18 Novembro 2016
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-RS), tornou-se o centro das atenções da delegação brasileira desde que chegou na Conferência da ONU sobre o Clima (COP22), na última terça (15).
A reportagem é de Ana Carolina Amaral, publicada por Folha de S. Paulo, 18-11-2016.
Em sua sequência de declarações que desagradou entidades ligadas ao clima, o ministro afirmou que "a agricultura brasileira é a mais sustentável do mundo, todos os rios são protegidos por uma legislação. Mas, mais que a legislação, são protegidos pela consciência dos produtores brasileiros".
Em outra ocasião, questionou quem iria pagar a conta da proteção ambiental nas propriedades rurais brasileiras –estimadas em US$ 40 bilhões. As mudanças vão desde controle do desmatamento até troca de fertilizantes.
Mas a afirmação que mais gerou repercussão foi a que atribuiu assassinatos de ambientalistas e mortes em conflitos de terra a "problemas de relacionamento". "Quando você vai no cerne da questão, vai ver que tem problema de relacionamento de pessoas de determinados lugares e que não podem ser computados nesta questão", disse ele na quarta (16).
A resposta das organizações brasileiras que acompanham a COP aconteceu nesta quinta (17). Em carta lida em evento da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e entregue ao ministro no final do dia, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, relembrou e respondeu cada uma das frases.
Rittl disse que o Cadastro Ambiental Rural, instrumento previsto no novo Código Florestal, ainda não está funcionando para monitorar a "consciência" dos produtores.
A carta ainda afirma que para haver o dinheiro necessário à agropecuária de baixo carbono, "bastaria que os produtores rurais pagassem suas dívidas" com o Plano Safra, que em 2016 destinou R$ 202 bilhões ao financiamento do setor, cuja inadimplência histórica média é de cerca de 5%.
Sobre a declaração de Maggi a respeito de mortes no campo, a carta cita dados da ONG Global Witness de que um terço das 150 mortes de ambientalistas em 2016 aconteceram no Brasil, a maioria delas na Amazônia.
"Olha que boa notícia, 150 mortes, morreram 50 ambientalistas a menos; ontem não falavam em 200?", respondeu o ministro, que convidou o Observatório do Clima a debater as questões em seu gabinete na volta ao Brasil, mas não fez ressalvas sobre suas declarações.
Para Rittl, "afirmar que esses óbitos se devem a 'problemas de relacionamento' pode ser comparado ao negacionismo climático expresso pelo presidente eleito dos EUA, como quando disse que o aquecimento global é invenção dos chineses para tornar a indústria do EUA menos competitiva."
Sobre os US$ 40 bilhões para as mudanças na agricultura, o ministro foi lembrado pela reportagem que as metas brasileiras do Acordo de Paris são "incondicionais". "Não contem com [a verba do] Ministério da Agricultura", respondeu.
No mesmo evento, Maggi levou um puxão de orelha da diretora de agricultura do Banco Mundial, Ethel Sennhauser. "A partir de 2020, a transição no setor energético para tecnologias de baixo carbono fará com que o setor da agricultura seja apontado como o maior contribuinte para as mudanças climáticas", apontou Sennhauser.
Para os ambientalistas, as afirmações de Maggi, que também é um dos maiores produtores de soja do mundo, formam um conjunto de "pérolas". Para simbolizar a indignação com que receberam as declarações do ministro, jovens brasileiros da ONG Engajamundo entregaram a ele um colar de pérolas no fim da conferência.
Questionado sobre o presente, Maggi respondeu que não entendeu o porquê da brincadeira, mas que repassaria o colar para sua filha.
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'Problemas de relacionamento' matam ambientalistas, diz ministro da Agricultura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU