05 Julho 2018
Os padres não têm credibilidade quando se trata de formar pessoas para o casamento, de acordo com o principal clérigo irlandês no Vaticano.
A reportagem é do Irish Times, 04-07-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Kevin Farrell, prefeito (chefe) do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida do Vaticano, disse, em Dublin, que “os padres não são as melhores pessoas para formar outras pessoas para o casamento”.
“Eles não têm credibilidade. Eles nunca viveram a experiência. Eles podem saber de teologia moral, teologia dogmática na teoria, mas daí a colocá-la em prática todos os dias... Eles não têm a experiência.”
O clericalismo está morto, disse ainda o cardeal que está por trás do Encontro Mundial das Famílias em Dublin no próximo mês, “não porque tenhamos feito algo para matá-lo, mas por causa dos números”. Em Dallas, onde ele foi bispo de 2007 a 2016, “temos um milhão e meio de católicos e 75 padres, com uma taxa de 45% a 50% de frequência. Esses 75 padres não vão se interessar em organizar encontros de preparação para o casamento”, disse.
“Temos que nos preocupar com os 99%, com os batizados, e não nos preocupar com as outras coisas pelas quais estivemos obcecados.” A arquidiocese de Dublin, com uma população de 1,15 milhão de católicos, tem 413 padres diocesanos e religiosos.
O cardeal Farrell falou em uma entrevista com a Intercom, uma revista publicada pelos bispos católicos da Irlanda. “A base de toda a vida humana é a família, mas, em alguns países, a Igreja é muito clerical”, afirmou.
Mas há “países onde os leigos dirigem a Igreja. Na minha própria experiência como bispo de Dallas, nós tínhamos um padre em uma paróquia onde 10.000 pessoas participavam da missa no fim de semana. Temos paróquias com um orçamento anual de 20 milhões de dólares. Nenhum padre poderá administrar uma paróquia dessa magnitude sem leigos competentes”.
No Vaticano, o Papa Francisco “se dá conta de que a Cúria Romana está sobrecarregada de clérigos, e não deveria ser assim. Funções administrativas dentro da Igreja podem ser feitas por qualquer pessoa. Elas têm sido feitas principalmente por padres, mas também podem ser feitas por leigos”.
No que se refere às mulheres, o Papa Francisco, “pela primeira vez na história da Igreja”, nomeou-as como consultoras da Congregação para a Doutrina da Fé, “que é, quer se goste ou não, a ‘usina central’ do Vaticano”.
Ele também nomeou três mulheres para altos cargos no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, disse o cardeal. “Francisco, despercebidamente, tem colocado mulheres em posições de poder gradualmente”, afirmou.
Quanto à ordenação de mulheres, o cardeal Farrell perguntou: “Queremos transformá-las em clérigos? Nós não. Elas têm que ser pessoas do mundo que vivem no mundo”.
Nenhuma das mulheres que ocupam altos cargos no Vaticano eram “membros consagradas de comunidades leigas. São mulheres casadas”.
Em sua opinião, “a ordenação de mulheres não é verdadeiramente uma solução para a Igreja, porque, se você simplesmente ordenar mulheres, você as isolará, se você continuar o sistema, se você não mudar as estruturas”.
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Padres não têm experiência para preparar pessoas para o casamento, constata cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU