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Vivemos em um país subjugado por uma coalizão dominante, autocrática com vocação totalitária, que teme o pensamento livre e responsável.”
Essas foram as palavras de Alfredo Infante, provincial da Companhia de Jesus na Venezuela, após receber o prêmio ao valor democrático Francisco José Virtuoso, na categoria Liberdade de Pensamento, em sua edição de 2023.
Esse é um prêmio outorgado pela Universidade Católica Andrés Bello por meio do Centro de Estudos Políticos e de Governo e que pegou o padre jesuíta de surpresa, pois “confesso que, quando fiquei sabendo do nome do prêmio, sorri. Foi curioso para mim que um padre fosse reconhecido na categoria de Liberdade de Pensamento”.
Ele reconheceu que “é um grande compromisso, primeiro porque eu não esperava; segundo, porque não sei se estou à altura dele, mas, se quem me elegeu assim julgou, assumo com agradecimento e responsabilidade em nome daqueles que estão convencidos de que o ato de pensar livre e responsavelmente é um ato humanizador”.
Infante lamentou que “os venezuelanos vivam em um país subjugado por uma coalizão dominante, autocrática com vocação totalitária, que teme o pensamento livre e responsável, porque perturba seus interesses de poder e, por isso, tem procurado por todos os meios restringir o ato de pensar e comunicar”.
Ele apresentou várias razões: restrições ao acesso à informação pública, que, segundo a ONG Espacio Público, “na Venezuela, restringe-se a informação de alto interesse público. De 172 solicitações de informação feitas entre 2017 e 2020, 89% delas não foram respondidas”.
Além disso, a informação científica e acadêmica é “um insumo importante para pensar e produzir ideias com ética, a partir da perspectiva do bem comum”. Por isso, “hoje em nosso país as universidades e as ONGs de desenvolvimento social e de direitos humanos se veem na enorme tarefa de levantar, sistematizar e produzir informação com método e rigor científico, ainda que seus resultados não possam ser confrontados com as informação produzida pelo Estado”.
Por outro lado, a sistemática violação da “liberdade de expressão por meio do assédio, da perseguição e do fechamento de meios de comunicação impressos, televisivos, radiofônicos e na internet. E a Conatel (entidade fiscalizadora do regime) mantém os meios que estão no ar sob ameaça, com uma ‘faca no pescoço’”.
A esse respeito, explicou o jesuíta, o Espacio Público assinalou que “a política estatal tem como objetivo explícito ou subjacente a construção social do medo de se expressar e, com isso, reduzir a circulação de conteúdos críticos à gestão governamental”.
Como resultado de tudo isso, gera-se um efeito cascata. “A violação do acesso à informação impede o acesso à fonte para fundamentar o pensamento; a violação do direito à liberdade de expressão limita e restringe a circulação e o debate de ideias próprios de uma democracia, mas, pior ainda, a atual derrocada educacional põe em risco de extinção o sujeito pensante”.
Em suma, para que “haja liberdade de pensamento, devemos reabilitar a educação, porque é a única forma para que haja um sujeito pensante e uma cultura democrática. Essa é a pretensão do poder: aniquilar a fonte, a expressão e o sujeito pensante produtor de ideias. Uma espécie de logofobia a partir do poder”.
O poder pode aniquilar a liberdade de pensamento? O padre responde: “Não. A história nos mostra que, no fundo, essa é uma pretensão vã, e eu a represento simbolicamente com uma cena do Evangelho, a da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém que nos é apresentada por São Lucas, na qual os fariseus se dirigem a Jesus e exigem que ele cale sua discípulos, e a resposta de Jesus é contundente: ‘Se eles se calarem, as pedras falarão’”.
Para Infante, “o poder sempre teme que o verbo, o logos, a luz se faça carne e transforme a história. E aí reside a nossa esperança, o fundamento espiritual da liberdade de pensar responsavelmente”.
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Venezuela. “Vivemos em um país subjugado por uma coalizão dominante que teme o pensamento livre e responsável” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU