19 Julho 2025
"Žižek interpreta o aviso de Jesus em relação à resposta de Cristo ao discípulo que lhe perguntou como saberiam que ele voltaria: ele estará lá sempre que os crentes se reunirem em espírito de amor, em solidariedade entre as pessoas; o 'Não me toques' contém um convite: 'Toque os outros e cuide deles em espírito de amor'", escreve Roberto Righetto, jornalista, em artigo publicado por Avvenire, 16-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Que Deus buscam ou imaginam os não crentes? E, aliás, a diferença entre crentes e não crentes é tão evidente e digna de destaque? Há vários anos, Norberto Bobbio também refletia sobre essas questões, exortando crentes e não crentes a se unirem para lutar contra os perigos da fé cega e do não crer em nada. E recentemente, o filósofo André Comte-Sponville, autodefinindo-se "ateu não dogmático" e defensor da existência de uma "espiritualidade para ateus", escreveu: "Se alguém lhes disser ‘eu sei que Deus não existe’, ele não é substancialmente um ateu; é, acima de tudo, um imbecil. Paralelamente, se vocês encontrarem alguém que lhes disser ‘eu sei que Deus existe’, ele é um imbecil que tem fé e, tolamente, toma a sua fé como um saber."
Esse mesmo caminho é trilhado pelo filósofo Slavoj Žižek em seu recente livro, "Ateísmo Cristão: Como se Tornar um Verdadeiro Materialista" (Ateismo cristiano. Come diventare veri materialisti. Ponte alle Grazie, 398 páginas). O pensador esloveno sempre se declarou "um cristão ateu declarado" e um neomarxista convicto. Apaixonado por São Paulo, nesse novo ensaio ele também pretende elaborar uma terceira via entre liberalismo e fundamentalismo, o "materialismo cristão", relançando o conceito paulino de ágape, que, em sua opinião, além de um inegável componente espiritual, contém um anseio por renovação política. O cristianismo torna-se assim uma "força traumático-profética" que desestabiliza a ordem social existente. Anos atrás, em seu livro "Vírus", também publicado na Itália pela Ponte alle Grazie, ele dedicou um capítulo ao "Noli me tangere" (Não me toques), as palavras que, como lemos no Evangelho de João, Jesus ressuscitado dirigiu a Maria Madalena depois que ela o reconheceu.
Livro "Ateísmo Cristão: Como se Tornar um Verdadeiro Materialista" de Slavoj Žižek
Žižek interpreta o aviso de Jesus em relação à resposta de Cristo ao discípulo que lhe perguntou como saberiam que ele voltaria: ele estará lá sempre que os crentes se reunirem em espírito de amor, em solidariedade entre as pessoas; o "Não me toques" contém um convite: "Toque os outros e cuide deles em espírito de amor". Não é surpresa que Žižek tenha depois lembrado da famosa frase de Martin Luther King: "Podemos ter chegado aqui com navios diferentes, mas agora estamos todos no mesmo barco".
Mais tarde, em seu Ateísmo Cristão, Žižek beira o apocalíptico e espera numa eliminação do neocapitalismo, mas não como no final da série de TV Game of Thrones, em que a maligna tirana Daenerys é derrotada em nome da restauração do antigo poder: o que é necessário é uma radicalização da luta pelo advento de uma forma de comunismo baseada na justiça. Para derrotar o inimigo representado pelo tecnofeudalismo ou capitalismo de nuvem, monopolizado pelos novos senhores digitais — Gates, Bezos, Musk —, é necessário um evento catastrófico, graças a "um novo agente coletivo emancipatório cujo nome é Espírito Santo". Mais do que nessa fase imaginativa, onde a análise de Žižek se mostra mais adequada é em sua crítica às "nuvens digitais divinas" que nos transformam a todos em "inconscientes servos da gleba".
Da Amazon ao Google e ao Facebook, não nos damos conta da nova exploração feudal que, pelo contrário, estamos vivenciando como nosso livre exercício. Uma forma de poder que se alia com a política e se expressa no eixo Trump-Putin. O filósofo frequentemente se revela surpreendente, como quando critica ferozmente a cultura do cancelamento, uma dinâmica compartilhada pela direita populista e pela esquerda woke, que, "apesar dos fortes contrastes ideológicos, frequentemente procedem da mesma maneira". Žižek cita inúmeros exemplos para comprovar essa tese, entre os quais a incrível rendição dos chamados progressistas ao islamismo radical e sua indiferença aos protestos das mulheres e dos homens iranianos contra um regime despótico como nenhum outro no mundo, exceto o do Afeganistão: "A última coisa de que o Irã precisa é de uma dose do politicamente correto do Ocidente!"
Ele lembra com amargura a postura superficial de Foucault sobre a revolução de 1978 que levou Khomeini ao poder, baseada inteiramente no sentimento de culpa ocidental por ter apoiado o regime do Xá. "Hoje encontramos precisamente essa lógica entre aqueles da esquerda que demonstram compreensão por Putin." Contrário à tese de Adorno de que a poesia não é mais possível depois de Auschwitz, o pensador finalmente elogia a dúvida, adotando o paradoxo de Aliocha em Os Irmãos Karamazov: "Deus existe, mas não tenho certeza se creio nele", adotando ele mesmo não tanto a fé em Deus, mas os ideais que Deus representa, explicitados nos Evangelhos e nas cartas de Paulo. "O cristão", observa ele, "é genuinamente indiferente às famigeradas provas da existência de Deus": para ele, em nome de Cristo, é o empenho em favor do outro que é um sinal de humanidade contra qualquer opressão dos poderes econômicos, políticos e midiáticos.