A preocupante volta do CFC, o gás que provoca o buraco na camada de ozônio

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28 Novembro 2018

O buraco na camada de ozônio, símbolo da causa ambientalista a partir dos anos 1980, diminuiu depois de um esforço mundial para reduzir a emissão de gases poluentes. Mas cientistas sinalizam que o risco a essa barreira protetora natural está de volta.

A reportagem é publicada por BBC News Brasil, 27-11-2018. 

O ozônio é um gás incolor que forma uma fina camada na atmosfera e absorve componentes nocivos da luz solar, conhecidos como raios “ultravioleta B” ou “UV-B”. Ele protege os seres humanos dos riscos de desenvolver câncer de pele ou catarata, entre outras doenças, e impede mutações nocivas em animais e plantas.

Em seu relatório anual sobre gases que causam o efeito estufa, a Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês) detectou o ressurgimento do gás CFC-11, um dos principais causadores do buraco, cuja produção é banida pelo Protocolo de Montreal.

O buraco é bem embaixo

Nos anos 1980, cientistas descobriram que a produção humana de gases CFC (clorofluorocarboneto) tinha causado um buraco enorme na camada de ozônio, colocando em risco a vida no planeta. A abertura, encontrada em cima no Polo Sul, acendeu um alerta global e se tornou o maior ícone da luta pela preservação ambiental da época.

O buraco na camada de ozônio na Antártica no ano 2000 | Foto: NASA/Science Photo Library

Em 1987, foi assinado o Protocolo de Montreal, um acordo global para proteger a camada de ozônio no qual os países signatários se comprometeram a reduzir a produção e a comercialização de substâncias consideradas responsáveis pelo dano – entre elas os CFCs, incluindo o CFC-11.

Os gases do tipo foram substituidos por outros, como hidroclorofluorcarbonos, hidrofluorcarbonos e perfluorcarbonos – que embora não sejam nocivos à camada de ozônio, contribuem para o aquecimento global, segundo o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

Os CFCs eram facilmente encontrados em sprays aerossóis, geladeiras, aparelhos de ar-condicionado, equipamentos contra incêndio e solventes. Desde então, a quantidade deles na atmosfera vem caindo, mas neste ano os pesquisadores da WMO notaram que as reduções do nível do CFC-11 vêm diminuindo – o que indica que alguém, em algum lugar, voltou a produzir o gás.

A produção do CFC-11 é duplamente nociva: além de aumentar o buraco na camada que nos protege dos raios UV-B, ela contribuiu para o aquecimento global.

No início de 2018, a Agência de Pesquisa Ambiental, no Reino Unido, rastreou a produção de CFC e chegou a uma série de fábricas na China.

A agência afirmou que esses gases poderiam ser provenientes da produção de espumas de isolamento térmico de poliuretano, feitas na China para uso doméstico a custo baixo. O caso ainda está sob investigação.

Cientistas afirmam que os níveis detectados dessa substância hoje podem indicar uma piora ainda maior no futuro. “É possível que as novas emissões sejam o ponta do iceberg”, diz químico e metereologista Matt Rigby, da Universidade de Bristol.

“Pode haver muito mais que está preso nesses materiais e que vai acabar sendo liberado para a atmosfera nas próximas décadas.”

Ameaça constante

De acordo com a última avaliação da Nasa, agência espacial norte-americana, realizada em setembro de 2018, o tamanho do buraco na camada de ozônio é de 23 milhões de km², quase a mesma superfície da América do Norte (24,7 milhões de km²).

Mas, apesar dessa lacuna, a quantidade de moléculas de ozônio na atmosfera ao redor do planeta ainda é “bastante constante, com uma redução de cerca de 2% nos últimos anos”, diz o químico Stephen Motzka, pesquisador da Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês).

Com a diminuição dos gases que geram o buraco, a tendência é que a camada se recomponha sozinha – em 2017, a Nasa informou que o buraco atingiu o menor tamanho registrado desde 1988. A melhora “excepcional”, segundo os cientistas, está relacionada a condições climáticas.

Camada de ozônio sobre o Polo Sul no dia 12 de setembro: em roxo e azul estão as áreas que têm menos ozônio, enquanto em amarelo e vermelho, as que têm mais | Foto: NASA/Science Photo Library

Se as medidas para diminuição da produção de CFC pelo Protocolo de Montreal não tivessem sido tomadas, o Pnuma calcula que o consumo de CFC teria alcançado 3 milhões de toneladas em 2010 – o que seria suficiente para que o buraco aumentasse até ocupar 50% da camada.

As consequências seriam “20,5 milhões de casos de câncer de pele e 130 milhões casos de cataratas oculares”, segundo o órgão da ONU.

Os especialistas esperam que o buraco seja reduzido para os níveis de 1980 até o ano de 2070 – mas o cronograma está em risco caso a volta na produção CFC-11 não seja contida.

Por que o buraco da camada está sobre a Antártida?

Quando tentamos localizar no planeta onde está o dano à camada de ozônio, olhamos para a Antártida.

“A Antártida é onde a redução do ozônio é mais flagrante e maior durante uma época específica do ano, quando é a primavera (setembro-novembro)”, explica Motzka.

O frio extremo da região e a grande quantidade de luz ajudam a produzir as chamadas nuvens estratosféricas polares.

Nestas nuvens frias, é produzida a reação química a partir dos gases CFC que destrói o ozônio.

É por isso que alguns países da América Latina são mais afetados que outros pelo aumento dos níveis de radiação.

“Países com altas latitudes no hemisfério sul podem ter uma exposição maior e ser mais afetados pelos danos da camada de ozônio sobre a Antártida”, diz Motzka.

Aqueles que estão mais próximos do buraco, como Argentina e Chile, são os mais vulneráveis, segundo o especialista. Neles já foram encontrados uma série de plantas e animais com mutações e câncer de pele devido aos efeitos dos raios UV-B.

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