25 Junho 2025
"A única coisa boa, nesta imensa tragédia, é que emergem de forma cada vez mais evidente o cinismo, a obtusidade, as inclinações criminosas (aliás declaradas para Putin e Netanyahu por um tribunal internacional, e por vários tribunais estadunidenses para Trump) daqueles que ocupam as salas do poder do mundo", escreve Alberto Leiss, jornalista, em artigo publicado por “il manifesto”, 24-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não é apenas o aiatolá Khamenei, enterrado em um bunker, que invoca seu Deus. Trump também tem certeza de ter sido salvo por um Deus quando uma bala o feriu na orelha. E vimos Benjamin Netanyahu, com os símbolos de sua religião, ir ao “Muro das Lamentações” após o superbombardeio estadunidense sobre o Irã para invocar um Deus, a fim de garantir todo o bem ao aliado Donald Trump. Os dois “com a força”, disse ele, construirão “a paz”.
Gosto de pensar que, se existe um Olimpo habitado por deuses, tais invocações resultam desagradáveis. E talvez estejam sendo preparadas punições divinas (de qualquer forma, brandas) para aqueles que, ouso afirmar, blasfemam.
O escritor judeu Roy Chen, retido na Itália após os ataques a Teerã e o fechamento do aeroporto de Tel Aviv, escreveu no sábado no jornal La Stampa, pensando em um hipotético cidadão da capital persa retido como ele: “Tenho vontade de gritar para ele: vamos unir forças! Não tenho nada contra o povo iraniano e acredito que a maioria dos iranianos não tem nada contra mim. Temos um inimigo muito semelhante: os nossos governos, homens extremistas tomados pela hybris. A palavra grega que também significa: arrogância, soberba, presunção, prepotência. Descreve bem – continua Chen – Netanyahu, Trump, Putin e todos os líderes do Hamas que levaram o povo palestino a morrer como mártires...”. Compartilho também outra citação sua do grego, a respeito dos líderes europeus: hypokrisis, hipocrisia.
O que pensar do chanceler Merz, que disse, ao que parece, “Netanyahu faz o trabalho sujo para todos nós”, para depois voltar a invocar a desescalada e as negociações diplomáticas após o lançamento das bombas EUA? Ninguém dotado de razão deveria aceitar comprar um carro usado dele. Ou do nosso ministro das Relações Exteriores que, pelo que me consta, declarou: “o ataque estadunidense estava no ar...”.
A única coisa boa, nesta imensa tragédia, é que emergem de forma cada vez mais evidente o cinismo, a obtusidade, as inclinações criminosas (aliás declaradas para Putin e Netanyahu por um tribunal internacional, e por vários tribunais estadunidenses para Trump) daqueles que ocupam as salas do poder do mundo.
Oxalá os povos, que infelizmente até agora confiaram em grande parte nessas figuras, acabem por compreender isso.
Consolam, se assim se pode dizer, as posições que surgiram nos últimos dias por parte de expoentes do mundo artístico e literário, de músicos como o intérprete ítalo-iraniano de Bach, Ramin Bahrami (entrevistado pelo Corriere e pela Stampa), e sobretudo de muitas mulheres do movimento “Mulher Vida Liberdade”, entre as quais a Prêmio Nobel da Paz Narges Mohammadi. No La Repubblica, ela afirmou que as guerras em curso “não deixarão como herança nem a democracia nem os direitos humanos, mas um acúmulo de raiva, violência, sangue...”. Enquanto que, com a paz e o apoio daqueles que acreditam na democracia (sobre cuja verdadeira natureza, acrescento, será certamente necessário refletir), a oposição iraniana poderia vencer, e no Irã “o papel das mulheres pode ser um modelo para todo o mundo”.
Escrevo pouco antes de participar, em Nápoles, da apresentação do livro Il gruppo del mercoledì. Una storia femminista (O grupo da quarta-feira. Uma história feminista). Cito um dos textos – “Sulla violenza, ancora” (Sobre a violência, de novo), datado de 2017 – que o livro ilustra: “Se olharmos para as formas de violência, notamos que elas apresentam semelhanças e diferenças, mas deixam – geralmente – uma marca masculina”.
Sim, não deveria chamar a atenção que os principais tomadores de decisão e atores das guerras em curso são todos machos?
No entanto, as feministas da quarta-feira não pretendem “crucificar um sexo”. Elas desejam que se comece a ver e a “rejeitar comportamentos agressivos”.