11 Janeiro 2017
Jesus tinha autoridade porque servia as pessoas, era próximo delas e era coerente, ao contrário dos doutores da Lei que se sentiam príncipes. Essas três características da autoridade de Jesus foram destacadas pelo papa na homilia da missa matinal na Casa Santa Marta. Francisco ressaltou que, ao contrário, os doutores da Lei ensinavam com uma autoridade clericalista, separados das pessoas, não viviam aquilo que pregavam.
A reportagem é de Debora Donnini, publicada no sítio da Radio Vaticana, 10-01-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A autoridade de Jesus e a dos fariseus são os dois polos em torno dos quais girou a homilia do papa. Uma autoridade real e outra formal. No Evangelho dessa terça-feira, fala-se do espanto das pessoas, porque Jesus ensinava “como quem tem autoridade” e não como os escribas: eram as autoridades do povo, destacou Francisco, mas o que eles ensinavam não entrava no coração, enquanto Jesus tinha uma autoridade real: não era “um sedutor”, Ele ensinava a Lei “até o último pontinho”, ensinava a Verdade, mas com autoridade.
O papa, depois, entrou em detalhes e se deteve sobre as três características que diferenciam a autoridade de Jesus da dos doutores da Lei. Enquanto Jesus “ensinava com humildade” e diz aos seus discípulos que “o maior seja como aquele que serve: faça-se o menor”, os fariseus se sentiam príncipes:
“Jesus servia as pessoas, explicava as coisas para que as pessoas entendessem bem: estava a serviço das pessoas. Tinha uma atitude de servo, e isso dava autoridade. Em vez disso, esses doutores da Lei que as pessoas, sim, escutavam, respeitavam, mas não sentiam que tinham uma autoridade sobre eles, estes tinham uma psicologia de príncipes: ‘Nós somos os mestres, os príncipes, e nós ensinamos a vocês. Nada de serviço: nós mandamos, vocês obedecem’. E Jesus nunca se faz passar por príncipe: sempre era o servo de todos, e era isso que lhe dava autoridade.”
É estar perto das pessoas, de fato, o que confere autoridade. A proximidade, portanto, é a segunda característica que diferencia a autoridade de Jesus da dos fariseus. “Jesus não tinha alergia das pessoas: tocar os leprosos, os doentes, não lhe dava calafrios”, explica Francisco, enquanto os fariseus desprezavam “a pobre gente, ignorantes”, gostavam de passear pelas praças, bem vestidos:
“Estavam separados das pessoas, não eram próximos; Jesus era muito próximo das pessoas, e isso dava autoridades. Aqueles separados, esses doutores, tinham uma psicologia clericalista: ensinavam com uma autoridade clericalista, isto é, o clericalismo. Eu gosto muito quando leio a proximidade das pessoas que o Bem-aventurado Paulo VI tinha com as pessoas. No número 48 da Evangelii nuntiandi, vê-se o coração do pastor próximo: ali está a autoridade daquele papa, a proximidade. Primeiro, servo, de serviço, de humildade: a cabeça é aquele que serve, inverte tudo, como um iceberg. Do iceberg, vê-se apenas o cume; em vez disso, Jesus inverte, e o povo está em cima, e Ele que comanda está abaixo e comanda de baixo. Segundo, a proximidade.”
Mas há um terceiro ponto que diferencia a autoridade dos escribas da de Jesus, e é a coerência. Jesus “vivia o que pregava”: “Havia como que uma unidade, uma harmonia entre o que ele pensava, sentia, fazia”. Enquanto quem se sente príncipe tem “uma atitude clericalista”, isto é, hipócrita, diz uma coisa e faz outra:
“Em vez disso, essas pessoas não eram coerentes, e a sua personalidade estava a tal ponto dividida que Jesus aconselha aos seus discípulos: ‘Façam o que eles dizem, mas não o que eles fazem’: diziam uma coisa e faziam outra. Incoerência. Eram incoerentes. E o adjetivo que muitas vezes Jesus lhes diz é hipócrita. E se entende que alguém que se sente príncipe, que tem uma atitude clericalista, que é um hipócrita não tem autoridade! Pode dizer as verdades, mas sem autoridade. Em vez disso, Jesus, que é humilde, que está a serviço, que é próximo, que não despreza as pessoas e que é coerente tem autoridade. E essa é a autoridade que ouve o povo de Deus.”
Em conclusão, o papa, para dar a compreender plenamente isso, lembra a parábola do Bom Samaritano. Diante do homem deixado meio morto na estrada pelos bandidos, passa o sacerdote e vai embora, talvez porque tem sangue e pensa que, se o tocasse, se tornaria impuro; passa o levita, e, diz o papa, “eu que ele pensava” que, se se intrometesse, depois deveria ir ao tribunal para testemunhar e tinha tantas coisas a fazer. Ele também, portanto, vai embora. No fim, vem o samaritano, um pecador, que, ao contrário, tem piedade. Mas há outro personagem, o hospedeiro, nota o papa, que fica surpreso não com o assalto dos ladrões, porque era uma coisa que acontecia naquela estrada, não com o comportamento do sacerdote e do levita, porque ele os conhecia, mas com o do samaritano. O espanto do hospedeiro diante do samaritano: “Mas este é um louco”, “não é judeu, é um pecador”, podia pensar.
Francisco se conecta, portanto, com o espanto das pessoas do Evangelho dessa terça-feira diante da autoridade de Jesus: “Uma autoridade humilde, de serviço”, “uma autoridade próxima das pessoas” e “coerente”.
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"Jesus tem autoridade porque está a serviço. O clericalismo despreza as pessoas" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU