26 Junho 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Mateus capítulo 10,37-42 que corresponde ao 13° Domingo do ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. No Brasil celebra-se a Festa de São Pedro e São Paulo.
Eis o texto.
Jesus não queria ver ninguém sofrer. O sofrimento é mau. Jesus nunca o procurou para si nem para os outros. Pelo contrário, toda sua vida consistiu em lutar contra o sofrimento e o mal, que tanto dano causam às pessoas.
As fontes apresentam-no sempre combatendo o sofrimento que se esconde na doença, nas injustiças, na solidão, no desespero ou na culpa. Assim foi Jesus: um homem dedicado a eliminar o sofrimento, suprimindo injustiças e contagiando força para viver.
Mas procurar o bem e a felicidade para todos traz muitos problemas. Jesus o sabia por experiência. Não se pode estar com os que sofrem e procuram o bem dos últimos sem provocar a rejeição e a hostilidade daqueles a quem não interessa nenhuma mudança. É impossível estar com os crucificados e não se ver um dia «crucificado».
Jesus nunca escondeu isso dos seus seguidores. Utilizou, em várias ocasiões, uma metáfora inquietante que Mateus resumiu assim: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim”. Não podia ter escolhido uma linguagem mais gráfica. Todos conheciam a imagem terrível do condenado que, nu e indefeso, era obrigado a carregar nas costas o tronco horizontal da cruz até ao local da execução, onde o esperava o tronco vertical fixado na terra.
“Carregar a cruz” fazia parte do ritual da crucificação. O seu objetivo era que o condenado aparecesse perante a sociedade como culpado, um homem indigno de continuar a viver entre os seus. Todos descansariam vendo-o morto.
Os discípulos tentaram entendê-lo. Jesus vinha dizer mais ou menos o seguinte: “Se me seguis, tendes de estar dispostos a ser rejeitados. Passará convosco o mesmo que a mim. Aos olhos de muitos parecereis culpados. Serão condenados. Procurarão que não incomodeis. Terão de carregar a vossa cruz. Então parecerão mais comigo. Serão dignos seguidores meus. Partilharão o destino dos crucificados. Com eles entrarão um dia no reino de Deus”.
Carregar a cruz não é procurar “cruzes”, mas aceitar a «crucificação» que nos chegará se seguirmos os passos de Jesus. Assim tão claro.
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Dispostos a sofrer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU