17 Dezembro 2021
Para além das velhas e novas polêmicas pré-natalinas estéreis, tentemos viver o tempo do Advento e do Natal como um dom recebido e dado.
A opinião é de Marco Pappalardo, cooperador salesiano e professor do Instituto “Majorana-Arcoleo” de Caltagirone, na Itália. O artigo foi publicado em Vino Nuovo, 16-12-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Estranhamente, neste ano, não vieram à tona as habituais polêmicas pré-natalinas sobre a abolição das palavras, dos cantos e dos símbolos cristãos nas escolas. Uma diretriz da União Europeia sobre a comunicação oficial da Europa dos votos de “Feliz Natal” tinha tentado isso em outro sentido, mas depois foi retirada.
Paradoxalmente, o barulho mais forte – de boa-fé e com o intuito de refletir com maior consciência sobre o sentido do Natal e das belas tradições que o acompanham – foi feito por Dom Antonio Staglianò, bispo de Noto, em relação à inexistência do Papai Noel ou, melhor, às suas origens.
O Natal, se não quisermos ser hipócritas, tem um festejo preciso e claro, com um nome e uma história que não é pouca coisa: Jesus Cristo! É claro que é possível não crer nele, mas estes dias são festejados por um evento muito específico, por aquele encontro entre Deus e o ser humano, único no tempo e que, ao mesmo tempo, se renova.
Não se acredita nisso? Que ao menos se captem os valores, pois esses, sim, podem ser partilhados e vividos na dimensão do dom, do presente, todos os dias.
Nesse ponto, posso me permitir citar o famoso desenho animado “Kung Fu Panda”, de alguns anos atrás, em que há uma frase que fica facilmente na memória: “O ontem é história, o amanhã é mistério, e o hoje... o hoje é uma dádiva. Por isso se chama presente”.
O Natal é um tempo de dádivas, mais ou menos consistentes, mas sempre “presentes”! Sim, “um presente” com aquele significado de “dom” que já se usa pouco, mas é de grande efeito e valor. Ser um dom pode se tornar um estilo alternativo, um traje elegante para vestir, um modelo original para quem, pelo contrário, coloca o apego às coisas e o egoísmo no centro da vida.
Quando crianças, nos diziam que, no Natal, devemos ser melhores, mas será que realmente acreditamos que podemos nos contentar com um dia por ano? Jovanotti canta “ou é Natal todos os dias ou nunca é Natal”, e, no fundo, quem não gostaria de ser melhor e mais sereno sempre e não apenas em um período?
É claro que nem sempre haverá Papais Noéis, luzes coloridas, árvores decoradas, exibições de presépios, brincadeiras e presentes, mas, no cotidiano, por que não tentarmos nos tornar, cada um, uma luz para iluminar a tristeza de quem está ao nosso lado, uma árvore forte para ajudar quem sofre, figuras estáveis como os personagens do presépio para apoiar os amigos, o ás na manga das nossas famílias, um belo presente para o mundo?
Viver um Natal alternativo pode ser o verdadeiro jogo da vitória, em que o tempo não é perseguido ou desperdiçado, mas valorizado e doado, em que se vive não “contra”, mas “para” e “com”. Quando Deus entrou na história se fazendo homem, ele deu crédito precisamente aos seres humanos e apostou tudo nos de boa vontade, não só nos cristãos, mesmo em meio aos problemas e às dificuldades.
Afinal, não existe aposta sem risco, assim como não existe sonho sem um mínimo de realidade, nem uma vida plena que não nasça do sofrimento, nem um amor que se realize sem esforço.
O resto está todo em nossas mãos, mesmo de quem pensa que não tem nada para dar, como naquela história natalina em que o pastorzinho sem presentes, chegando à gruta de Belém, diante de Maria, estende as mãos, desolado, como que dizendo: “Não, eu não trouxe nada”, e, naquelas mesmas mãos vazias, recebeu extraordinariamente o menino Jesus das mãos de sua mãe.
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Um Natal sem o verdadeiro aniversariante é o quê? Artigo de Marco Pappalardo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU