05 Mai 2025
"Na origem dessa proposta está uma observação evidente para todos os participantes do pré-Conclave, ou seja, o fato de que não existe um papa que agrade a todos: sempre foi assim na história da Santa Igreja Romana, mas no Colégio de Cardeais mais concorrido e mais internacional de todos os tempos, as diversidades culturais, linguísticas e ideais são tangíveis, as prioridades pastorais e sociais dos cardeais africanos são diferentes daquelas dos europeus do norte, os católicos minoritários da Ásia vivem em uma situação totalmente diferente da dos latino-americanos", escreve Iacopo Scaramuzzi, vaticanista de La Repubblica e autor de vários livros historicamente focados no atual papado, como, Il sesso degli angeli: pedofilia, feminismo, lgbtq+: il dibattito nella Chiesa, em artigo publicado por La Repubblica, 04-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A ideia está circulando com insistência entre os cardeais reunidos no Vaticano e poderia reunir tanto a esquerda quanto a direita, tanto os bergoglianos quanto aqueles que querem pôr um freio, aqueles que querem levar adiante o impulso reformista imprimido por Francisco e aqueles que gostariam de canalizá-lo, se não o amortecer. As ênfases dos discursos, a portas fechadas, são muito diferentes, mas a abordagem poderia encontrar um amplo consenso. E assumir a forma de um conselho episcopal permanente que estaria ao lado do novo papa, uma espécie de conselho de ministros formado por bispos representativos de todo o mundo, não para diminuir o incompressível ministério do bispo de Roma, mas para apoiá-lo com um fórum que daria voz às muitas facetas da Igreja Católica mundial.
Na origem dessa proposta está uma observação evidente para todos os participantes do pré-Conclave, ou seja, o fato de que não existe um papa que agrade a todos: sempre foi assim na história da Santa Igreja Romana, mas no Colégio de Cardeais mais concorrido e mais internacional de todos os tempos, as diversidades culturais, linguísticas e ideais são tangíveis, as prioridades pastorais e sociais dos cardeais africanos são diferentes daquelas dos europeus do norte, os católicos minoritários da Ásia vivem em uma situação totalmente diferente da dos latino-americanos. “O que parece normal para um bispo de um continente”, observou o Papa Francisco em 2015, ”pode ser estranho, quase como um escândalo - quase! - para o bispo de outro continente”. Francisco não inventou as diversidades, em doze anos de pontificado ele as revelou, mas encontrar um pontífice que as englobe todas, agora, é impossível. E assim, colocar ao lado dele, um pequeno grupo de bispos poderia compensar as limitações do papa, seja ele quem for, e mantê-lo em contato constante com as mil instâncias da Igreja mundial.
É a partir de Bergoglio que todos os cardeais se posicionam, tanto seus detratores quanto seus admiradores. Eles o acusam de um estilo de governo solitário e, às vezes, autoritário: e é verdade que o papa reformista governou com mão firme, assim como é verdade que ele se inspirou no modelo da Companhia de Jesus, onde o superior ouve seus conselheiros, mas depois decide sozinho. Inevitável, para um pontífice chamado a reformar uma Cúria Romana opaca e voltada sobre si mesma. Mas para seus críticos, seria necessário evitar replicar essa experiência, deixando o próximo papa menos sozinho, envolvendo mais a Cúria na gestão cotidiana da Igreja e fortalecendo os vínculos entre o bispo de Roma e os outros bispos do mundo (colegialidade).
Paradoxalmente, sobre esse ponto convergem também os admiradores de Francisco, ou seja, aqueles que apoiaram o impulso descentralizador do papa argentino. Porque se Bergoglio usou um certo decisionismo, ele o fez para dar mais voz às Igrejas locais, às conferências episcopais dos vários continentes, aos leigos e às mulheres (sinodalidade). Vimos isso com as numerosas assembleias que ele convocou em Roma, com as quais revitalizou um instrumento, o Sínodo, justamente desejado por Paulo VI após o Concílio Vaticano II, mas desde então reduzido a uma convenção soporífera.
Em vez disso, na era Bergoglio, os sínodos foram o teatro de confrontos animados sobre temas quentes, como divorciados novamente casados, padres casados, casais homossexuais e mulheres diáconas. Francisco também introduziu outra novidade, o chamado C9, ou seja, um conselho de nove cardeais vindos de todos os continentes que o ajudaram na reforma da Cúria Romana: uma estrutura que Francisco, no entanto, nunca institucionalizou, e que era totalmente dependente do Pontífice. Agora, um conselho episcopal permanente, um pouco C9 e um pouco Sínodo, talvez eleito pelas diferentes conferências episcopais ao redor do mundo, talvez com a participação de mulheres e leigos, poderia ser uma evolução das novidades de Francisco. Para fazer com que o legado do papa argentino não seja um legado incensado com palavras genéricas e desconsiderado nos fatos, mas uma forma mais aberta e dialogante do poder papal.