Em Gaza, assassinato de jornalistas, massacres coletivos e o uso da ajuda humanitária como arma de guerra. No Alasca, a cúpula que decidirá o futuro da Ucrânia, mas sem a participação dos ucranianos nas discussões. Na diplomacia, rupturas se espalham junto aos ataques tarifários. No Brasil, a boiada que passa em prol do desenvolvimentismo e uma COP cujas as discussões foram capturadas pela infraestrutura hoteleira. Da Amazônia, esperança de reverter o colapso. Os indígenas do Sul mostram que em suas terras podemos encontrar a tábua da salvação. Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana no IHU Cast.
270 jornalistas e outros profissionais de mídia foram mortos em Gaza desde 7 de outubro de 2023, conforme divulgado pela Al Jazeera. Combinadas a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, somaram 69 vítimas. As guerras do Vietnã, Camboja e Laos, foram 71; e na invasão russa à Ucrânia, que segue desde 2022, apenas 19. No domingo, 10 de agosto, mais seis jornalistas foram assassinados por Israel. Nada, absolutamente nada, segura o desejo de poder de Netanyahu, nem mesmo os judeus que em massa protestam contra a ocupação total e a Shoah em Gaza. Certamente, como disse Bernie Sanders, seremos julgados pela história, por sermos condescendentes com a carnificina.
Entre os membros da imprensa da Al Jazeera assassinados, estava Anas al-Sharif, 28 anos, um dos rostos mais emblemáticos do jornalismo palestino, que diariamente mostrava ao mundo a desumanização da população palestina. Em uma das suas transmissões mais dramáticas, chorou enquanto denunciava o colapso das pessoas diante à fome.
Assassinado hoje (10) por "israel", o jornalista palestino Anas al-Sharif chorou registrando a fome em Gaza em transmissão da Al Jazeera de 20 de julho de 2025.
— FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) August 11, 2025
A imagem rodou o mundo e rendeu uma ameaça dos israelenses publicada pelo porta-voz do exército israelense em árabe,… pic.twitter.com/fQpPw5iUVb
No testamento de Anas al-Sharif, mais uma vez ouvimos a voz firme de quem nunca se omitiu diante ao genocídio: “Eu experimentei a dor em todos os seus detalhes. Experimentei o sofrimento e a perda muitas vezes, mas nunca hesitei em transmitir a verdade. Como ela é, sem distorção ou falsificação, para que Alá possa testemunhar contra aqueles que permaneceram em silêncio. Aqueles que aceitaram nosso assassinato. Aqueles que sufocaram nossa respiração e cujos corações não se comoveram com os restos mortais dispersos de nossas crianças e mulheres, não fazendo nada para impedir o massacre que nosso povo enfrenta há mais de um ano e meio”.
Com mais de 18 mil crianças mortas em Gaza, mais de 3 mil amputadas e mais de 40 mil órfãs, o cardeal Matteo Zuppi retirou o nome de 12 mil dos pequenos mortos do anonimato.
Zuppi legge i 12mila nomi delle piccole vittime israeliane e palestinesi a Bologna, chiesa di Casaglia a Monte Sole, luogo dell’eccidio del 1944.
— Gaetano La Rosa (@donga16) August 14, 2025
“Ogni bimbo è innocente” pic.twitter.com/Mmvp9DwoGl
Zuppi recitou o nome das crianças israelenses e palestinas mortas em frente à igreja de Casaglia, em Monte Sole. O local de um dos massacres de civis mais brutais da Segunda Guerra Mundial, onde, em 1944, os nazistas mataram 770 civis, 216 deles crianças. A voz do cardeal ilumina nosso tempo.
Enquanto cem ONGs denunciam Israel por usar a ajuda humanitária como arma de guerra em Gaza, o exército israelense anunciou na quarta-feira a aprovação do arcabouço para uma nova incursão terrestre na faixa, que visa concretizar o plano de ocupação total. Além disso, o ministro israelense das Finanças, Bezalel Smotrich, anunciou a aprovação de um novo plano de assentamento na Cisjordânia, que consiste em 3.401 unidades habitacionais para colonos.
Buscando chamar a atenção para a situação em Gaza, Jesus Martinez Gordo explicou por que é correto usarmos o termo Shoah para a situação de Gaza: “Classificar a chamada 'solução final' nazista como um holocausto era um absurdo insuportável ou, se preferirem, uma blasfêmia completa. Daí a necessidade de abandonar o uso dessa palavra e, em vez disso, usar Shoah, um conceito hebraico que, na tentativa de expressar a situação em Jerusalém após a destruição do Primeiro e Segundo Templos, significa catástrofe, aflição, deserto, vazio e despovoamento. E que, em referência à chamada 'solução final', passou a ser entendido como extermínio, neste caso, extermínio nazista. Trago este lembrete porque acredito que ele pode ser aplicado ao extermínio que o Estado de Israel vem praticando na Faixa de Gaza há quase dois anos. E o faço na tentativa de chamar a atenção — sei que é inútil — para o atual governo israelense e para a parte dele que, ainda sensata e sensível à memória da Shoah, indubitavelmente existe em Israel”.
Para Leonardo Boff “urge resgatar esta comensalidade que outrora nos fez humanos e que deve hoje a fazer-nos sempre de novo humanos. E se não estiver presente, nos fazemos desumanos, cruéis e sem piedade”.
Entre os apelos que percorrem o mundo, a Rainha do Pop, Madonna, conclamou Leão XIV a entrar no enclave, e a irmã Magda Oliver, convidou a igreja para ingressar na fila da comida em gaza.
Donald Trump roubou, de novo, a cena da geopolítica internacional. Almejando ser o ganhador do Nobel da Paz, agendou um encontro com Putin nesta sexta-feira, 15 de agosto, no Alasca, para discutir o fim da guerra. Na reunião, para a qual Ucrânia e Europa não foram convidadas, o que está em jogo é um acordo de cessar-fogo com as cartas dadas por Putin, que não deve renunciar ao controle de áreas ocupadas.
No meio da troca de farpas e ameaças entre os presidentes americano e russo, Trump oferecerá a Putin acesso aos minerais de terras raras como incentivo para pôr fim à guerra. As terras raras são áreas para a exploração dos minerais que são essenciais para a produção dos produtos da revolução quatro ponto zero. A Ucrânia detém 10% das reservas mundiais de lítio, usado na produção de baterias.
A dissimulação de Trump não tem limites. Os Estados Unidos reverteram um relatório de direitos humanos, publicando críticas ao Brasil e elogios a El Salvador. Segundo o documento, "a situação dos direitos humanos 'se deteriorou' no Brasil, mas em El Salvador 'não há informações confiáveis' sobre abusos. Em Israel e nos territórios ocupados, os únicos crimes de guerra são cometidos pelo Hamas. Essa é a visão de mundo e o respeito global pelos direitos defendidos pelo Departamento de Estado dos norte-americanos".
Trump mais uma vez elevou o tom contra o Brasil. Além de suspender os vistos de dois brasileiros por conta do programa Mais Médicos, continuou publicando ameaças ao governo brasileiro./ "Essa escalada tem um desfecho previsível: os Estados Unidos procuram um rompimento diplomático com o Brasil", afirmou o jornalista Luis Nassif. Se as relações com Estados Unidos não vão bem, com a China elas andam de vento em popa. Também por isso os ataques direcionados ao Brasil. Na conversa telefônica mantida pelos presidentes do Brasil e da China, Xi Jinping afirmou a Lula estar pronto para, juntos, 'dar exemplo de autossuficiência do Sul Global' e anunciou que "a China apoia o povo brasileiro na defesa de sua soberania nacional". Segundo Antonio Martins, "um notável sinal dos novos tempos: partiu do Sul Global a primeira reação à arrogância imperial de Trump".
Entre os dilemas que rondam a intromissão dos Estados Unidos na América Latina, algumas concessões. A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, "defendeu a decisão de seu governo de entregar aos Estados Unidos um novo grupo de 26 acusados de integrar o crime organizado, incluindo muitos chefes do Cartel de Sinaloa".
Voltamos a falar de Brasil, mas agora centrados nos temas que envolvem a crise climática. A logística virou a principal discussão da COP30, escanteando os debates sobre o que realmente interessa: o clima. Além disso, continuamos a analisar os vetos dos presidente Lula ao PL da devastação e a derrapada do Brasil no Tratado Global de Plásticos. Mas, um novo fio de esperança brota da Amazônia enquanto os povos indígenas resistem.
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