07 Mai 2025
“Pedimos do fundo dos nossos corações que não paremos no caminho” – solicita a Red Laical Latinoamericana em carta enviada aos cardeais eleitores, na qual desenha através de um decálogo de “preocupações e desejos” o perfil do Papa a ser por eles escolhido. O caminho a que se referem é o caminho aberto por Francisco, que “deixou uma marca profunda nos nossos corações e nas nossas comunidades”.
A reportagem é publicada por 7Margens, 05-05-2025.
A Red Laical Latinoamericana nasceu dos encontros realizados durante a Assembleia Eclesial da América Latina e das Caraíbas(2022) e como resposta à convocação do Sínodo sobre a sinodalidade para “ser um ponto de conexão e facilitador para a troca de experiências, reflexões e preocupações entre organizações e comunidades leigas, promovendo ações comuns para fazer parte desta jornada sinodal”.
A red tem realizado vários encontros virtuais para analisar os detalhes do processo de sinodalidade no continente e as iniciativas empreendidas para esse fim. O próprio Papa Francisco incentivou o trabalho dos membros da red de diversas formas, incluindo através de uma carta na qual expressou a sua alegria pelo percurso realizado e incentivou a que o continuassem “trabalhando forte”.
O documento agora enviado aos cardeais recebeu o contributo de mais de 500 pessoas de 18 países da América Latina e das Caraíbas e de residentes hispânicos nos Estados Unidos pertencentes a quase 60 organizações, grupos e comunidades eclesiais.
O “estilo pastoral próximo, humilde e profético” do Papa Francisco mostrou “uma Igreja humana: pobre para o pobre, aberta ao diálogo, samaritana e missionária” e a “sua coerência de vida, a sua simplicidade, a sua palavra clara e o seu compromisso com os descartados, com a Terra, nossa Casa Comum, com a justiça social e os processos de reforma da Igreja” devolveram aos signatários a esperança e a certeza de que “a Igreja pode pregar e dar testemunho de Jesus que é misericórdia”.
Na carta aos cardeais, a red exprime a sua gratidão a Francisco por “ter aberto processos: a sinodalidade; o aprofundamento do diálogo inter-religioso; a revalorização do laicato; e a inclusão daqueles que historicamente foram marginalizados ou excluídos dos espaços eclesiais e sociais, como as mulheres, os povos indígenas, movimentos sociais e populares ou [a atenção à] diversidade sexual.”
Nos dez pontos do perfil do novo Papa, os leigos latino-americanos salientam a esperança e o desejo que ele promova: o caminho aberto por Francisco, fiel ao Evangelho e aos ensinamentos do Concílio Vaticano II; a participação autêntica dos leigos em todos os níveis da vida eclesial; uma Igreja sinodal que discerne em comunidade, escuta com o coração e caminha com todos, todos, todos; o cuidado da Casa Comum, a partir de uma ecologia integral, profética e concreta; o reconhecimento da diversidade da nossa humanidade – cultural, social, sexual, espiritual – como um presente de Deus, não como uma ameaça; a resposta às necessidades materiais e espirituais da humanidade e das comunidades católicas, reconhecendo as situações que devem ser reparadas e assim curar as feridas que o clericalismo e o abuso de poder causaram.
Esperam ainda que o próximo Papa “seja um pastor que caminhe ao lado do seu povo, com os pobres, com os jovens, com as mulheres, com as pessoas idosas, com as crianças, com aqueles que buscam a paz e com aqueles que desejam crer; que viva com simplicidade, sem privilégios, guardando a confiança do Povo de Deus pois os pastores não podem viver como príncipes, mas entre as suas ovelhas, como Jesus, o Bom Pastor; e que ouça as vozes daqueles que sofrem, incluindo as vítimas de abusos, e atue [neste campo] com firmeza e justiça”.
Finalmente, com um Papa que responda a este perfil, acreditam que a Igreja possa ser “uma Igreja de testemunhas, uma Igreja que se converte, sentindo-se amada pela misericórdia de Deus” e acrescentam um outro pedido para que se avance “na transparência financeira em toda a Igreja, incluindo dioceses, ordens religiosas e propriedades eclesiásticas”, promovendo o novo Papa mecanismos claros de prestação de contas.
Recordando o pontificado de Francisco, os leigos latino-americanos deixam escrito o seu profundo apreço por ele ter colocado sempre “o seu olhar nos mais vulneráveis: migrantes, pessoas em situação de tráfico, pessoas com deficiências, vítimas de violência” e por se ter feito “presente com gestos concretos, como a visita aos lares de refugiados, a luta contra a corrupção e sua coragem em enfrentar firmemente os abusos dentro da Igreja”.