19 Outubro 2023
“Somos poucas, mas nos unimos com laços de amor para desobedecer à lógica das guerras e do militarismo”, escreve Mar R. Gimena, da Assembleia Antimilitarista de Madrid, em artigo publicado por El Salto, 15-10-2023. A tradução é do Cepat.
“A guerra é um crime contra a humanidade. Portanto, eu me comprometo a não apoiar qualquer tipo de guerra e a lutar pela eliminação de todas as suas causas”, diz o lema de fundação da Internacional dos Resistentes à Guerra, fundada em 1921. Não somos analistas políticos, somos ativistas contra as guerras e contra a militarização social, e desta posição lemos, nesses dias, as tristes notícias que aparecem em todos os meios de comunicação sobre o que tem sido chamado de “a nova guerra de Israel”.
Há anos, conhecemos e apoiamos algumas das iniciativas que buscam construir um mundo em paz com justiça na Palestina, nos territórios ocupados e no Estado de Israel, com poucas forças e recursos, mas sem nos esquecer especialmente de quem mais sofre, o povo palestino. Grupos de ativistas, de mulheres que pularam os muros e estenderam pontes entre elas, insubmissas ao muro, insubmissas ao serviço militar obrigatório, que apostam no boicote, no desinvestimento e nas sanções... Somos poucas, mas nos unimos com laços de amor para desobedecer à lógica das guerras e do militarismo.
Por esta razão, denunciamos a violência do Estado de Israel, que desenvolve políticas genocidas desde 1947. Seu processo de militarização social é uma engrenagem perfeita que prepara as mentes e os corpos de todas as pessoas para a guerra e coloca todos os recursos que dispõe para desenvolver suas políticas assassinas contra a população palestina.
O recrutamento que obriga todos os homens e mulheres judeus (os palestinos com cidadania israelense e mulheres judias religiosas estão isentos) a passar três e dois anos, respectivamente, no exército israelense, socializa a maioria da população na preparação para a guerra, no treinamento com as armas.
Nós, insubmissas e insubmissos ao serviço militar obrigatório, pagamos pela fidelidade aos princípios éticos e a recusa em obedecer cegamente com a prisão, o desprezo da sociedade e o assédio constante. A organização de veteranos do exército israelense, Breaking the Silence, desde o primeiro momento, fez uma análise certeira da situação em que nos encontramos novamente.
Por outro lado, há décadas, milhares de jovens palestinos, quase crianças, são presos – quando não gravemente feridos ou assassinados – em cada protesto, em retaliação às ações armadas do Hamas ou simplesmente porque incomodam no processo de usurpação e colonização de sua terra. Centenas de mulheres, centenas de ativistas, de pessoas comuns. Combustível de desespero para incendiar o ódio e a violência.
Nas chamadas Marchas do Retorno de 2018, a população civil palestina apostou na desobediência civil e organizou mobilizações na fronteira de Gaza para denunciar o bloqueio que sofre, resultando em centenas de mortos e milhares de feridos, incluindo jornalistas e profissionais de saúde.
Entender não significa justificar. Comprometer-se com a paz baseada na justiça e na dignidade não é justificar. Apontar a barbárie cometida pelo Hamas e o restante de facções armadas não é se posicionar ao lado do Estado de Israel, mas, sim, do lado mais humano que nos leva à compaixão.
Denunciar e chorar as mortes de todas as pessoas que compõem a sociedade civil, as sociedades civis, é se posicionar contra um conceito de defesa que se fundamenta na vingança e na violência como único recurso. A linguagem, nesses dias, continua sendo estar ao lado de uns ou de outros e nos propomos sair desta espiral e seguir reafirmando o nosso sólido compromisso de não apoiar as guerras, qualquer guerra.
A Internacional dos Resistentes à Guerra finaliza seu último comunicado com algumas palavras que espero que façam mudar as mentes daqueles que continuam justificando as guerras:
“Quando a violência aumenta, podemos sentir que temos de ‘escolher um lado’, e haverá muitas vozes exigindo que façamos isso. No entanto, também rejeitamos essa forma binária de ver o mundo, que nos faz pensar nos outros como inimigos a serem oprimidos ou mortos e a eliminar a diferença. Não importa o quanto essas demandas sejam fortes, sabemos que existem, existiram e sempre existirão pessoas e comunidades que rejeitam a falsa escolha que a violência exige”.
“Em vez disso, nós nos alinhamos com aqueles que optam por construir a segurança não com armas e bombas, mas gerando confiança e cooperação de forma não violenta, apoiando aqueles que se negam a matar, mesmo quando estão sob imensa pressão, e talvez até ousamos a imaginar uma situação mais justa e um mundo pacífico. Queremos nos comprometer novamente a escutar e ampliar essas vozes”.
“Nós, como comitê executivo da Internacional dos Resistentes à Guerra, como pessoas de diferentes países e territórios, condenamos a violência e a destruição de todos os lados, sob qualquer forma, e nos solidarizamos com as e os objetores de consciência e com todos e todas que acreditam em abordagens pacíficas e não violentas para resolver conflitos”.
Finalmente, queremos terminar este texto nos solidarizando com as sete organizações palestinas de Direitos Humanos criminalizadas por Israel devido ao seu trabalho no âmbito dos Direitos Humanos, entre elas Addameer, bem como com as organizações internacionais que apoiam a causa do povo palestino que tentam silenciar. Denunciamos que em diferentes países como França, Alemanha e Inglaterra estejam proibindo o legítimo direito das pessoas de irem às ruas para se solidarizar com a população civil palestina.
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A guerra é um crime contra a humanidade. Eu me comprometo a não apoiar nenhum tipo de guerra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU