24 Abril 2017
“A melhor maneira de combater o terrorismo é nos unirmos em uma sociedade compassiva, em que todas as pessoas sejam ouvidas.” O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, é o fenômeno político do momento, líder em contra-tendência do movimento progressista. Por ocasião da visita do colega [Paolo] Gentiloni [primeiro-ministro italiano], ele aceitou responder às perguntas do La Stampa.
A reportagem é de Paolo Mastrolilli, publicada por La Stampa, 22-04-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Que temas discutiu com o primeiro-ministro Gentiloni, em vista do G7?
Acima de tudo, falamos sobre como estender as oportunidades para canadenses e italianos, para criar postos de trabalho bem remunerados para a classe média em ambas as margens do Atlântico.
O senhor é o único progressista do G7 que ganhou recentemente as eleições, enquanto outros países ocidentais, começando pelos Estados Unidos, rejeitavam essa agenda. Por que o movimento progressista está em crise, exceto no Canadá, e que programa ele deveria adotar na Europa e na América para reconquistar a confiança dos eleitores?
Nas últimas eleições, foi incrivelmente encorajador ver como os canadenses não responderam à política da divisão, da negatividade e da exclusão, mas a uma visão que dizia: “Vamos nos unir e trabalhar duro, juntos, sobre os desafios que temos pela frente, para que todos possam ter sucesso”. No coração do nosso sucesso, esteve o fato de reconhecer que as pessoas olham com ansiedade para o futuro e buscam líderes que ofereçam soluções reais para apoiá-las nesses tempos incertos. A raiva e a ansiedade dos povos são reais. Muitas pessoas estão preocupadas com o que o futuro pode reservar: que a globalização e as mudanças tecnológicas as deixem para trás e que os seus filhos não tenham as mesmas oportunidades dos pais.
Esse é o motivo pelo qual o nosso governo, dentro de um mês desde a posse, aumentou os impostos em 1% para os mais ricos e cortou para milhões de canadenses de classe média. Melhoramos os pagamentos para os subsídios familiares em um único Canada Child Benefit, mensal e isento de impostos. Essa mudança deu a nove em cada 10 famílias mais dinheiro para ajudá-las a enfrentar os custos crescentes de criar os filhos, e nos deu condições de reduzir a pobreza infantil em 40%. O nosso governo também fez investimentos significativos na formação profissional, para que mais canadenses recebam a educação e a experiência de que precisam e estejam preparados para os trabalhos de hoje e de amanhã. Em todo o mundo, precisamos que a classe média se sinta mais segura sobre as suas perspectivas e o seu futuro. Devemos apoiar as pessoas em uma economia em mudança e em um mundo cada vez mais globalizado.
A ameaça do terrorismo, que acaba de atingir Paris e, em janeiro, a cidade de Québec, é um dos fatores que contribuem para o descontentamento. Que políticas o movimento progressista deve adotar para combater o terrorismo sem abrir mão dos seus valores?
Em janeiro passado, o Canadá lamentou a perda de seis vidas inocentes, alvejadas simplesmente porque praticavam a sua religião. Foi um ataque contra a comunidade islâmica e todos os canadenses, que atingiu uma das nossas liberdades mais caras: praticar a própria fé sem medo. O ataque buscava instilar o medo e dividir os canadenses entre si. Em vez disso, os canadenses se uniram. Um movimento de solidariedade rapidamente se formou no país, enquanto os canadenses se uniam para condenar o ataque, favorecer o diálogo e combater o medo e o ódio com mensagens positivas e esperança.
Os líderes de todos os níveis governamentais e de todos os partidos foram para a cidade de Québec para se unir à comunidade muçulmana e chorar com aqueles que haviam perdido seus entes queridos. A diversidade e a abertura ao mundo são uma fonte de força e tornaram o Canadá não só mais próspero como país, mas também mais seguro e unido. Nós continuaremos mostrando solidariedade e apoiando as comunidades que foram afetadas pelos atos de terror. Sabemos que a melhor maneira de defender os canadenses e combater o terrorismo é nos unirmos em uma sociedade compassiva, em que todas as pessoas sejam ouvidas, recebam assistência, ajuda, e estejam lá umas para as outras.
Quando Trump propôs a proibição para os migrantes, o senhor se comprometeu para acolher mais refugiados no Canadá. Por quê?
A diversidade está no coração do sucesso do Canadá. É aquilo que somos e fazemos. Nós provamos que um país pode ser construído e definido por valores compartilhados. Não uma religião, uma língua ou uma etnia, mas os valores comuns. No Canadá, não importa qual seja a sua fé, quem você ame ou de onde você vem, você pode trabalhar duro, ter sucesso e construir um futuro melhor para você e para os seus filhos. Os canadenses entendem que, quando nos unimos para dar as boas-vindas e integrar os recém-chegados, isso fortalece as nossas comunidades e ajuda a construir a nossa sociedade e economia em bases duradouras. Estamos orgulhosos da tradição de abrir os braços para os necessitados, dos refugiados húngaros nos anos 1950 aos boat people vietnamitas nos anos 1980, aos mais de 40.000 sírios hoje. Continuaremos acolhendo os refugiados e desempenhando um papel de liderança para reorganizá-los.
Depois Brexit, o futuro da União Europeia está em jogo nas próximas eleições em diversos países. O senhor vê o possível fim da União como uma oportunidade ou uma ameaça para o Canadá?
O Canadá e a União Europeia se orgulham de uma relação forte, que se tornou mais forte com a recente assinatura do acordo Ceta. Juntos, Canadá e União Europeia criaram um acordo padrão-ouro, que servirá de modelo para as relações comerciais revigoradas em todo o mundo. O Ceta responde à ansiedade crescente de que o sistema atual beneficiará apenas uma pequena elite, colocando a classe média canadense e europeia na frente de tudo. A história demonstrou que as políticas comerciais abertas e os mercados são a melhor maneira de criar postos de trabalho bons e bem remunerados para a classe média, ajudar as empresas a se tornarem mais competitivas e impulsionar o crescimento econômico.
O Ceta faz exatamente isso. Ele vai colocar comida nas mesas das famílias, tornará mais fácil e mais barato para as empresas competirem e criará bons postos de trabalho para a classe média em ambas as margens do Atlântico. Junto com a União Europeia, continuaremos sendo os defensores dos acordos comerciais progressistas, que mostram os benefícios de um mundo mais aberto e interconectado, e criam oportunidades melhores para a classe média.
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"Acolhida e solidariedade: assim desafiamos o terrorismo." Entrevista com Justin Trudeau - Instituto Humanitas Unisinos - IHU