O fim da mobilidade social ascendente

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05 Novembro 2016

"O impacto econômico e social desta situação é potencialmente corrosivo. As pessoas cujos rendimentos não estão avançando estão perdendo a fé em aspectos do sistema econômico global. Quase um terço daqueles que não estão avançando disseram a situação pode ser ainda pior com seus filhos. Isto gera ansiedade, raiva e opiniões negativas sobre o livre comércio e a imigração", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 04-11-2016.

Eis o artigo.


As economias avançadas são aquelas que apresentaram grande crescimento econômico no século XX. Estas economias de alta renda viabilizaram um processo de mobilidade social ascendente, com cada nova geração ficando mais rica e com melhores indicadores de desenvolvimento humano do que as gerações precedentes.

A maioria das pessoas que cresceram em economias avançadas desde a Segunda Guerra Mundial passaram a ter uma vida melhor do que a de seus pais. Com exceção de um breve hiato na década de 1970, o dinamismo do crescimento econômico e a melhora do nível de emprego possibilitaram que a maioria das famílias experimentassem aumento dos rendimentos, tanto antes como depois dos impostos e transferências. Ainda recentemente, entre 1993 e 2005, 98% das famílias, em 25 economias avançadas, tiveram aumento da renda real, segundo estudo da McKinsey Global Institute.

Mas o quadro mudou no século XXI. Os rendimentos reais de cerca de dois terços das famílias nas 25 economias avançadas do estudo ficaram estáveis? ou caíram entre 2005 e 2014. O relatório da McKinsey constata que, entre 2005 e 2014, os rendimentos reais nessas mesmas economias avançadas ficaram estáveis? ou caíram para 65 a 70% das famílias, ou mais de 540 milhões de pessoas. E depois das transferências governamentais e com menores taxas e impostos a situação foi atenuada, mas assim mesmo até um quarto de todas as famílias teve a renda estagnada ou em declínio na década.

Estes resultados fornecem uma nova perspectiva para o debate sobre a desigualdade de renda que vem preocupando os políticos das economias avançadas. O relatório da McKinsey detalha o aumento acentuado na proporção de agregados familiares e grupos de renda que simplesmente não estão avançando, fenômeno que afeta pessoas em todas as esferas da distribuição de renda. E os mais atingidos são os jovens, os trabalhadores menos instruídos, levantando o espectro de uma “geração perdida”, que está crescendo mais pobres do que seus pais.

O impacto econômico e social desta situação é potencialmente corrosivo. As pessoas cujos rendimentos não estão avançando estão perdendo a fé em aspectos do sistema econômico global. Quase um terço daqueles que não estão avançando disseram a situação pode ser ainda pior com seus filhos. Isto gera ansiedade, raiva e opiniões negativas sobre o livre comércio e a imigração.

Se o baixo crescimento econômico da última década continuar agravando o quadro de estagnação secular, a proporção de domicílios em segmentos de renda constante ou em declínio poderia subir tão alto quanto 70 a 80% do total de famílias, durante a próxima década.

Este quadro reforça situações como a do Brexit e o crescimento de líderes populistas e o avanço do bairrismo e da xenofobia. O empobrecimento de amplos setores das economias avançadas também afeta as economias do Terceiro Mundo e dificulta o caminho para a erradicação da pobreza e a melhoria da qualidade de vida global. Talvez com a exceção de alguns países do leste asiático, poderá ser também o fim da mobilidade social ascendente entre os países.

Referência
Richard Dobbs et. al. Poorer than their parents? A new perspective on income inequality, McKinsey Global Institute, july 2016

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