05 Junho 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo João 3,16-18 que corresponde à Festa da Trindade, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto.
Ao longo dos séculos, os teólogos fizeram um grande esforço para aproximar-se do mistério de Deus, formulando com diferentes construções conceituais as relações que vinculam e diferenciam as Pessoas Divinas no seio da Trindade. Esforço, sem dúvida, legítimo, nascido do amor e desejo de Deus.
Jesus, no entanto, não segue esse caminho. A partir da sua própria experiência de Deus, convida seus seguidores a relacionar-se de forma confiada com Deus Pai, a seguir fielmente seus passos de Filho de Deus encarnado, e a deixar-nos guiar e alentar pelo Espírito Santo. Ensina-nos assim a abrir-nos ao mistério santo de Deus.
Antes de tudo, Jesus convida seus seguidores a viver como filhos e filhas de um Deus próximo, bom e afetuoso, a quem todos podemos invocar como Pai querido. O que caracteriza este Pai não é seu poder e força, mas sua bondade e compaixão infinitas. Ninguém está sozinho. Todos têm um Deus Pai que nos compreende, nos quer e nos perdoa como ninguém.
Jesus mostra-nos que este Pai tem um projeto nascido do seu coração: construir com todos seus filhos e filhas um mundo mais humano e fraterno, mais justo e solidário. Jesus chama-lhe «reino de Deus» e convida todos a entrar nesse projeto do Pai, procurando uma vida mais justa e digna para todos, começando com seus filhos mais pobres, indefesos e necessitados.
Ao mesmo tempo, Jesus convida seus seguidores a que confiem também nele: «Não se perturbe vosso coração. Acreditais em Deus; acreditai também em mim». Ele é o Filho de Deus, imagem viva do seu Pai. Suas palavras e gestos mostram-nos como nos quer o Pai de todos. Por isso convida a todos a segui-Lo. Ele nos ensinará a viver com confiança e docilidade ao serviço do projeto do Pai.
Com seu grupo de seguidores, Jesus quer formar uma família nova onde todos procurem «cumprir a vontade do Pai». Esta é a herança que quer deixar na terra: um movimento de irmãos e irmãs ao serviço dos mais pequenos e desamparados. Essa família será símbolo e germe do novo mundo, querido pelo Pai.
Para isso, precisam acolher o Espírito que alenta o Pai e o Seu Filho Jesus: «Vós recebereis a força do Espírito Santo, que virá sobre vós, e assim sereis Minhas testemunhas». Este Espírito é o amor de Deus, o alento partilhado pelo Pai e o Seu Filho Jesus, a força, o impulso e a energia vital que fará dos seguidores de Jesus suas testemunhas e colaboradores ao serviço do grande projeto da Santíssima Trindade.
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