Canadá. “Muitas vítimas de violência na comunidade”. Entrevista com Wilton Littlechild

(Foto: Paul Haring | Catholic National Service)

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27 Julho 2022

 

Ele já havia se encontrado com o Papa Francisco em abril no Vaticano. Naquela ocasião, havia lhe pedido para ir ao Canadá. Ele o encontrou pela segunda vez ontem em seu país: “As palavras de perdão proferidas pelo Papa aqui já são história. Mas também o pedido de um caminho de reconciliação que ele abriu não ficará sem consequências concretas e isso é importante”. Wilton Littlechild, líder aborígene da Comunidade da Primeira Nação de Montana, fala do lado de fora de uma escola residencial a poucos metros de onde Francisco encontra seus irmãos indígenas, entre os verdes prados de Alberta.

 

Wilton Littlechild. (Foto: Reprodução | The Alberta Order Of Excellence)

 

A entrevista com Wilton Littlechild é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 26-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis a entrevista.

 

Littlechild, há vítimas em sua comunidade?

 

Sim, claro, há muitos sobreviventes nesta comunidade, pessoas que escaparam de abusos e violências quando eram jovens ou que sofreram violência, mas sobreviveram.

 

O que significa para vocês a chegada do Papa ao Canadá?

 

Isso tem um grande significado para todos nós. Sobretudo porque é uma ‘viagem penitencial’, como o próprio Francisco quis chamar. O fato de ser uma viagem penitencial implica também abrir imediatamente uma fase de reconciliação e de renascimento que para nós, para as nossas comunidades que tanto sofreram no passado, é fundamental e decisiva.

 

Pode realmente começar hoje uma verdadeira reconciliação?

 

Sim, hoje é o início de um caminho de reconciliação. Hoje é uma primeira etapa que será seguida por outras.

 

No entanto, fatos concretos ainda precisam acontecer nas relações com o governo nesse sentido?

 

Nossa expectativa é ter uma cooperação real com o governo e com toda a sociedade civil. Afinal, esta visita do Papa aqui conosco também serve a esse propósito, sensibilizar as instituições e a sociedade como um todo sobre o que aconteceu no passado, sobre os sofrimentos que este território preserva, sobre a memória dos abusos sofridos por nossos irmãos. O relatório final da Comissão para a Verdade e Reconciliação levou o Papa a pedir desculpas a nós pelo papel desempenhado pela Igreja Católica nos abusos espirituais, culturais, emocionais, físicos e sexuais contra crianças das Primeiras Nações, Inuit e Métis dentro de escolas residenciais católicas. Mas estamos no meio de um percurso que ainda precisa ser completado. A partir de hoje olhamos para o futuro com mais esperança e confiança.

 

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