Vulnerabilidade social é motor da pandemia de Covid-19 em Terras Indígenas, mostra estudo

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25 Abril 2020

Modelo do ISA e da UFMG aponta quais são os territórios mais expostos ao novo coronavírus; campeão da lista está em município de SP.

A reportagem é de Clara Roman, publicada por Instituto Socioambiental – ISA, 23-04-2020.

Estudo do Instituto Socioambiental (ISA), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta quais são as Terras Indígenas (TI) mais vulneráveis à pandemia da Covid-19 no Brasil. Os resultados mostram que as condições de acesso às Tis e o contexto socioeconômico podem ter um pesos decisivos na maior exposição da doença, funcionando como um motor para a expansão do novo coronavírus. Outro fator importante é a existência de transmissão comunitária sustentada da doença perto dos territórios.

A projeção mostra um conjunto de 151 Terras Indígenas que apresentam índices de vulnerabilidade acima da média. A Terra Indígena Barragem, em São Paulo, é a campeã do ranking. Em seguida, vem a Terra Indígena Yanomami. Em terceiro, a Terra Indígena Jaraguá, localizada em São Paulo. Em quarto, a Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas, que concentra o maior número de registros de povos indígenas isolados de todo o Brasil. Leia aqui o estudo na íntegra.

As campeãs do ranking mostram dois cenários bem distintos: um deles é o de Terras Indígenas em territórios urbanos, com pouco espaço, e uma população confinada e marginalizada. É o caso da TI Barragem e da TI Jaraguá, ambas em São Paulo. A maior cidade do país é o epicentro da doença e foi a primeira a ter transmissão sustentada do vírus.

No caso da Jaraguá, habitada pelo povo indígena Guarani Mbya, cerca de 3,4% de sua população ocupa a faixa etária acima dos 60 anos, mais propensa a desenvolver os sintomas graves da Covid-19. Os Guarani Mbya têm apenas dois hectares assegurados, enquanto outros 530 ha aguardam pela homologação pelo presidente da República. Outras duas TIs no Estado de São Paulo também figuram entre as mais vulneráveis: Guarani do Krukutu e Rio Branco, no litoral sul.

Já na TI Yanomami e Vale do Javari, o risco é outro: as duas estão muito distantes de qualquer infraestrutura de saúde. Recorrer a cidades próximas (Manaus e Boa Vista) e enfrentar viagens longas é uma opção arriscada, pois os sistemas de saúde estão sobrecarregados. Nos casos mais graves da Covid-19, os pacientes apresentam síndrome respiratória aguda e precisam de respiradores para sobreviver. Além disso, as duas Tis sofrem com invasões, que podem ser o vetor da doença.

No caso da TI do Vale do Javari, a presença constante de missionários é fator de risco, já que eles podem levar a doença para dentro do território. Apenas 5% da população tem mais de 60 anos. “O desaparecimento dos mais velhos pode implicar consequências irreversíveis para patrimônio cultural dos povos do Javari”, aponta o estudo. Manaus (AM), a capital mais próxima,está com o sistema em colapso e não tem mais respiradores disponíveis. Nos últimos dias, a cidade teve de abrir valas comuns para enterrar as vítimas da Covid-19. Em Roraima, a TI Raposa Serra do Sol e a TI Waimiri Atroari (na divisa com o Amazonas) também figuram no ranking das mais vulneráveis.

Essas Terras Indígenas também têm em comum o perfil jovem da população, com menos de 5% de pessoas nas faixas etárias acima dos 60 anos de idade. Essa característica demográfica sugere níveis altos de mortalidade por falta de assistência médica adequada. A situação é agravada pela pandemia, com possíveis perdas populacionais em todas as faixas etárias.

Além de São Paulo, Amazonas e Roraima, Terras Indígenas nos estados do Ceará, Rio Grande do Sul e Bahia também entraram no radar de atenção (como pode ser visto no mapa disponível aqui).

“Acreditamos que um modelo como esse pode identificar e priorizar regiões mais vulneráveis que podem ser olhadas com mais atenção para a otimização de recursos públicos, por exemplo. A ideia é olhar para regiões que estão mostrando um alto grau de vulnerabilidade, a fim de acender um sinal amarelo para que a saúde indígena possa intensificar alguma ação, como a busca ativa por novos casos”, conclui Antonio Oviedo, um dos autores do estudo.

Fontes para o estudo

Para a elaboração do estudo, os pesquisadores utilizaram os modelos de probabilidade de dispersão da Covid-19 criados pelo Grupo de Métodos Analíticos de Vigilância Epidemiológica (MAVE), compostos pelo PROCC/Fiocruz e Emap/FGV.

Também foram utilizados dados de contaminação por Covid-19 das secretarias estaduais de saúde, informações demográficas das Terras Indígenas, dados sobre leitos hospitalares de UTI e respiradores, obtidos a partir da base de dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), e estimativas de hospitalização e fatalidades. Também foram considerados dados de acessibilidade, um mapa global que calcula distância entre localidades a partir de mapas de estradas e rios.

Estudos recentes mostram que a introdução de vírus respiratórios em comunidades indígenas apresenta um alto potencial de dispersão, resultando em altas taxas de internação, como foi o caso da H1N1. Como a Covid-19 é uma doença nova, não há informações e estudos suficientes, mas se pode afirmar que esse cenário impõe desafios para os povos indígenas e o sistema de assistência à saúde indígena.

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