19 Setembro 2022
Pelas manchetes de muitos jornais de ontem, parece que o Papa Francisco mudou sua posição sobre a guerra e que, contradizendo-se, decidiu incentivar o envio de armas para a Ucrânia para que ela possa se defender melhor da agressão russa. No entanto, se for lido tudo o que o pontífice disse à imprensa no avião voltando do Cazaquistão, a questão se esclarece.
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 17-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Em sua opinião, acha que é preciso dar armas à Ucrânia para a autodefesa?", pergunta um jornalista do canal de TV alemão Ard. “Esta é uma decisão política - responde Bergoglio -, que pode ser moral, moralmente aceita, se for feita segundo as condições de moralidade, que são muitas, e depois podemos falar delas. Mas pode ser imoral se for feita com a intenção de provocar mais guerra ou vender armas ou descartar aquelas armas que não servem mais. A motivação é o que qualifica em grande parte a moralidade deste ato”. E acrescenta: “Defender-se não é apenas lícito, mas também uma expressão de amor à pátria. ... Quem não defende algo, não ama ... quem defende, ama”.
Portanto, “direito de defesa, quando necessário”. Mas sob condições de "moralidade". E aquelas da OTAN, com o seu anterior alargamento a Leste "latindo à porta da Rússia" e agora com a constante transferência de armamentos cada vez mais sofisticados para a Ucrânia, não parecem nada disso.
Tanto que um pouco mais adiante, sempre respondendo à mesma pergunta, o papa fala da “fábrica de armas”. "Esse é um negócio assassino - explica -. Alguém que entende de estatísticas me disse que se parássemos de fabricar armas por um ano, toda a fome do mundo seria resolvida. Não sei se isso é verdade ou não. Mas fome, educação... nada, não se pode porque tem que fazer armas”.
E propõe um exemplo que lhe é caro, aqueles dos estivadores genoveses que se recusaram a carregar armas em um navio com destino à África: "Em Gênova, há alguns anos, três ou quatro anos, chegou um navio carregado de armas que deveriam transferir para um navio maior que estava indo para a África, perto do Sudão do Sul. Os trabalhadores portuários não quiseram fazer isso, custou-lhes, mas disseram: ‘Eu não colaboro’. É uma anedota, mas que nos faz sentir uma consciência de paz”.
“A guerra em si é um erro! E nós neste momento estamos respirando esse ar”. O Papa Francisco não modificou a sua linha: ele condena a invasão russa da Ucrânia, sem, no entanto, justificar a guerra. Apesar das leituras seletivas de suas palavras por aqueles que querem forçar Bergoglio a vestir o capacete.
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O capacete, a todo custo, em Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU