24 Dezembro 2020
"Mais do que nunca, neste sofrido ano de 2020, as celebrações e festas natalinas devem se voltar para Aquele que é a sua causa e inspiração. Em diálogo com os não crentes e os crentes de outras tradições religiosas, pessoas de boa vontade e sensíveis ao clamor dos pobres e das fontes da vida, precisamos fazer presentes entre nós a pessoa e os ensinamentos de Jesus de Nazaré", escreve Patrus Ananias, deputado federal - PT-MG, secretário-geral da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Soberania Nacional, foi ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, no governo Lula, e do Desenvolvimento Agrário, no governo Dilma Rousseff, prefeito e vereador de Belo Horizonte.
A tragédia humana e social da COVID reduziu, neste ano estranho, o corre-corre natalino. Mesmo assim, as imagens das concentrações nas ruas, mercados, lojas, feiras, são preocupantes. O Natal na sociedade de consumo mantém sua tradição: o tempo das compras. Mas na nossa frágil condição humana há sempre a presença da ambiguidade: muitas vezes, prevalecendo sobre o consumismo, resiste nas compras natalinas o amor, a amizade, o companheirismo, o bem querer. Infelizmente, por razões econômicas, muitos não podem vivenciar essas dimensões da fraternidade.
Realçando os melhores sentimentos humanos, muitas pessoas vão além nos seus gestos de compaixão e solidariedade. Vão ao encontro dos pobres, das pessoas e famílias que ainda, em pleno século XXI, não conquistaram os direitos fundamentais relativos à alimentação saudável e à segurança alimentar, à moradia digna, ao trabalho decente. Pobres que estão nas praças e nas ruas das cidades expostos ao sol, ao frio, à chuva, à indiferença, quando não à agressividade dos que perderam o sentido da dignidade e dos direitos inerentes a todos os seres humanos e da dimensão comunitária das nossas vidas.
São esses gestos de desprendimento que bem celebram o aniversário de Jesus. Há mais de dois mil anos, Ele atravessa a história e mobiliza corações e mentes.
No limite, vivemos um paradoxo: enquanto alguns se dizem cristãos e usam indevidamente o Seu nome para disseminar ódio, violência, discriminação, injustiças e desigualdades; muita gente boa não O conhece, não faz com Ele as conexões devidas, não professa nenhuma religião, desconhece o Evangelho, mas nas suas relações com outras pessoas e com a natureza, no exercício dos seus direitos e deveres de cidadania, na vivência da nossa dimensão comunitária, na busca de conhecimentos e saberes, admiravelmente, põe-se a serviço da vida, da justiça social, do bem comum. Eu muito apreciaria se essas pessoas, cristãs na prática, conhecessem os textos evangélicos e nos ajudassem a melhor compreendê-los e aplicá-los nos tempos difíceis que vivemos.
Os primeiros seguidores de Jesus, homens e mulheres, discípulos e discípulas que o acompanharam não o fizeram porque Ele era uma pessoa divina. Não sabiam! Começaram a caminhar com Ele pelo seu exemplo, pelas suas palavras que encontravam pleno acolhimento nas suas ações. Em tempo próximo, também pelo bom exemplo, tivemos Mahatma Gandhi. Ele não era formalmente cristão, mas se encantou com os ensinamentos de Jesus e considerava o Sermão das Bem Aventuranças o texto mais luminoso produzido pela humanidade. Cobrava dos cristãos que fôssemos mais semelhantes a Jesus. O Papa Francisco presta-lhe uma homenagem na sua última Encíclica Fratelli Tutti. Francisco estende a homenagem a cristãos não católicos como Martin Luther King, Desmond Tutu “e muitos outros”. O líder religioso islâmico Imã Ahmad Al-Tyyed marca forte presença nesta Encíclica.
Mais do que nunca, neste sofrido ano de 2020, as celebrações e festas natalinas devem se voltar para Aquele que é a sua causa e inspiração. Em diálogo com os não crentes e os crentes de outras tradições religiosas, pessoas de boa vontade e sensíveis ao clamor dos pobres e das fontes da vida, precisamos fazer presentes entre nós a pessoa e os ensinamentos de Jesus de Nazaré. Os nossos tempos são difíceis e desafiadores. O extraordinário avanço das ciências e das tecnologias não encontra correspondência no campo dos valores éticos e convivenciais. Carecemos da Sua presença e da Sua palavra para juntos construirmos os caminhos da paz. Paz que pressupõe a fraterna partilha da mesa e de todos os bens da terra que foram destinados a todas as pessoas sem exclusões, discriminações ou preconceitos.
Este é o legado central de Jesus: amar o próximo como a si mesmo. A parábola do Bom Samaritano, que inspira a belíssima Encíclica, nos aponta o caminho: o nosso próximo mais próximo são todas as pessoas que estão caídas na beira da estrada da vida, nas praças e ruas das nossas cidades; “é o ser humano impossibilitado de SER”.
“Vim para que tenham a vida e a tenham em abundância”.
Que tenhamos um Feliz Natal e que em 2021 procuremos viver individual e coletivamente os ensinamentos de Jesus. Se assim o fizermos, será um ano bom.
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Natal: a quem celebramos? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU