Tomar conta da catástrofe. Depois do relatório da FAO sobre segurança alimentar no mundo

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13 Setembro 2018

As mudanças climáticas, juntamente com os conflitos em várias partes da Terra, estão causando um aumento da fome e da crise alimentar no mundo. Estas são as descobertas dramáticas do documento detalhado da FAO "The state of food security and nutrition in the world 2018", divulgado em 11 de setembro, que indica a probabilidade do fracasso do objetivo da ONU "Fome Zero em 2030".

A reportagem é de Carlo Triarico, publicada por L'Osservatore Romano, 12/13-09-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

No entanto, os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da ONU (Sustainable, Development Goals) para erradicar a fome são claros: é preciso garantir a disponibilidade de alimentos para as populações pobres com continuidade sazonal; intervir imediatamente em crianças menores de 5 anos, adolescentes, mulheres grávidas e lactantes e idosos; dobrar a produtividade agrícola e a renda da agricultura familiar e camponesa, especialmente de mulheres, indígenas, pescadores, pastores, agricultores e pequenos produtores; garantir o acesso justo à terra, ao conhecimento, aos mercados, aos recursos e serviços às populações; garantir a produção sustentável de alimentos e aumentar as práticas agrícolas resilientes, que salvam produtividade, ecossistemas e qualidade dos solos; salvar a biodiversidade de sementes, plantas e animais domésticos e silvestres e promover a soberania alimentar através do acesso e justa partilha de benefícios derivados do uso de recursos genéticos globais e conhecimentos tradicionais associados. Mas também limitar às funções próprias do mercado das commodities alimentares e derivados financeiros, com a transparência na distribuição e disponibilidade real de alimentos para limitar a volatilidade dos preços dos alimentos.

A estratégia definida pelos principais cientistas do mundo para o desenvolvimento - como resulta pelo documento da FAO – não é, portanto, aquela das grandes infraestruturas, dos latifúndios e produções mundiais baseadas em monoculturas, das patentes sobre os alimentos, das legislações que permitem que a especulação financeira sobre matérias primas alimentares contra as necessidades alimentares do planeta. O caminho é, ao contrário, a ecologia integral, o desenvolvimento humano integral, o aumento de tecnologias leves, as micro-infraestruturas distribuídas capilarmente e para todos, um desenvolvimento possibilitado graças à cultura e à produtividade dos mais pobres. Para a comunidade internacional, o preceito cristão "primeiro os últimos" tornou-se, assim, também um método técnico e científico para salvar o destino planetário.

O caminho fóssil da economia e a revolução verde são considerados hoje como opções perdedoras e as mudanças climáticas e políticas associadas a elas destacam sua natureza dramática. A segunda parte do estudo da FAO expõe com precisão os dados dos desastres ambientais, com danos para todos, causados pelo sistema. Basta dizer que oitenta por cento das perdas na agricultura são estimadas como resultado da seca generalizada, que agora afeta permanentemente 27 países (19 na África).

As terras são frequentemente disputadas pelos senhores da guerra, financiados e armados pelos interesses dos países ricos para se apropriar de terras cultiváveis. A chuva está concentrada em um menor número de dias do que no passado e as precipitações são cada vez mais violentas e aumentam a erosão do solo em grande parte do mundo. As inundações aumentaram em 65% nos últimos 25 anos. Estima-se que os países que sofreram danos climáticos baixos ou moderados eram 83% entre 1996 e 2000, mas se tornaram 96% entre 2011 e 2016, ou seja, quase a totalidade.

Uma leitura ingênua do fenômeno frequentemente leva a pensar que seja pura loucura continuar com uma política que, em última análise, mina o futuro de todos, mesmo dos mais poderosos. Na realidade, o século XX já mostrou que a loucura máxima das ações pode ser acompanhada de extrema racionalidade, de uma lógica férrea que leva ao ponto da catástrofe. De fato, quem tira maior vantagem imediata dos danos climáticos são justamente aqueles que mais os causam. O derretimento do gelo do Ártico, por exemplo, abre o caminho para as companhias petrolíferas para a extração de novos campos de petróleo que antes eram inacessíveis e, para os grandes grupos, rotas de comércio Leste-Oeste facilitadas.

Há enriquecimento por trás da desordem estabelecida, d guerra mundial puntiforme. É chamada de nova corrida do ouro, certamente uma ilusão de curta duração, embora seus efeitos sejam fenômenos como a fuga das populações da Groenlândia e norte da Noruega, a inundação em poucos anos de ilhas do Pacífico habitadas e de zonas costeiras intensamente antropizadas, eventos climáticos extremos nas áreas mais frágeis, secas e altas temperaturas no interior, fome e grandes migrações.

Sabemos que, no final, para o sistema gerado, a inundação de Xangai causaria colapsos nas bolsas de valores de Nova York, mas no final. O que é necessário, em vez disso, é razão e sabedoria para compor imediatamente uma política global das plataformas e dos processos em que a resiliência climática é combinada com o desenvolvimento sustentável, sabendo que o desenvolvimento agora não coincide com o crescimento dos consumos, do desperdício de riquezas, ou com a guerra para a conquista dos recursos alheios.

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