06 Mai 2025
“O gênio feminino entra no conclave através do testemunho de Francisco, que trabalhou para abrir a Igreja a uma autêntica igualdade. Agora, em relação às mulheres, não há como voltar atrás. A transmissão da fé ocorre na família por meio das mães e avós, mas a instituição ainda sofre de uma rigidez estrutural em relação à figura feminina”, argumenta a conselheira Irmã Anna Maria Vissani, diretora do centro de espiritualidade Sul Monte, na região das Marche, especializada em aconselhamento grafológico da personalidade após um doutorado em Teologia Moral na Academia Alfonsiana e um mestrado em Bioética na Universidade Católica, autora de numerosos ensaios especializados de viés psicológico-espiritual.
A entrevista é de Giacomo Galeazzi, publicada por La Stampa, 03-05-2025. A tradução e de Luisa Rabolini.
O que está refreando a plena igualdade entre homens e mulheres na Igreja? “Começando pela formação nos seminários, uma consciência mais completa da própria maturidade afetiva deveria ser promovida para complementar a maturidade intelectual. Mesmo no percurso acadêmico, até recentemente, os homens eram separados das mulheres: quase sempre eu era a única mulher durante meus estudos teológicos e isso desenvolveu em mim um espírito de autodefesa para não ser dominada pela prevalência masculina”.
A questão feminina entrou no Sínodo dos Bispos com o direito de voto das mulheres. Também pode chegar às congregações gerais?
Não pode deixar de encontrar espaço um tema que diz respeito à metade da catolicidade. Tive experiência disso ao longo de meu caminho de estudos e profissão, ao estar juntos, ajudei muitos homens de Igreja que até mesmo choraram em meu ombro por crises afetivas. O ponto central é o amadurecimento, não muito diferente do que acontece nos casais em dificuldades. O sacerdócio não doa a graça de Deus se não for sustentado pela integração do amadurecimento humano e da fé. É possível ser sacerdotes, bispos, cardeais e continuar sendo pessoas frágeis. Ajudei muitos homens da Igreja que não tinham as resistências necessárias para enfrentar o relacionamento homem-mulher de forma responsável e com maturidade afetiva.
Como sair de uma crise pessoal quando se tem uma responsabilidade na Igreja?
É preciso ter uma personalidade bem formada em nível humano e interior. A esfera intelectual, na realidade cotidiana, entra em um caminho quando se tem a força e a coragem de pedir ajuda. Francisco exortou para sair do recinto do sagrado, da zona de conforto para a imersão entre as pessoas. Se a pessoa não for adequadamente formada, torna-se pesado levar adiante uma vocação específica. E assim muitos desmoronam. É por isso que o Papa Bergoglio tem frequentemente repreendido os reitores dos seminários.
É necessária uma formação dos sacerdotes para o relacionamento homem-mulher?
O primeiro passo é a formação para a afetividade e depois o acompanhamento para o amadurecimento integral da pessoa. Se algo emperra ou cria problemas, é preciso buscar ajuda. Nunca enfrente as crises sozinho, como sempre repito nos encontros com o clero e os casais. Se não formos capazes de ser humildes e buscar ajuda no caso de uma paixão ou de outros motivos que provocam uma crise vocacional, tudo se torna mais difícil. E as dificuldades se somam aos desconfortos.
Por que a Igreja foi abalada nos últimos anos pelo flagelo dos abusos?
É uma questão de entender por que, em muitos casos, não houve uma conscientização não apenas por parte daqueles na Igreja que perpetraram abusos, mas também por parte daqueles superiores que não intervieram, não ajudaram, não denunciaram, não agiram para proteger as vítimas e acabar com o mal. Quando se começa a encobrir, torna-se muito difícil desencobrir. Infelizmente, temos diante de nossos olhos casos gravíssimos de condutas realmente obsessivas que levaram a situações de abusos dentro da Igreja.
Por que, nas reuniões pré-conclave, a questão feminina não está entre os tópicos abordados?
Nas congregações gerais, não se fala sobre as mulheres na Igreja porque continua sendo um tema polêmico. Há aqueles que são contra o reconhecimento de um papel maior para a componente feminina, embora seja numericamente predominante. Alguns nas hierarquias eclesiásticas e, portanto, também no Colégio de Cardeais, talvez sejam contra permitir que as mulheres participem dos processos de tomada de decisão. A questão feminina não está sendo discutida nestes últimos dias porque isso aumentaria as distâncias e não se quer entrar no conclave em uma situação de divergência entre os indivíduos.
O Papa Francisco, no entanto, queria mulheres em posições de responsabilidade na máquina do Vaticano?
O Papa Bergoglio deu passos importantes, mas depois teve que dar uma parada porque os tempos não estavam maduros e não eram oportunas pressões para avançar. Basta pensar no diaconato feminino. Dois mil anos de história não podem ser apagados em um período tão curto. No início da história do cristianismo, havia mais possibilidades para as mulheres porque a Igreja era menos institucionalizada e os espaços eram indefinidos.
Que esperanças tem para o conclave em termos de igualdade na Igreja?
O papa a ser eleito daqui a alguns dias não será o papa dos homens apenas, mas de todos. E a serem enfrentados serão os temas que interessam homens, mulheres e homossexuais. A começar pela educação e pela formação. Não basta colocar as mulheres em posições de responsabilidade na Igreja. Os homens devem ser preparados para acolhê-las e interagir com elas em um plano de igualdade intelectual e efetiva. Certas decisões precisavam ser contextualizadas e era necessária uma aprovação mais ampla. Deveria ter sido melhor preparada aquela que a mídia chamou de ‘virada cor-de-rosa’, porque a rigidez permanece e, ao se avançar aos empurrões, a reação é o oposto da intenção que se deseja alcançar.
Não é suficiente colocar mulheres nos cargos mais altos do Vaticano?
A pressa é inimiga de resultados duradouros. As verdadeiras reformas devem ser acompanhadas por um processo de crescimento geral, caso contrário, pode haver retrocessos abruptos, como aconteceu nos Estados Unidos em relação aos direitos civis com a eleição de Donald Trump. As relações entre mulheres geralmente são menos fáceis do que entre os homens, porque nós, mulheres, tendemos a conservar internamente e, portanto, interagir de forma hostil com as outras para ter preeminência.
O carreirismo também é um mal que diz respeito às mulheres na Igreja?
Sim, infelizmente temos experiência diária disso com a governança dos institutos religiosos femininos. Apesar do fato de que, em nosso caso, a duração dos encargos é de apenas poucos anos, também no nível feminino a corrida pelo poder está presente em todos os níveis. Essa certamente não é a igualdade que o Papa Francisco procurou favorecer na Igreja, ou seja, um rebaixamento do nível para pegar o pior do carreirismo masculino e torná-lo uma práxis na componente eclesial feminina.