Em 20 de setembro passado completaram-se 190 anos do início da Guerra dos Farrapos, também conhecida por Revolução Farroupilha. O episódio que está na gênese do que se tornaria o imaginário hegemônico em torno do “gaúcho”, sobretudo associado a uma visão romântica construída pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho – MTG, mais ou menos um século depois do fim do conflito entre os dissidentes sulistas e as tropas imperiais. As contradições mais evidentes desta história são conhecidas, como, por exemplo, o Massacre dos Porongos. Mas há um outro Rio Grande do Sul, que é bastante mais diverso e rico, manifesto na produção literária gaúcha – ficcional, jornalística e documental – que traz novos contornos à história do Estado, o que inclui, por exemplo, um grupo abolicionista de meados do século XIX. A imagem monolítica do Rio Grande do Sul como um estado constituído por um simbolismo, via de regra, associado a valores da classe média branca, bélica e heteronormativa é apenas uma faceta de um estado radicalmente complexo. É nesse sentido que a vertigem do caleidoscópio parece ser mais fiel à realidade.
Impactos que vão muito além daqueles especificamente técnicos, como ganho de tempo, acesso instantâneo a informações e conectividade 24 horas por dia. Se em um passado nem tão distante a Inteligência Artificial (IA) aparecia tímida em nosso cotidiano ou em enredos de ficção científica, hoje ela está disseminada e problematiza o mundo do trabalho, as sociabilidades, a política, a economia, a forma como aprendemos e acessamos o conhecimento e até a forma como se faz guerra. Entre tantas mudanças, algo é unívoco: a ética das IAs não pode ser deixada nas mãos das Big Techs, cujo poder hoje é quase ilimitado, operando segundo seus interesses, sem prezar pela democracia.
Uma sombra está sempre à espreita dentro das democracias liberais, prestes a se converter em tempestade. É o fascismo, que em contextos geográficos e epocais distintos reedita através de outras expressões o velho método que fez fortuna no início do século XXI. Agora, não são mais necessários golpes militares, tomadas explícitas do poder ou espetáculos sinistros à luz de tochas: a deriva promovida pela extrema-direita se apodera do aparelho democrático por vias eleitorais, tornando-o formal e procedimental, consolidando seus ataques sob a execução legal do estado de exceção, convertido em norma de governo.