05 Junho 2025
No início do papado do Papa Francisco, ficou claro que “discernimento” seria uma das suas palavras-chave, e o conceito inaciano passou a ser a base do seu Magistério e do processo de tomada de decisões pastorais.
A informação é de Elise Ann Allen, publicada por Crux, 04-06-2025.
Discernimento é um termo carregado para os jesuítas, pois traz consigo uma interpretação específica e certas regras para exercê-lo segundo a espiritualidade inaciana, conforme estabelecido por Santo Inácio em seus famosos Exercícios Espirituais.
Essa ênfase no discernimento tornou-se tão central no papado de Francisco que era difícil entendê-lo e muitos aspectos de seu papado sem ter pelo menos um conhecimento básico sobre a interpretação jesuíta do conceito.
De modo muito semelhante, o Papa Leão XIV, que, assim como Francisco, também pertence a uma ordem religiosa, os agostinianos, o sentido agostiniano de “comunidade” está rapidamente se tornando um aspecto definidor da vida e do ministério de Leão.
Quase imediatamente após sua eleição, o Papa Francisco teve uma reunião privada com o Padre Geral dos jesuítas, o espanhol Adolfo Nicolás, e também fez uma visita à sede curial dos jesuítas em Roma, localizada a poucos passos das muralhas do Vaticano.
Da mesma forma, o Papa Leão XIV, após sua eleição em 8 de maio, fez uma visita surpresa à sede dos agostinianos em Roma, a poucos passos do Vaticano, onde celebrou missa e almoçou com eles, como fazia quase diariamente quando era cardeal.
Ele teve uma audiência privada em 16 de maio com o Prior Geral dos Agostinianos, o espanhol Padre Alejandro Moral, cujo almoço comemorativo de 70 anos ele participou no domingo, 1º de junho, juntando-se novamente aos irmãos agostinianos na sede dos agostinianos e no Colégio Internacional Santa Mônica, adjacente a ela, para as festividades.
Assim como os jesuítas dão grande ênfase ao processo de discernimento, os agostinianos enfatizam antes de tudo a vida comunitária harmoniosa.
A Regra de Santo Agostinho, escrita por volta do ano 400, sendo a mais antiga regra monástica existente, descreve os elementos essenciais para a vida religiosa em comunidade guiada pelo Evangelho, em vez de estipular instruções específicas para detalhes como cronograma, arranjo de móveis ou tipos de alimentos que podem ser consumidos.
Em certo sentido, a espiritualidade agostiniana está quase inteiramente centrada na vida comunitária e em como vivê-la bem.
O prefácio da Regra de Santo Agostinho ressalta a necessidade de colocar o amor a Deus e ao próximo acima de tudo, baseado nas instruções de Jesus no Evangelho.
No capítulo um, a Regra afirma imediatamente que para os irmãos, “O principal propósito de terem se reunido é viver harmoniosamente em sua casa, voltados para Deus, com um só coração e uma só alma”.
Os irmãos são chamados, entre outras coisas, a compartilhar o que possuem com o restante da comunidade, manter uma vida de oração intensa e apoiar-se mutuamente em suas jornadas espirituais, esforçando-se para evitar conflitos internos e pedir desculpas uns aos outros quando necessário.
A vida comunitária é descrita pelos próprios agostinianos como “o eixo” em torno do qual gira sua vida religiosa, vivendo “harmoniosamente juntos, unidos por uma só alma e um só coração, buscando Deus juntos e abertos ao serviço da Igreja”.
O objetivo é imitar a primeira comunidade de apóstolos que se reuniu e compartilhou todas as coisas em comum enquanto ministrava ao povo de Deus, sendo “de um só espírito e coração no caminho para Deus.”
Está cada vez mais claro que esse sentido de comunidade e vida em comum é central para o Papa Leão, que não só visitava a comunidade agostiniana diariamente em Roma como cardeal, mas também frequentemente realizava reuniões lá e já a visitou duas vezes desde sua eleição há um mês, incluindo uma vez para celebrar o aniversário de seu amigo próximo, Moral.
Durante as reuniões gerais pré-conclave realizadas nas semanas anteriores à entrada dos cardeais eleitores na Capela Sistina para votar no próximo pontífice, duas das palavras-chave que rotineiramente surgiam nessas conversas eram comunhão e unidade.
Em uma sociedade e Igreja profundamente divididas e polarizadas, os cardeais viram a necessidade de buscar um caminho de unidade e comunhão, e procuravam um candidato que acreditassem poder ajudar a Igreja a superar suas divisões internas e conduzir os fiéis por um caminho claro rumo à unidade.
Não é surpresa, então, que tenha sido eleito um agostiniano, cuja formação em uma “vida em comum” harmoniosa poderia lançar as bases para a unidade que tantos cardeais consideravam de suma importância para a Igreja neste momento.
O Papa Francisco, ao enfatizar o discernimento, incentivou os fiéis a encontrar um caminho para Deus em qualquer circunstância, mesmo nas situações e problemas mais complexos da vida.
Ao destacar a importância da comunidade, se não em palavras, ao menos em ações, mesmo que subconscientemente, o Papa Leão convida os fiéis a percorrer esse caminho juntos, em harmonia e não na divisão, e está fazendo isso com o coração de um agostiniano.