Opção Francisco: fim da consolação. Artigo de Armando Matteo

Opzione Francesco | Foto: divulgação

28 Janeiro 2023

"Em cada época, o cristianismo sempre aparece como ingrediente essencial para viver o tempo da vida adulta da melhor maneira possível. Pois bem, é justamente a fase da adultez que, com a mudança de época, sofreu a mais radical e rápida mudança de sentido e signo. Passamos assim de uma vida adulta curta, oprimida pelo trabalho braçal, pela escassez de recursos materiais, pela fome, pelas doenças, pelas guerras, pelas frustrações quotidianas, a uma condição adulta cada vez mais caracterizada pela liberdade, pelo poder, pela possibilidade de fruição e experiências contínuas", escreve o teólogo italiano Armando Matteo, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana e subsecretário adjunto da Congregação para Doutrina da Fé, em artigo publicado por Vita Pastorale e republicado por Settimana News, 26-01-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

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Opzione Francesco | Foto: divulgação

Eis o artigo.

O primeiro e essencial conteúdo da Opção Francisco trata da urgência de uma mudança na mentalidade pastoral, ou seja, nas modalidades como a comunidade dos crentes, de época em época, leva Jesus a todos e todos a Jesus. A mentalidade pastoral atualmente vigente não é, de fato, mais eficaz. As palavras e os gestos com que os crentes apresentam Jesus aos seus contemporâneos e procuram suscitar nos seus corações o desejo de Jesus carecem agora completamente daquela atratividade que os poderia impelir para tal meta.

No centro dessa dificuldade, para a Opção Francisco, encontra-se um fato simples: os crentes inspiram sua ação pastoral (suas palavras e seus gestos) a uma categoria que já não aparece mais central no universo existencial atual: a categoria da consolação, restituindo publicamente a imagem da experiência cristã como um espaço onde se pode aceder a ela. Se também é verdade que tal forma de apresentar a fé cristã, em nome da consolação, funcionou muito bem, hoje é completamente fora de sintonia. E isso porque desapareceram as condições que levaram os crentes naquela direção.

Fora do "vale das lágrimas"

Aqui está em jogo a condição adulta do destinatário da mensagem evangélica. Em cada época, o cristianismo sempre aparece como ingrediente essencial para viver o tempo da vida adulta da melhor maneira possível.

Pois bem, é justamente a fase da adultez que, com a mudança de época, sofreu a mais radical e rápida mudança de sentido e signo. Passamos assim de uma vida adulta curta, oprimida pelo trabalho braçal, pela escassez de recursos materiais, pela fome, pelas doenças, pelas guerras, pelas frustrações quotidianas, a uma condição adulta cada vez mais caracterizada pela liberdade, pelo poder, pela possibilidade de fruição e experiências contínuas.

Até para os nossos pais e para os nossos avós era plenamente verdade o que diz a oração Salve rainha sobre este mundo: que é um vale de lágrimas. E foi precisamente neste vale de lágrimas que a experiência cristã se propunha oportunamente como lugar de consolação e contenção da angústia adulta de estar irremediavelmente confrontado com a árdua tarefa de viver.

Daqui compreende-se o pano de fundo e o fundamento da mentalidade pastoral do passado, com a importância atribuída ao pecado - original e dos indivíduos - na apresentação do tema da salvação e da fé, com a centralidade do sofrimento em consideração à redenção trazida por Cristo, com referência constante a Maria como modelo supremo de prontidão e obediência ao desígnio divino, com a ampla devoção dos santos, muitos dos quais especializados em um específico âmbito de saúde, com o adiamento de qualquer recompensa e qualquer justiça em relação às injustiças sofridas ao destino sobrenatural do paraíso que aguarda aqueles que vivem seguindo as indicações morais e os preceitos da Igreja.

Mas nós e nossos contemporâneos não somos mais os nossos pais e não somos mais os nossos avós.

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