06 Junho 2018
2017 ficará marcado na história pelos Massacres no Campo. Cinco massacres com 31 vítimas.44% do total de assassinatos em conflitos no campo. No primeiro semestre de 2017, em pouco mais de um mês, ocorreram os massacres de Colniza, Vilhena e Pau D’Arco, com 22 mortos.
A informação é da Comissão Pastoral da Terra (CPT), 04-06-2018.
O professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Cláudio Maia, ao analisar os dados registrados pela CPT identificou que em dois dos massacres ocorridos em 2017, Colniza (MT), com 9 mortos, e Pau D’Arco (PA), 10 mortos, o número de pessoas mortas só foi menor que o de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996, com 19 mortes. Números de massacres, próximos aos de 2017, foram registrados somente no ano de 1985, com 10 casos, e em 1987, com seis casos. Desde 1988 não se registrava, num único ano, mais do que dois massacres. No entender de Airton Pereira e José Batista Afonso, ambos integrantes da CPT, o que assusta é identificar o “grau de brutalidade e crueldade que os acompanharam. Cadáveres degolados, carbonizados, ensanguentados, desfigurados. Exemplos que deverão ficar marcados para sempre na alma de homens, de mulheres, de jovens e crianças. Uma pedagogia do terror”.
A CPT registra como massacre quando em um conflito, no mesmo dia, são assassinadas três ou mais pessoas. Após divulgação dos dados de assassinatos em conflitos no campo, no dia 16 de abril passado, a Pastoral incluiu o caso de Canutama (AM) também como massacre, aumentando para cinco o número de massacres em 2017. Voltamos a destacar a suspeita de ter ocorrido mais um massacre, de indígenas isolados, conhecidos como “índios flecheiros”, do Vale do Javari, no Amazonas, entre julho e agosto de 2017. Seriam, pelas denúncias, mais de 10 vítimas. Contudo, já que nem o Ministério Público Federal no Amazonas e nem a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) chegaram a confirmar as mortes, as mesmas não foram computadas.
No Distrito de Taquaruçu do Norte, na área do assentamento Guariba, município de Colniza, no Mato Grosso, nove posseiros foram assassinados por quatro pistoleiros, contratados por um empresário madeireiro. Os pistoleiros encapuzados chegaram à comunidade, invadiram barracos e mataram as nove pessoas com tiros de armas calibre 12 e golpes de facão. Algumas das vítimas foram mortas enquanto trabalhavam na terra. Algumas foram torturadas, pois os corpos estavam amarrados. Dois foram degolados. Seus nomes: Aldo Aparecido Carlini, Edison Alves Antunes, Ezequias Santos de Oliveira, Fábio Rodrigues dos Santos, Francisco Chaves da Silva, Izau Brito dos Santos, Samuel Antônio da Cunha, Sebastião Ferreira de Souza e Valmir Rangeu do Nascimento.
No dia 29 de abril, três pessoas foram assassinadas na fazenda Jatobá, na linha 90, Gleba Corumbiara, distrito de São Lourenço, perímetro rural de Vilhena, em Rondônia. Os três corpos foram encontrados queimados dentro de uma caminhonete. Os mortos foram Valdinei Assis da Silva, de 35 anos, Yure Silva, 24 anos, e Geovane Alves de Jesus, de 32 anos. Segundo denúncia feita pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), durante audiência pública no Incra de Porto Velho, em 11 de maio de 2017, os trabalhadores foram assassinados pelo fato de apoiarem a luta por reforma agrária de famílias sem-terra que atuavam na região. Na mesma fazenda, em 2015, cinco trabalhadores haviam sido mortos, três dos quais queimados ainda vivos. Um crime até hoje impune.
10 trabalhadores rurais sem-terra, uma mulher e nove homens, foram mortos pelas Polícia Militar e Civil do estado do Pará durante uma operação na Fazenda Santa Lúcia, no Acampamento Nova Vida, que tinha como objetivo cumprir mandados de prisão. As vítimas foram alvejadas a curta distância, com tiros no peito e na cabeça, o que configura execução. A polícia tentou enganar a todos coma versão de que as mortes teriam ocorrido em um confronto com os ocupantes, sem que nenhum policial tenha saído ferido. Para apagar os vestígios e encobrir o massacre, às gargalhadas, conforme testemunhas, os corpos das vítimas foram retirados do local, jogados como animais em carrocerias de camionetes. Durante as investigações um policial confessou ter havido acordo entre todos eles para dizerem que as mortes haviam ocorrido em confronto. Em setembro de 2017,15 policiais (13 militares e 2 civis) foram presos preventivamente, e soltos por decisão no Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJE-PA) no dia 18 de dezembro. Mas a prisão deles foi reestabelecida por liminar da presidente do STJ, ministra Laurita Vaz, ainda em dezembro, e mantida pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, que em 16 de janeiro de 2018, negou habeas corpus requerido pela defesa dos policiais civis e militares.
No dia 6 de agosto de 2017, na comunidade Quilombola de Iúna, em Lençóis, na Bahia, foram assassinados a tiros Adeilton Brito de Souza, “Boga”; Gildásio Bispo das Neves, Amauri Pereira Silva, Valdir Pereira Silva, Marcos Pereira Silva e Cosme Rosário da Conceição. Homens desconhecidos perpetraram o massacre. A Polícia Civil informou que cada vítima recebeu de quatro a cinco tiros. Com muita rapidez, a polícia atribuiu o crime ao tráfico de drogas. Mas foi a partir do momento em que a comunidade foi certificada como território quilombola, novembro de 2015, que começaram as violências e ameaças. Em julho de 2017, duas lideranças da comunidade já haviam sido assassinadas, Lindomar Fernandes Martins e José Raimundo Mota de Sousa. Após as ameaças e as mortes, das 40 famílias que moravam na comunidade, restavam na área somente 12.
Flávio de Lima Souza, Marinalva Silva de Souza e Jairo Feitosa Pereira desapareceram no Igarapé Araras, município de Canutama, Amazonas, quando faziam um levantamento da quantidade de lotes na referida localidade, a fim de enviar o relatório ao Incra para o processo de regularização da área. Esta área fora ocupada por 316 famílias no ano de 2015. Trata-se de terra pública, que a fazenda Shalom, por meio do Grupo Master Holding S/A, dizia lhe pertencer. As buscas pelos desaparecidos foram feitas por soldados do Exército Brasileiro, bombeiros, policiais civis e militares. Sem sucesso. Foram suspensas no dia 24 de dezembro 2017, sem esperanças de encontrá-los com vida. Eles já haviam recebido ameaças de morte.
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Conflitos no Campo Brasil 2017: massacres e pedagogia do terror - Instituto Humanitas Unisinos - IHU