O ódio da direita farisaica contra o papa anticlerical

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09 Fevereiro 2017

Clericais que odeiam o Romano Pontífice. Ou, melhor, fariseus. Novos fariseus. Foi o próprio Francisco que os chamou assim em uma das suas meditações matinais na capela de Santa Marta, no dia 13 de dezembro passado: “O clericalismo na Igreja é um mal horrível que tem raízes antigas e sempre tem como vítima o povo pobre e humilde: não por acaso, ainda hoje o Senhor repete aos intelectuais da religião que pecadores e prostitutas os precederão no reino dos céus”. Clericais, de fato, como os chefes dos fariseus do Sinédrio que condenaram Jesus, “homens de poder” que “tiranizavam o povo instrumentalizando a Lei”.

A reportagem é de Fabrizio D’Esposito, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 07-02-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

É este, portanto, o caldo em que amadureceu a última agressão farisaica ao papa “comunista”: aqueles cartazes anônimos colados pelas ruas de Roma entre sexta-feira e sábado à noite. De um lado, a Igreja da misericórdia do pontífice argentino. De outro, a exclusiva adesão à árida Doutrina.

Na história do Vaticano, não é a primeira vez que se contesta o papa, mas hoje, com as redes sociais e a web em geral, o ódio e o protesto se amplificaram de modo novo e sem precedentes. Na segunda-feira, em todos os sites da direita tradicionalista, havia comentários e slogans em favor dos cartazes anônimos. No site Nuova Bussola Quotidiana, de matriz do movimento Comunhão e Libertação, o diretor, Riccardo Cascioli, comparou as investigações da Digos sobre os autores da zombaria mural a uma “reação de regime totalitário”.

São os mesmos sites, mais ou menos, onde Bergoglio é insultado e posto em discussão cotidianamente: artigos sobre o “papa pedinte”, ou “herege”, ou “luterano”, até mesmo “usurpador”. Eis o ponto central: o ódio dessa direita católica ao papa. É isso que torna inquietante o confronto em ação, a tal ponto que um príncipe da aristocracia papalina, Pe. Lillio Ruspoli, chegou a dizer, há uma semana, no Corsera, que acha “inconcebível” a ideia de “desobedecer o papa”.

O apelo do príncipe foi desmentido sete dias depois. E nessa segunda-feira, no Vaticano, muitos notaram algumas coincidências entre o texto dos cartazes anônimos e um editorial do historiador Roberto de Mattei na agência de informação que ele dirige, Corrispondenza Romana, publicado no dia 3 de fevereiro.

Nos ambientes da direita farisaica, De Mattei é um nome conhecido: ex-conselheiro de Gianfranco Fini, hoje dirige também a Fundação Lepanto. Em um artigo intitulado “Um papa violento?”, o historiador como que antecipou as acusações contra Francisco contidas no cartaz colado na noite entre sexta-feira, 3, e sábado, 4: a decapitação da Ordem de Malta e dos http://www.ihu.unisinos.br/noticias/522624-franciscanos-da-imaculada-eis-as-razoes-para-o-comissionamento-vaticano.

Uma simples coincidência, por favor. Assim como sempre, no Vaticano, interrogaram-se sobre o antigo método da direita fascista e depois do Movimento Social Italiano de fazer cartazes anônimos e que, hoje, soa decisivamente obsoleta em tempos de internet.

O próprio Mattei, além disso, desta vez no jornal Il Tempo, interveio no dia 5 de fevereiro para desclassificar como “pasquinada”, ou seja, como “pungente protesto em dialeto romano”, o inquietante ataque anônimo. Deixando de lado as coincidências, os cartazes parecem ser a última peça de uma estratégia antibergogliana que explodiu em dezembro passado, com a crise da Ordem de Malta, quando o Grão-Chanceler Albrecht von Boeselager foi suspenso sob a acusação de ter feito distribuir preservativos na África e na Ásia para combater a Aids.

O grande diretor daquela operação teria sido o cardeal patrono da ordem, Raymond Burke. Estadunidense do Wisconsin e defensor da missa em latim, Burke está entre os quatro cardeais que assinaram as cinco surpreendentes “dubia” contra o papa por causa das aberturas aos divorciados na Amoris laetitia.

Burke e outro cardeal, o italiano Carlo Caffara, ameaçaram até um ato de correção formal contra a Igreja “ignorante” de Francisco. E foi justamente com o caso da Ordem de Malta que esses setores da direita esperaram em vão em uma espécie de golpe de Estado no Vaticano, fazendo explodir a tampa da revolta contra o pontífice. Mas a reação de Francisco foi igualmente forte: reabilitação de von Boeselager e renúncia do Grão-Mestre aliado de Burke.

Os cartazes vistos no sábado de manhã pelos romanos são filhos desse emaranhado de ódio. Depois da breve temporada do Vatileaks 2, anunciada pelos falsos rumores sobre Bergoglio doente com câncer, está em curso uma nova escalada cruel para parar o papa das reformas e da misericórdia. Quem lidera essa cruzada é a nova direita farisaica que sente saudades de Ratzinger e de Bertone, e que, aliás, está prestes a perder outro valoroso guerreiro, como antecipado pelo blog de Sandro Magister: a não prorrogação como bispo de Ferrara de Dom Luigi Negri, que completou os canônicos 75 anos. Há dois anos, Dom Negri saiu com esta frase chocante: “Esperamos que, com Bergoglio, Nossa Senhora faça o milagre como tinha feito com o outro”. O outro era João Paulo I, que morreu depois de 33 dias de pontificado.

Além disso, entre os novos fariseus, há também os grupos de oração que rezam o Santo Rosário contra Bergoglio.

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