24 Dezembro 2020
2020 tem sido um ano diferente, bem diferente, a gente tem vivido situações que um ano atrás nem passavam na nossa mente. Neste dia em que celebramos a Noite de Natal, não podemos esquecer que uma coisa não muda: o amor encarnado de Deus continua se fazendo presente no meio de nós. Mas será que a gente se importa com isso?
O artigo é de Luis Miguel Modino.
Para muita gente Natal é só tempo de festa, de abusar na comida e na bebida, de receber presentes que muitas vezes nem sabemos o que fazer com eles. Neste ano diferente, o Papa Francisco lamentava no último domingo, na oração do Angelus, que o consumismo tenha "sequestrado o Natal", fazendo um apelo a ajudar os outros. Muitos se lamentam, especialmente neste tempo de Natal, da situação que estamos vivendo, mas diante disso, o papa dizia que "neste momento difícil, em vez de lamentar o que a pandemia nos impede de fazer, façamos algo pelos que têm menos. Não o enésimo presente para nós ou para os nossos amigos, mas para um necessitado em quem ninguém pensa".
O papa insiste em que "não vamos deixar-nos arrastar pelo consumismo, porque 'devo comprar presentes, tenho de fazer isso', por esse frenesi de fazer coisas. O que importa é Jesus. O consumismo, irmãos e irmãs, sequestrou-nos o Natal". Suas palavras contrastam com o que a gente vê em nosso meio, com multidões nas ruas em busca de presentes, comidas, bebidas e enfeites natalinos. Uma situação que está gerando desespero nos hospitais, onde o número de vagas, sempre insuficientes num sistema de saúde sucateado, está chegando no limite da capacidade.
Quem diz acreditar em Deus, quem se diz cristão, não deve esquecer as palavras do papa, que nos lembra que "o consumismo não está na manjedoura de Belém”. Faz sentido tanta aglomeração, tanta confraternização, tanta irresponsabilidade? Como podemos dizer que queremos celebrar o Natal, fazer memória do Deus da Vida se não nos importamos com espalhar morte e doença em volta da gente? Qual é o Natal que a gente quer comemorar?
Pensar no outro é caminho para construir sociedade, desterrando o egoísmo, que muitas vezes responde aos instintos animais que estão presentes em cada um de nós. O sentimento de alteridade é algo que nos plenifica, que dá sentido à nossa vida, que nos assemelha com Deus, que sempre pensa no outro, que semeia vida. A pandemia está sendo um bom exemplo para refletir sobre o nosso jeito de entender a vida, nem só a vida da gente, mas a vida como um todo, de pensar o que realmente significa esse sentimento de alteridade.
Charles Dickens, o escritor inglês que viveu no século XVIII, dizia que “o homem é um animal de costumes”, mas na verdade não podemos aceitar essa afirmação quando nossos costumes atingem decisivamente a vida dos outros. As mudanças de vida, sejam temporárias ou definitivas, sempre tem que ser uma opção, que nos levem a entender que somos chamados a agir de forma diferente diante de certas situações.
É tempo de parar, pensar e entender que estamos vivendo um momento diferente, que muita coisa mudou e provavelmente nunca vai voltar a ser igual. Diante disso, não esqueça que o Natal também deve ser diferente, que o Mistério desse Deus que se faz pequeno tem que aparecer. Ele nunca muda, continua se fazendo presente.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Num ano diferente, um Natal diferente: deixe de lado o consumismo e centre-se no Mistério - Instituto Humanitas Unisinos - IHU