30 Dezembro 2025
O presidente boliviano Rodrigo Paz anunciou a suspensão dos subsídios aos combustíveis no país e declarou estado de emergência econômica, financeira, energética e social, pois, segundo ele, o país não pode continuar funcionando "com as regras dos últimos 20 anos", referindo-se aos governos do Movimento para o Socialismo (MAS), de Evo Morales (2006-2019) e de Luis Arce (2020-2025).
A reportagem é publicada por Página|12, 19-12-2025.
“Esta é uma decisão histórica para salvar a nação, que nos permitirá agir rapidamente, coordenar o Estado e tomar medidas firmes para estabilizar a economia, proteger as famílias bolivianas e crescer por meio da produção”, declarou Paz em um pronunciamento televisionado sobre a medida decretada. “Tomamos uma decisão crucial: proteger as finanças do povo e garantir segurança em relação à energia e aos combustíveis, com preços claros e fornecimento garantido”, afirmou.
Alteração de preço
Na Bolívia, um litro de diesel e gasolina é vendido a um preço subsidiado de cerca de US$ 0,53, que se mantém estável há mais de 20 anos e representa um custo anual para o Estado de mais de US$ 2 bilhões. “Os bolivianos sabem que temos que ser honestos em relação aos hidrocarbonetos”, afirmou Paz, que tomou posse em 8 de novembro.
Após o anúncio do presidente, foi divulgado que a gasolina comum custará 6,96 bolivianos por litro, o equivalente a um dólar; a gasolina premium custará 11 bolivianos (1,58 dólares); o diesel custará 9,80 bolivianos por litro (1,40 dólares); a gasolina de aviação custará 10,57 bolivianos (1,51 dólares); e o querosene de aviação custará 10,74 bolivianos (1,54 dólares). Enquanto isso, o preço do botijão de gás permanecerá em 22,50 bolivianos (3,23 dólares).
Juntamente com a eliminação do subsídio, o presidente anunciou uma série de outras medidas econômicas, como a retirada do diesel da lista de substâncias controladas para facilitar sua importação. "Isso também garante um fornecimento contínuo para transporte, produção, agronegócio e outros setores estratégicos do país", argumentou.
“O pior presente de Natal”
Evo Morales condenou a iniciativa de Paz, classificando-a como improvisada. "Suas medidas representam um desequilíbrio econômico inaceitável entre a renda da população e o aumento dos preços dos combustíveis", afirmou em uma publicação nas redes sociais. "Enquanto o salário mínimo aumentou cerca de 20%, a gasolina subiu 86% e o diesel 160%. Essa diferença rompe qualquer senso de equilíbrio e atinge com mais força as famílias trabalhadoras", enfatizou.
Segundo o ex-presidente, a Bolívia precisa de decisões responsáveis que protejam as finanças da maioria, fortaleçam o planejamento estatal e garantam a estabilidade econômica. “Sem estudos, sem consenso e sem medidas de proteção contra a volatilidade internacional, a suspensão do subsídio se torna uma punição social, não uma solução estrutural”, afirmou. “Enquanto os ricos são isentos de impostos, os pobres são sobrecarregados com um aumento desproporcional nos preços dos combustíveis, o que certamente levará a aumentos de preços em todos os níveis. O governo Rodrigo Paz acaba de dar ao povo boliviano o pior presente de Natal de todos os tempos ”, lamentou.
Por outro lado, o governo Trump aplaudiu as reformas de Rodrigo Paz e ofereceu assistência para apoiar o país sul-americano durante esta fase de transição. "Estas medidas são uma correção de rumo necessária que lança as bases para um futuro mais próspero e seguro para todos os bolivianos, após anos de estagnação econômica, corrupção e má gestão", disse o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em comunicado. "Os Estados Unidos trabalharão com o governo boliviano para garantir que estas reformas tragam benefícios ao povo boliviano o mais rapidamente possível", acrescentou.
Incerteza social
Os cidadãos acordaram nesta quinta-feira em meio à incerteza, longas filas em postos de gasolina e ameaças de protestos sociais após o anúncio da remoção do subsídio aos combustíveis. Entre as outras reações contra a medida, vieram sindicatos de transporte, como o Sindicato Livre de Transportes de La Paz, cujo líder, Limbert Tancara, afirmou que os motoristas estão profundamente magoados e angustiados com o decreto.
Segundo Tancara, os motoristas decidiram aumentar as tarifas do transporte público de 2,40 para 5 bolivianos (de US$ 0,34 para US$ 0,71) para viagens curtas e de 3 para 6,50 bolivianos (US$ 0,43 para US$ 0,93) para trajetos mais longos, o mesmo que os táxis de rota fixa ou "trufis". "Se o governo voltar atrás neste decreto supremo, não haverá implementação desta medida que estamos propondo", afirmou Tancara, acrescentando que seu setor está se coordenando com outros sindicatos para realizar uma manifestação conjunta contra a medida, que ele considera prejudicial à classe trabalhadora.
Em outras regiões, os transportadores também anunciaram reuniões entre quinta e sábado para analisar as medidas do governo, enquanto a Central Operária Boliviana (COB) realizará uma reunião de emergência nesta sexta-feira para analisar as ações contra o que considerou um "aumento no preço da gasolina".
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