Gualtiero Bassetti, novo presidente dos bispos italianos, um pastor "com cheiro de ovelha"

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

25 Mai 2017

Comentando a sua nomeação como presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI) pelo Papa Francisco, o cardeal Gualtiero Bassetti disse: “É realmente um sinal de que ele acredita na capacidade dos velhos de sonhar...”.

A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por L’HuffingtonPost.it, 24-05-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Aos bispos da Itália, o Papa Francisco havia pedido audácia e a capacidade de transformar a realidade em algo novo, porque Deus não se contenta com as coisas assim como estão, e Deus também não faz parte do partido do “sempre se fez assim”. E foi o que aconteceu com a Igreja italiana, da qual o papa é o primaz. Apesar de ter chegado ao trecho final da sua vida, como ele mesmo ressaltou em uma breve declaração, Bassetti guiará a CEI.

A prática bem tradicional de adiamentos burocráticos mais ou menos automáticos para uma missão que, às vezes, se transforma em uma verdadeira carreira, mesmo que eclesiástica, com o seu cursus honorum, tinha convencido muitos de que o “queridinho” de Francisco permaneceria “alvejado”, como se diz entre os militares, com indisfarçável satisfação, por inevitáveis limites de idade.

Mas o papa – para Bassetti – fez, em três anos, uma dupla inovação: nomeou-o cardeal, como arcebispo de Perugia que, há mais de 100 anos, não é sede de “barretes vermelhos”, e, há poucos meses, ao completar 75 anos (idade da renúncia), o papa não só o prorrogou, mas também fez isso por nada menos do que cinco anos, até os 80 anos completos.

Outro sinal de uma predileção (que é o modo de escolher do Evangelho) que fez eclodir imediatamente os boatos e até mesmo o descontentamento entre aqueles que temem uma CEI ultrabergogliana (depois da nomeação como secretário-geral de Dom Nunzio Galantino), porque um movimento tão claro de Francisco colocaria Bassetti logo na pole position para o cargo. Como aconteceu, de fato.

Portanto, é preciso se perguntar quem é esse prelado, a ponto de ser o destinatário da escolha do papa (ele também o quis como autor das meditações da Via Crucis de 2016, o Ano Jubilar da Misericórdia). É fácil de entender. Um homem manso, com “o cheiro das ovelhas” (nessa terça-feira, ele logo lembrou dos jovens da comunidade de Mondo X, do frei Eligio) e pronto para um caminho “sinodal” com os outros bispos italianos.

Herdeiro do catolicismo da Toscana, dos La Pira e dos Pe. Milani (em Barbiana, em 20 de junho, Bassetti vai acompanhar o papa na sua primeira aparição pública), poucos sabem que éle foi discípulo de um grande místico toscano do pós-Concílio. Uma figura carismática, um padre de Florença, Divo Barsotti (que foi diretor espiritual de Dossetti), do qual, no dia 16 de junho de 2016, o recém-eleito apresentou os escritos inéditos na Câmara dos Deputados da Itália. Por causa de tantas pessoas que tinham se inscrito, a presidência concedeu a Sala da Rainha, e, na casa da política italiana, entrou em cena um “estranho” evento de um debate sobre os escritos de um “homem do nosso tempo, entre mística e política” (com ele, estava o presidente da Comissão Moro, deputado do Partido Democrático, Giuseppe Fioroni, e Dom Lorenzo Leuzzi, reitor da Igreja de São Gregorio Nazianzieno, a capela do Parlamento).

Justamente a capacidade de dialogar também com as instituições civis era um dos perfis exigidos pelos bispos italianos para o seu novo chefe, em um momento delicado da vida do país e com a aproximação das novas eleições.

Bassetti, além disso, tem muito em comum com o seu antecessor, o cardeal Gioacchino Pecci (que se tornou o Papa Leão XIII), e que, antes, foi bispo de Perugia de 1846 a 1878, tendo entrado para a história como o “papa reformador e social” e o “papa dos trabalhadores”, que, ao escrever a encíclica Rerum novarum, formulou os fundamentos da Doutrina Social da Igreja.

Bassetti, de fato, é um pastor muito sensível às problemáticas sociais, em particular ao mundo do trabalho e aos pobres. Desde o seu breve mas intenso episcopado a serviço da Diocese de Massa Marittima-Piombino, o novo presidente da CEI estava perto das famílias dos mineiros e dos trabalhadores das siderúrgicas que lidavam com uma crise difícil. Proximidade com o mundo do trabalho também vivida quando era bispo da Diocese de Arezzo-Cortona-Sansepolcro. Ele não perdeu nenhuma oportunidade para fazer ouvir a voz da Igreja em diversas situações difíceis acentuadas pela contínua crise econômica.

Francis Rocca, do Wall Street Journal, escreveu em um tuíte: “Se o cardeal de Perugia não era um papável antes da sua eleição a chefe da Conferência Episcopal, agora ele é”. Seria o retorno de um italiano. Quem sabe.

Leia mais