25 Junho 2025
"O Deus que não devemos abandonar não é o onipotente, onisciente, perfeitamente bom e eterno, que inaugura “o monoteísmo como problema político”, mas é o Deus sedento, vilipendiado, pobre e crucificado que subsiste também no último dos migrantes e das vítimas", escreve Raniero La Valle jornalista, ex-senador italiano, em artigo publicado por Prima Loro, 24-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Meu Deus, meu Deus, por que te abandonamos?”. Essa inversão do Salmo 22 seria, como nos é sugerido, a oração mais apropriada neste momento da história humana: deveria ser unânime, além de qualquer distinção entre crentes e não crentes, porque depois de Francisco a humanidade só pode ser reconhecida como uma coisa só, amada em sua integridade, não condenada a ser dividida entre “bênção” e “maldição” de acordo com o destino preconizado para ela por Netanyahu na ONU. Essa unidade impõe-se ainda mais quando, no auge do genocídio de Gaza, aparece a maior Bomba do mundo, que nem precisa ser nuclear para subjugar e pôr em perigo a Terra; uma bomba que, eventualmente, na sua capacidade, pode aniquilar o Kremlin, a Praça da Paz Celestial em Pequim ou o “Berlaymont” de Bruxelas, enquanto provoca a óbvia retaliação do Irã.
Alusivamente se chama de B2 (Bibi) Spirit, inspirada no pacto de aço que une o Pio Torturador (em oração no Muro das Lamentações) e o grande Mentiroso que garante duas semanas de espera enquanto seus bombardeiros já estão em voo sem escala. Não há piedade, enquanto o direito, mais do que transgredido, é ultrajado, e a vontade de morte, que o Papa Francisco em suas últimas palavras da mensagem de Páscoa esperava se invertesse em uma humanidade ressuscitada, se espalha pelo mundo.
A sociedade do século XX foi abalada pela pergunta “onde estava Deus?” quando Ele permanecia em silêncio durante o holocausto, e sobre qual seria “o conceito de Deus depois de Auschwitz”, na angústia do grito: “nunca mais!”. Hoje a pergunta é: “Qual é o conceito de Deus depois de Gaza?”, onde está Ele e por que seu silêncio mesmo diante dos assassinados em busca de alimento?
Desta vez, a pergunta é ainda mais perturbadora, porque Deus estaria entre os autores do crime, que estariam executando seu suposto mandato, e não entre as vítimas. No passado, a resposta judaica foi aquela lembrada por Elie Wiesel em “A noite”: Deus estava lá, pendurado na forca com o menino enforcado pelos nazistas no campo de Auschwitz. Não era um Deus que abandona. A resposta cristã era a mesma e foi aprofundada por Giuseppe Dossetti na introdução de “Le querce di Monte Sole” de Luciano Gherardi, na linha de Basílio de Cesareia e do livro de Jürgen Moltmann “O Deus crucificado”: o Deus que em Auschwitz estava pendurado na forca era o Deus crucificado, a divindade de Deus presente em seu rebaixamento à medida da carne do homem, até o último homem. Mas então onde está a salvação de um Deus que se despoja a si mesmo? “Mistério da fé”, responde a liturgia católica. Mas não sem nós. A salvação é que nós também não o abandonamos.
O Deus que não devemos abandonar não é o onipotente, onisciente, perfeitamente bom e eterno, que inaugura “o monoteísmo como problema político”, mas é o Deus sedento, vilipendiado, pobre e crucificado que subsiste também no último dos migrantes e das vítimas. Se não o abandonarmos em sua angústia, se reconhecermos sua inocência, se não pararmos de falar com ele, estaremos com ele em seu reino, seja qual for o nome que se queira dar ao paraíso. Se não abandonarmos os martirizados de Gaza, se salvarmos os deportados de Trump, se preservarmos os candidatos a serem mortos em todas as guerras, se colocarmos os pobres em primeiro lugar, se o Estado social escolher “eles primeiro”, como está escrito na Constituição italiana, também nós nos salvamos, todos se salvam.