Caso McCarrick. Bispos vão precisar fazer muito mais para reconquistar a confiança

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03 Agosto 2018

"Para recuperar a credibilidade, os bispos precisarão não só investigar isso, como também serem transparentes e responsáveis pela maneira como o fazem. Quaisquer que sejam as respostas terão exatamente a mesma credibilidade que o processo empregado para produzi-las", escreve John L. Allen Jr., jornalista, em artigo publicado por Crux, 02-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

Desde que as notícias surgiram sobre abuso sexual e acusações de conduta imprópria contra o ex-cardeal Theodore McCarrick em junho, a principal questão era quais seriam as medidas de responsabilização caso as acusações tivessem mérito. O sentido generalizado era que o Papa Francisco precisaria dar um exemplo para mostrar que ninguém no sistema católico é “intocável” no que diz respeito à proteção infantil.

A segunda, e igualmente imediata questão, era que os bispos dos Estados Unidos poderiam ter conhecimento das acusações contra McCarrick, ou pelo menos suspeitas. É basicamente uma questão de: Quem sabia? Quando eles souberam? O que eles fizeram na época ou desde então?

O Vaticano, para todos os efeitos, respondeu à primeira pergunta em 28 de julho, anunciando que Francisco havia aceitado a renúncia de McCarrick do Colégio Cardinalício - primeira vez histórica nos Estados Unidos e primeira a nível mundial por um cardeal enfrentando acusações de abuso sexual. Uma declaração também confirmou que um julgamento canônico está em andamento, o que faz com que McCarrick, caso seja considerado culpado, possa ser excluído do sacerdócio.

O cardeal Daniel DiNardo de Galveston-Houston, presidente da Conferência dos Bispos dos EUA (USCCB, sigla em inglês), tentou responder à segunda pergunta ontem, mas apenas de uma maneira que dificilmente satisfaria as demandas de ver os bispos se responsabilizarem pela situação.

DiNardo divulgou uma declaração em quatro partes sobre a situação de McCarrick na quarta-feira, o terceiro ponto que abordou foi a questão da responsabilidade.

“A Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos prosseguirá as muitas questões que cercam a conduta do Arcebispo McCarrick em toda a extensão de sua autoridade. Onde essa autoridade encontra seus limites, a conferência defenderá com aqueles que a têm. De um jeito ou de outro, estamos determinados a encontrar a verdade neste assunto”, disse DiNardo.

De certa forma, isso é encorajador na medida em que indica que os bispos não estão deixando a responsabilidade para Roma, ou convenientemente invocando cooperação com autoridades civis para fugir de seu próprio dever de examinar a questão. É animador, com certeza, ouvir os bispos expressarem determinação para chegar à verdade.

Contudo, essas são as óbvias omissões na declaração de DiNardo:

  • Nenhuma indicação de que os bispos irão “perseguir as muitas questões que cercam a conduta do arcebispo McCarrick”;
  • Nenhuma noção de quem estará envolvido nesta investigação e como eles foram escolhidos;
  • Quando a investigação começar, qual o período de tempo previsto para o trabalho e para quando a conferência completa e o público católico pode esperar um relatório?

Talvez fosse prematuro abordar esses pontos na declaração de quarta-feira, especialmente se, como a formulação parecia sugerir, o comitê executivo da conferência se reunirá para concordar com as linhas gerais de uma resposta.

No entanto, essa informação terá que ser lançada em breve, porque simplesmente dizer ao público que "temos a situação sob controle" não vai ser suficiente. As pessoas precisarão saber o que está sendo feito, quem está fazendo e por quanto tempo terão que esperar antes que as respostas comecem a fluir.

Embora as bases católicas na América estejam acostumadas a surtos de escândalo, o caso McCarrick foi especialmente impactante por algumas razões bastante óbvias.

Primeiro, ele era cardeal. Não é a ideia de que um Príncipe da Igreja não possa ser culpado de um pecado realmente chocante - os católicos aprenderam a ser realistas em tais assuntos -, mas a sensação de que o tratamento preferencial pode ter estado envolvido. Se assim for, isso prejudicaria seriamente as reivindicações de uma política uniforme de "tolerância zero".

Segundo, a palavra de ordem no comentário sobre o fiasco de McCarrick desde o início tem sido “todo mundo sabia”. Para a maioria dos católicos, a pergunta é: “Se todos sabiam, por que ninguém fez alguma coisa até agora?”

Responder a essa pergunta neste estágio é principalmente responsabilidade dos bispos americanos, não do Vaticano ou de qualquer outra pessoa. Para recuperar a credibilidade, os bispos precisarão não só investigar isso, como também serem transparentes e responsáveis pela maneira como o fazem. Quaisquer que sejam as respostas terão exatamente a mesma credibilidade que o processo empregado para produzi-las.

De certo modo, os bispos provavelmente precisarão estabelecer um processo claro para relatar alegações contra outros bispos. Neste momento, o católico comum sabe onde levar queixas contra os padres, mas pode ficar desconcertado sobre onde ir quando a acusação envolve um bispo. A declaração de quarta-feira é um começo encorajador, mas será necessário muito mais antes que alguém esteja disposto a dar crédito aos bispos.

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